terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

EDUCANDO O PROFISSIONAL REFLEXIVO: ANÁLISE DA OBRA DE DONALD SCHON

EDUCATING THE REFLECTIVE PROFESSIONAL: ANALYSIS OF DONALD SCHON'S WORK
Maria Helena da Silva Meller

Resumo:

Esse texto procede da leitura da obra de Donald Schon, Educando o profissional reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem, fazendo a sua análise a partir das teorias de Paulo Freire. Portanto, uma pesquisa descritiva, cujo procedimento técnico é bibliográfico. Partiu da problemática: como educar o profissional para o século XXI, um egresso que requer mais que técnicas e sim uma formação para agir com autonomia nas contradições do mercado de trabalho? Objetiva-se analisar a obra como indicação no aprimoramento da performance dos docentes de cursos profissionalizantes. Em específico, busca-se compreender a importância de uma formação baseada em um ensino reflexivo. Ainda, elencar os elementos indicados pela obra no aprimoramento do processo ensino-aprendizagem e suas interrelações no cotidiano de uma escola profissionalizante. A proposta de Schon permite àquele que ensina, em qualquer ambiente, consentir que o aprendiz reconheça sua ignorância e desenhe seu projeto.


Palavras-chave: Formação profissional. Reflexão-ação. Designer.


1. INTRODUÇÃO


O tema deste trabalho resulta das buscas teóricas na ânsia de contribuir na formação docente dos profissionais liberais que se atreveram adentrar no universo escolar. Venho constatando, por meio do contato com este grupo de profissionais, que seu conhecimento acadêmico e sua prática em seu local de trabalho, quer em escritórios, consultórios, entre outros, não são o suficiente para propiciar, em suas aulas, uma metodologia capaz de subsidiar o estudante a buscar em si o desejo da pesquisa, da ação, de refletir sobre suas buscas. Portanto, como educar o profissional para o século XXI, um egresso que requer mais que técnicas e sim uma formação para agir com autonomia nas contradições do mercado de trabalho?

A obra de Donald Schon, neste momento, me traz um alento e um desejo em aprofundá-lo. Objetiva-se analisar a obra Educando o Profissional Reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. SCHÖN, Donald A., como indicação no aprimoramento da performance dos docentes de cursos profissionalizantes. Em específico, busca-se compreender a importância de uma formação baseada em um ensino reflexivo. Ainda, elencar os elementos indicados pela obra no aprimoramento do processo ensino-aprendizagem e suas interrelações no cotidiano de uma escola profissionalizante.
Esse texto decorre da leitura da obra indicada, fazendo a sua análise a partir das teorias de Paulo Freire por ser um educador brasileiro. Esta pesquisa em sua classificação, em nível de objetivo é descritiva, abordando o problema de forma qualitativa, cujo procedimento técnico é uma pesquisa bibliográfica.
Em Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire (1996) faz uma série de indicações para que o docente consiga propiciar ao estudante situações de aprendizado que levem à autonomia intelectual. Sendo este um dos objetivos previstos na maioria dos planejamentos de cursos profissionalizantes.
Segundo Gil (2002 apud OTANI, 2004) a pesquisa busca respostas aos questionamentos elencados, contudo exige racionalidade e sistemática, ou seja, procedimentos objetivos e exequíveis. Entende-se que a leitura e compreensão de um texto é condição para a sua análise.

2. COMPREENDENDO O TEXTO E O CONTEXTO

A visita a uma obra que te enfeitiça dificulta a compreensão, pois temos que tomar um distanciamento para poder fazer a leitura a partir do olhar do autor.
A obra Educando o Profissional Reflexivo, de Donald Schon, divide-se em quatro componentes, sendo subdividida em doze capítulos. Compreendendo a necessidade do talento artístico na educação profissional é a sua primeira chamada à reflexão.
Falar em formação profissional nos remete a uma visão tecnicista de educação. Porém, a obra nos incita a uma desconstrução destes parâmetros formatizados, propiciando uma reflexão a partir de um olhar humano, criativo. A atualidade necessita de especialistas, formação com habilidades e competências, capaz de atender as demandas do mercado de trabalho. Contudo, Schon afirma que este profissional nem sempre encontrará em seu arsenal as respostas certas para cada situação. Pois são situações diferentes, portanto exigem respostas díspares.
Schon (2000) utiliza o termo talento artístico profissional para referir-se aos tipos de competências e, esse, deve ser ensinado por meio da reflexão na ação. Não sendo essas competências fáceis de conseguir explicá-las na realidade, sem incorrer na possibilidade de fragilizar, ou omitir o que de fato se sabe fazer. Este saber fazer, se sente e não se explica. Assim, quando um docente consegue ensinar o seu aprendiz a se apropriar de uma habilidade, perpassando por tal talento. e não pela questão da teoria, fez uma grandiosa ação.
A expressão conhecer na ação, para o citado autor, são conhecimentos que são ações perceptíveis, observáveis, contudo a explicação não corresponde ao fato. É o processo tácito, implícito. Diferentemente, a reflexão na ação leva a constatações, pois pensa criticamente sobre o que está fazendo e modificando as estratégias, se necessários. Conhece o processo em que está imerso.
Para se considerar a prática profissional há que considerar as convenções partilhadas por uma área profissional e, o conhecer na prática, demanda estar no ambiente profissional, onde se executa determinada profissão em particular. Portanto, o ensino prático passa pela simulação, sob a orientação de um instrutor. Devem-se propiciar situações em que o estudante passe a pensar como um médico, advogado, por exemplo, diante dos problemas, a fim de resolvê-los. Pois necessita criar uma percepção de como aquele profissional reagiria diante de determinado quadro, problema a ser resolvido.
Essa asseveração vem ao encontro de Freire (1996) em Pedagogia da Autonomia, que faz suas reflexões acerca de como propiciar situações em que o estudante seja ao autor de sua teoria, a partir de sua prática. Que transcende à simples simulação, demonstração e sim perceber a importância da ação como ato social, contextualizado. Saber o que está fazendo, por que, para que, como e qual a repercussão deste ato em sua realidade.
Em cursos técnicos, quer em nível médio ou superior, por vezes, o docente não possui formação pedagógica, passando para o aprendiz as informações que estão previstas em seu planejamento. A proposta de Schon permite àquele que ensina, em qualquer ambiente: laboratório, em campo, em aulas de música ou mesmo em um ateliê de arquitetura, admitir que o aprendiz reconheça sua ignorância e desenhe seu projeto.

3. “O ATELIÊ DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS COMO MODELO EDUCACIONAL PARA A REFLEXÃO NA AÇÃO”

O autor, referendado neste texto, traz, por meio do modelo ateliê utilizado em cursos de arquitetura, a ratificação da possibilidade em utilizar uma metodologia que consinta o diálogo.
Inicialmente o aluno não entende e nem poderia entender o que significa o projeto. (...) e o instrutor não tenta explicar tais coisas (...) porque elas somente podem ser compreendidas na experiência real do projeto (SCHON, 2000, p.73).

O ateliê de projetos, segundo as orientações de Schon (2000), estabelece um paradoxo se comparado ao processo ensino aprendizagem conforme o conhecemos. O autor cita o personagem Mênon, de Platão. No diálogo com Sócrates, esse induz o personagem a descobrir suas próprias perguntas por meio de questionamentos, ou seja, em princípio nem Mênon sabe o que deseja saber. Assim, o estudante em um ateliê de arquitetura, não sabe exatamente que projeto deseja desenvolver, contudo pela habilidade do instrutor em elaborar as perguntas certas, faz com que cada estudante pense sobre as possibilidades, cria o seu projeto e não simplesmente segue as orientações do instrutor.
O processo de elaboração de projetos com a reflexão na ação perpassa por todo um ritual. Passa pela compreensão do docente de como problematizar a questão, o projeto, a fim de fazer com que o aprendiz reflita sobre os elementos postos, o que deseja propor? Qual o ambiente? O que o suposto cliente deseja? Buscando alternativas teóricas para a resolução dos problemas, neste caso desenvolvendo autonomia.
O estudante tem uma percepção de seu projeto a partir dos seus conhecimentos. Quando apresenta ao instrutor, esse, no dizer de Schon, se afirmar que o estudante está errado não perceberá e nem levará o estudante a perceber que é apenas uma hipótese. Pois para que o aprendiz abra seus horizontes com relação às outras possibilidades, deverá ser instigado pelo instrutor e para isso o diálogo entre instrutor e estudante é fundamental. Levar o estudante a percorrer mentalmente a sua ação, pensar no que fez e porque e não no objetivo, resultado desejado. O estudante precisa se dar conta de seus avanços, construir seu aprendizado, se auto educar.
Esta proposta de mediação na qual o estudante desenvolve seu potencial a partir do diálogo, fazendo com que o mesmo reflita sobre a sua ação, demanda do instrutor um conhecimento ampliado sobre a metodologia para não incorrer em erros que são extremistas. Ou se isentar do processo, por medo de induzir o estudante, ou inibi-lo, ou ainda indicar os passos, que o professor presume terão sucesso. E o estudante não fazer a contradição, opor-se por não concordar e ou não entender. Diálogo, portanto nesta visão tem que haver a compreensão por parte do estudante daquilo que o instrutor deseja que esse perceba. O aprendiz, por vezes, nem sabe o que procura e o instrutor, por sua vez, não sabe o que dizer para se fazer entender.
O ensino prático reflexivo, de fato, para desenvolver as habilidades profissionais necessárias, deve privilegiar o pensamento dos estudantes. Dependem das habilidades também do instrutor em mostrar ao aprendiz o que ele procura, o que é um projeto adequado.
A reflexão na e ou sobre a prática e a questão da dialogicidade nos remetem a Freire (1996), principalmente quando se trata de performance, design, criação. O referido autor trata desta questão mostrando a importância que o ato de ensinar deve ter estética, não é uma simples transmissão de informações. Os autores envolvidos no processo, por meio do diálogo, demonstram humildade, pesquisa, rigorosidade científica, pois não é devido estar em um ateliê e ser por meio da conversação que não haja rigorosidade, não pode haver rigidez. Contudo, há a intencionalidade do instrutor em tentar desvelar com o aprendiz o seu projeto, o seu designe. Demanda de ambos, habilidades em lidar com o diálogo.

4. ENSINO PRÁTICO REFLEXIVO: EXEMPLOS E EXPERIÊNCIAS:

A presente obra de Schon traz por meio das experiências em ateliê de arquitetura, em aulas de piano, em consultório de psicanálise, as possibilidades de atuação utilizando-se da reflexão na prática, no designer do profissional, do talento artístico. É sobre este viés que discorre este capítulo.
Ao pensar no processo ensino aprendizagem, embora haja no discurso pedagógico, inovações afirmativas de paradigmas transformadores da sociedade, destarte, por vezes, reduzimos nosso conceito de ensino à sala de aula convencional. Contudo, existem vários espaços dedicados ao ensino.
O ensino reflexivo cunhado por Schon demanda muita experiência daquele que ensina. Sendo a experiência um conjunto de experimentos, um arsenal de determinada área, uma atividade importante é estar atento a relatos de experiências de profissionais competentes. É neste viés que se percebe a seriedade deste componente da obra do referido autor.
Nesse sentido, Freire (1996) enfatiza a importância da competência para quem ensina. E vai além, afirmando que ensinar é uma especificidade humana, ou seja, carece de segurança e generosidade. Pois a autoridade com que o professor expressa sua competência promove um ambiente de diálogo, ao contrário do autoritarismo, da arrogância de quem pensa que tudo sabe.
Schon, na obra ora analisada, indica a ideia do ensino prático reflexivo também na aprendizagem da música, por meio de um exemplo de um instrutor de piano e seu aprendiz. Que tipo de intervenção é possível sem usar de autoritarismo, sem cair na pura técnica? Pontuando como estabelecer um diálogo, estudante instrutor, baseado na confiança e, também, na rigorosidade, haja vista ter o objetivo de tocar uma música ou participar de uma orquestra.
Na medida em que o aprendiz demonstra o que sabe, o instrutor tem a visão do todo, do quanto ainda o estudante necessita se dedicar e avançar para chegar ao ideal, para tanto faz as intervenções, ora incentivando, ora indicando as fragilidades, ora fazendo o aprendiz perceber seus “erros”. A cada lição, instrutor e aprendiz lado a lado, exercitando, desenhando a trajetória, permeada pela comunicação que faz com que o estudante perceba a sua ação, reflita sobre a sua prática. O estudante precisa educar seu ouvido, distinguir sons, ritmo, o toque no teclado do piano, o tempo de cada nota. O instrutor deseja fazer com que o aprendiz execute a sua tarefa tal qual a ideia projetada para esta ação.
Não é uma tarefa fácil de executar, ensinar com rigorosidade, sem autoritarismo, e ao mesmo tempo fazendo as intervenções necessárias. Necessita de cumplicidade, pois não é só uma empreitada artística, demanda técnica, o instrutor não pode abafar o talento e, sim, fazer com que o estudante desvele, ouça a música que vem de seu coração e que pode traduzi-la no piano.
Comparando a postura de ambos: os instrutores que ensinam em ateliê de arquitetura e os maestros, o que há de comum é a relação que se estabelece entre docente e discente, o diálogo, respeitoso e compreensivo. Saber o que o estudante sabe, como ele aprende e onde necessita chegar. Instrutor saber se está se fazendo entender, orientar sem podar a criatividade de seu discípulo.
Schon traz mais um exemplo em sua obra, no sentido de propiciar uma reflexão das possibilidades em executar sua metodologia. Agora o talento artístico da prática psicanalítica.
Sem dúvida é necessário, levar a reflexão para as percepções que temos das profissões e de como a sociedade vem ensinando, formando seus profissionais. Pois ensinar em um ateliê de arquitetura, onde permeia a questão da arte e em aulas de piano, fica mais fácil a percepção da implantação desta proposta, a reflexão sobre e na prática, considerar os conhecimentos tácitos. No entanto, trazer à tona as profissões designadas como fundamentais ou mais importantes pela comunidade, até acadêmica, desenvolvendo tal proposta, para muitos pode levar à falta de competência, do desenvolvimento das habilidades necessárias, ainda sem respeito à uma especialização, de fato, técnica. Contudo, o crucial é que a proposta proporciona ao aprendiz o pensar como ... (advogado, administrador, psicanalista) este é o grande salto, pois apresenta de forma explícita que a prática transcende a simulação.
O autor traz a psicanálise como mais uma demonstração da possibilidade de aplicar a reflexão sobre a prática, por meio de um trabalho construcionista. Sabemos que a psicanálise ou qualquer outra escola de psicologia tem várias divergências teóricas, históricas e epistemológicas, no entanto, não faz parte da capacidade deste texto.
O trabalho do psicanalista diverge do fazer do arquiteto que trabalha com desenhos e instrumentos, sua relação com seu cliente é por meio de um projeto, assim como um músico que se relaciona com seu público através de seus instrumentos. Não obstante, um psicanalista ou psicólogo tem uma relação subjetiva e, porque não dizer de intersubjetividade com seu cliente. Por meio de encontros sistemáticos, ritualizados irá elaborando com o cliente sua busca, desvendando seus conflitos. Sem dúvida que, como em qualquer outra profissão, existem técnicas para a sua prática de consultórios. No entanto, pela proposta de Schon, os encontros do psicoterapeuta com o seu cliente, do supervisar com o psicoterapeuta têm uma conotação diferente das práticas atuais, dessa natureza. Nesse caso, o mediador entender e promover no outro a percepção do que não sabe do processo e o que precisa aprender. 
No mesmo sentido, ainda, ouvir sem estereótipos, conhecer o trajeto escolhido, ter consciência durante o tempo todo da caminhada que estão fazendo. Com intencionalidade, o designer, com arte. Conhecimento científico, no entanto, sem ser mecânico. Portanto, é possível na relação supervisor-terapeuta, terapeuta-paciente, respeitadas as teorias científicas, apresentar um novo designer para o processo de diálogo no desenvolvimento do procedimento de trabalho destes profissionais.
Na mesma proposição metodológica o autor sugere este trabalho com profissionais da área da administração por meio de aconselhamento e consultoria através de encontros nos quais os estudantes em número de 15 a 20 possam refletir sobre a sua prática, entretanto não uma discussão meramente técnica, mas de auto avaliação sobre as suas atitudes. Sendo um processo lento, pois os estudantes devem perceber suas visões cristalizadas, aceitar seus erros, os pontos de vista de outros, pois o ser humano, ainda, está muito arraigado a sua compreensão, tendo dificuldade em assumir de forma humilde a percepção dos colegas sobre as suas atitudes.
Certamente o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao século XXI passa pela auto avaliação dos sujeitos, pois a técnica desvinculada da forma de fazer os encaminhamentos em uma empresa, ir ao encontro da missão, trabalho cooperativado, isto tem um grande impacto nas empresas na atualidade, respeitando ainda, o processo de desenvolvimento dos sujeitos.
Vale destacar aqui os Quatro Pilares da Educação, os quais em 1994, Delors relata em um documento, Pistas e Recomendações da Comissão reunida, solicitada pela UNESCO. Nele indica que a educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser.
Aprender a conhecer, por entender que educação acontece ao longo da vida, também significa: aprender a aprender. Aprender de suas próprias experiências, o século XXI necessita mais do que profissionais competentes, esta é a ênfase do pilar aprender a fazer. Perceber que há uma interdependência entre os seres vivos no quesito ambiental e cultural, há que se Aprender a viver juntos, entre e com os diferentes e os iguais com respeito e cuidado. O conceito atual mais utilizado em empresas e escolas é a autonomia, portanto, aprender a ser, desta forma a formação do cidadão deve pautar-se na responsabilidade, investindo em suas potencialidades, respeitando os vários níveis e modalidades de conhecimentos.
Portanto, para o desenvolvimento de uma metodologia proposta por Schon demanda uma transformação de paradigmas, não somente um treinamento de profissionais.

5. “IMPLICAÇÕES PARA O APERFEIÇOAMENTO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:”
Nesta última parte da obra, o autor retoma sua reflexão sobre a crise de educação profissional na atualidade. Norteia sua fala com as seguintes questões (SCHON, 2000, p.221):
• “Quais são as dinâmicas características de um ensino prático reflexivo?
• Como elas se assemelham ou diferem de um campo de prática para outro?
• Quais as principais questões, processos e competências envolvidos em fazer bom o trabalho de um ensino reflexivo?”
Para a introdução desta proposta há que se questionar a compreensão, filosofia e missão da instituição com relação à formação de seus egressos, ainda, se é uma escola técnica ou universidade. ”Inerente à situação problemática da escola profissional está um relacionamento de dois níveis, com os mundos da prática e da universidade como um todo” (SCHON, 2000, p.224).
Schon indica outra preocupação, a dicotomia, a separação da visão tecnicamente racional das disciplinas e a visão dos profissionais que se utilizam, do que Paulo Freire define como práxis, reflexão ação-reflexão, ou seja, o conhecimento de fato de todo o processo, pesquisando a própria prática.
O autor enfatiza duas etapas que ocorrem nas instituições, de pendendo de seu designer: “o Dilema Institucionalizado entre Rigor e Relevância; e o Jogo de Pressão” (2000, p.226). O primeiro diz respeito à falta de tempo que as disciplinas curriculares têm para serem desenvolvidas levando em consideração a reflexão sobre a prática. As faculdades divididas em departamentos, as disciplinas isoladas, cada professor com sua autonomia. Esta estrutura não permite o ensino reflexivo, pois demanda uma aproximação entre docentes, quebra de uma grade curricular isolada, mudança de metodologia, ou seja, outra política institucional. No entanto, o autor faz uma observação para que não se chegue ao extremo oposto, o trabalho somente com a prática, segregado das disciplinas.
Quanto ao Jogo de Pressão, há uma política em algumas universidades para aceitação de professores para cargos de chefia se estiverem ou não dentro do padrão estipulado, negando oportunidade para muitos que embora tenham competência, não defendam a linha teórica do departamento no caso, há um discurso de pluralidade teórica e de autonomia docente, destarte está atrelada a determinadas condições, tolhendo a liberdade do docente.
Diante do contexto, o autor faz as seguintes sugestões:
• "O dilema dos profissionais, sujeitos às limitações da liberdade de ação de seus ambientes organizacionais, deveria ser trazido para dentro do currículo profissional.
• Agora, é mais urgente do que nunca desenvolver conexões entre ciência aplicada e a reflexão-na-ação.
• Há uma necessidade de criar ou revitalizar uma fenomenologia da prática que inclua, como componente central, uma reflexão sobre a reflexão-na-ação dos profissionais em seus ambientes organizacionais” 2000, p.234).
Schon é enfático ao afirmar que para assumir sua proposta de trabalho, o docente deverá estudar sua própria prática, questionando se há disposição deste profissional para tal questão.
A obra de Donald Schon traz em seu último capítulo uma experiência em reforma curricular dentro de sua perspectiva de prática, na década de mil novecentos e setenta em M.I.T. Escola de Arquitetura e Planejamento.
O currículo para Sacristan (2000, p. 17) “reflete o conflito entre interesses dentro de uma sociedade e os valores dominantes que regem os processos educativos”. Diante disso, se verifica que modificar uma matriz curricular não se trata de uma tarefa simples, pois envolve questões políticas e culturais. Pois “os currículos (...) pretendem refletir o esquema socializador, formativo e cultural que a instituição escolar tem”. (SACRISTAN, 2000, p. 18).
Diante ao exposto, torna-se compreensível a narrativa indicarem na experiência os conflitos, angustias desconfianças, pois se está propondo algo novo que foge ao convencional, seguro, conhecido. Há uma divisão entre profissionais e estudantes. A comunidade acadêmica apresenta muitas dúvidas, pois na medida em que a construção inicia, as dúvidas aumentam, lembrando que toda proposta de um novo currículo deve passar por um comitê que avalia o projeto.
Não obstante a experiência testemunhou a escrita de duas obras porque a partir de 1982 quando o currículo foi aprovado, várias foram as lições: professores atuando juntos na mesma sala aprendendo uns com outros, fazia-se a síntese dos conteúdos conceituais, descobriu-se conexões entre disciplinas, estudantes trabalhando em grupos desenvolvendo competências genéricas. Muitas intenções cumpriram-se outras não. Diante desta mesma situação muitos reagiram de forma antagônica, pois sentiam-se isolados de outros grupos na instituição. Pela falta de conhecimento ou não aceitação da proposta havia descontinuidade no processo, devido troca a de professores. Estudantes que não tinham conhecimento prático buscavam intensamente nas leituras o conhecimento teórico faltando tempo para reflexão, queixavam-se do cansaço, o que leva o autor a ponderar que talvez esta proposta deva ser aplicada no decorrer da carreira profissional, como formação continuada.
Compreende-se que sua proposta é mais que uma inovação no processo ensino aprendizagem, é um comprometimento com uma educação que busca desenvolver um profissional com conhecimentos técnicos, respeitando seus conhecimentos tácitos, promovendo um ambiente de pesquisa, de perguntas, de reflexão, mais do que respostas.

6. CONCLUSÃO

A partir da leitura da obra de Schon é possível fazer algumas asseverações sobre outras possibilidades de ensino no ambiente dedicado a esse.
A importância de uma formação baseada em um ensino reflexivo se faz necessário na sociedade atual, pois essa busca mais que bons técnicos, está a procura de profissionais que tenham possibilidades de criar diante dos limites. Que consigam pensar sobre o que está executando, que vejam nos erros oportunidades e hipóteses de dar continuidade ao projeto, às pesquisas.
O autor narra questões práticas, vivências, o que o torna diferente de muitos autores academicistas que elaboram suas teorias a partir de outros teóricos. Assegura o autor que para o desenvolvimento desta proposta, refletir sobre a reflexão na ação, necessita o docente um conhecimento amplo sobre a sua prática, não somente em nível técnicos. Demanda, ainda, uma alteração no compreender currículo não somente como um amontoado de disciplinas, contudo que cada disciplina propicie o pensar, desafie os estudantes a buscar respostas, alternativas, criar a partir de seu projeto.
Conclui-se, a partir deste estudo, que há probabilidade de propiciar no processo ensino aprendizagem, uma alternativa aliando o conhecimento teórico com o prático rompendo com esta visão dicotômica que ainda persiste nos cursos profissionalizantes. Desenvolvendo assim, a criatividade de docentes e estudantes para, diante das instabilidades do mundo do trabalho, oferecer possibilidades diversas. Vale citar Freire (1996) que indica, para ensinar é necessário haver ética e, também, estática, deste modo, a boniteza do aprender.

7. REFERÊNCIAS
DELOERS, Jacques. Os Quatro Pilares da Educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. 8ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESC, 2003. p. 89 – 102.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
OTANI, Nilo. Metodologia do Trabalho Científico. Criciúma, SC: ESUCRI, 2010.
SACRISTAN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed. 2000.
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

COORDENADOR PEDAGÓGICO ATUAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

                                                            Maria Helena 


                    A história da educação é rica com relação as suas transformações. No que se refere aos seus dirigentes, para cada contexto histórico, os valores determinam as formas e normas vigentes, inclusive as relações interpessoais, em todas as instituições e a escola não poderia ficar ausente deste assunto.
                  As várias alterações sofridas na estrutura e funcionamento das instituições escolares, decorrentes de legislação, e questões sócios culturais, esboçam na atualidade um perfil que, ainda, busca uma definição. Pois, embora a escola seja uma organização, não é designada como empresa. Mesmo com funcionários e prestadora de serviço, seu papel social são a condiciona ao funcionamento de uma empresa. Porquanto, os papeis sociais exercidos por seus colaboradores obedecem a perfis alcunhados por outras literaturas.
                 Por menor que seja a escola, ela cumpre o mesmo papel, proporcionar o processo ensino aprendizagem, por isso está atrelada a uma série de leis, constituição federal, LDB, ECA, lei de acessibilidade, entre as leis complementares. Estando localizada em determinada comunidade estabelece uma relação com os moradores, comercio e demais instituições em seu entorno. Ainda, estabelece relacionamento, internamente com os estudantes, pais, professores e funcionários. Sendo o articulador principal de uma unidade escolar a equipe diretiva, quer composta apenas por um profissional ou tendo uma equipe composta por assessores e demais técnicos, como psicólogos, orientadores, supervisores ou coordenadores pedagógicos.
                A atualidade exige da escola mais que transmissão de informações, porquanto seus profissionais devem possuir alem de uma formação técnica de excelência, um perfil de pesquisador. No contexto atual as transformações são instantâneas e com pouca durabilidade. O que exige dos gestores escolares estarem a frente das informações, tendo conhecimentos de toda ordem.
               Este texto definirá o profissional aqui descrito como coordenador pedagógico, aquele que vem assumindo a vida na escola no quesito pedagógico: planejamentos, avaliação, relações interpessoais,...
Primeiramente este profissional deve conhecer-se saber de suas potencialidades e fragilidades, para tentar superá-las, ou seja, uma boa relação intra pessoal. A seguir uma relação interpessoal saudável, para tanto, utilizar da empatia nas relações que são estabelecidas no ambiente escolar, com seus pares, professores, direção, estudantes, pais e comunidade externa.
              O coordenador pedagógico diariamente está envolvido em conflitos, não se entendendo como brigas e sim como divergência de ideias entre as pessoas, cabe a ele fazer a mediação de forma respeitosa, independente de hierarquia. Ser autoridade, sem utilizar do autoritarismo. Assim, deve ser ético, responsável e conhecedor de suas funções.
Uma de suas atribuições é orientar o professor quanto ás questões pedagógicas da instituição, desde a sua chegada. Acolher o professor apresentar-lhe a escola suas políticas e normas, as formas de planejamento.

Alguns passos fundamentais:

• Acolher o professor desde seu início na instituição;
• Ouvi-lo em suas dúvidas e não simplesmente falar;
• Mostrar-lhe o organograma da escola, apresentando-lhe as pessoas com suas respectivas atribuições;
• Apresentar-lhe o Regimento, indicando deveres e direitos de estudantes e professores;
• Indicar o Projeto Pedagógico – e está diretamente ligado a sua função – teoria de aprendizagem de acordo com a proposta curricular, formas de elaborar o planejamento, como proceder com a avaliação processual.
• Legislação com relação a assiduidade dos estudantes
• Atribuições fora da sala de aula: conselho de classe, eventos, Mostras, Feiras, conversas com pais, reuniões pedagógicas, entre outros;
• Deixar claro que, mesmo o professor tendo muita experiência em outras instituições, esta é nova para ele, portanto deve conhecê-la para elaborar o diagnóstico, saber de sua cultura e rotina para fazer as intervenções de forma coerente.
• Colocar-se a disposição para qualquer dúvida.

Perfil profisssiografico/personológico para exercer tal atribuição;

• Honestidade
• Sinceridade
• Humildade
• Observador
• Organizado
• Fazer uso de empatia
• Saber ouvir sem esteriótipos
• Conhecedor de sua função
• Estar atualizado
• Pesquisador das questões pertinentes a sua atribuição
• Voltar atrás quando errar
• Saber trabalhar em equipe
• Administrar conflitos, harmonizando com tranqüilidade
• Tratar as pessoas com cortesia
• Respeitar todos, independente de cargo, função ou conhecimentos
• Fazer encaminhamentos e devoluções aos envolvidos
• Cumprir prazos e planejamentos
• Saber planejar
• Ser paciente nos processos, sem ser passivo
• Passar tranqüilidade e segurança para sua equipe
• Ser ético e justo;

Atribuições

Coordenador de curso


• Conhecedor da LDB, Lei Complementar e demais normas e resoluções de seu curso;
• Domínio das diretrizes curriculares nacionais de seu curso;
• Conhecedor do PPP e Regimento Escolar;
• Ser o elo entre direção e docentes;
• Definir com sua equipe o perfil de egresso a partir de documentos legais;
• Elaborar em conjunto o planejamento de curso;
• Orientar na elaboração dos planos de ensino, plano de aula, preenchimento do diário de classe dos docentes de seu curso;
• Acompanhar o desempenho dos docentes;
• Participar do pré conselho de classe;
• Acompanhar trabalho da OE referentes a estudantes de seus curso;
• Se interar de questões de conflitos entre docentes; e docente e estudante;
• Cumprir e fazer cumprir as combinações coletivas.
• Participar e coordenar eventos, Mostras, Feiras, conversas com pais, reuniões pedagógicas, entre outros de seu curso;

Coordenador de laboratórios/ateliês

• Conhecedor do PPP e Regimento Escolar;
• Conhecedor das matrizes curriculares dos cursos (devido conteúdos/prioridades);
• Responder por todas as atividades, tarefas, problemas deste espaço;
• Elaborar calendário de utilização do espaço, cumprindo e fazendo cumprir;
• Manter atualizado instrumentos e recursos necessários;
• Conservar instrumentos e recursos em bom estado de utilização;
• Cumprir e fazer cumprir as normas daquele ambiente;
• Executar os encaminhamentos necessários a sua atribuição;
• Manter seus superiores informados da condução de suas tarefas.
• Participar de reuniões pedagógicas,

O coordenador pedagógico e a formação continuada

             O coordenador, pelo fato de ter uma atribuição que lhe permite contato com todos os docentes e equipe diretiva, por meio de sua observação, deve ser capaz de detectar dificuldades e fragilidades no processo, elaborando assim possibilidades de estudos para este grupo. Indicando textos, leituras, reuniões de estudos ou mini cursos, partindo sempre das necessidades do grupo.
            Pensar em formação continuada, não necessariamente tenha que encaminhar os docentes para eventos fora da instituição, contudo permitir o encontro dos mesmos, que possam partilhar suas dúvidas e socializar sua prática, o que dando bons resultados.

             Concluindo, a equipe composta pelos coordenadores, deve pautar-se no PPP para ter uma prática única, no sentido que não haja divergência em orientações normativas e políticas da instituição, pois isso pode fragilizar a própria equipe, perdendo credibilidade diante do quadro de docentes e estudantes. Deve reunir-se com freqüência, iniciando pela organização do calendário e planejamento geral da escola no início do ano.
         Organizar um grupo de estudos para problematizar suas questões transformando em necessidades e ações. Estudar a própria prática a fim de aprimorá-la. Criando um código de ética entre colegas para que não haja “panelas” dentro da equipe.
            A função de um coordenador na instituição escolar na atualidade é um desafio edificante, pois traz inúmeras possibilidades de desenvolvimento como profissional e como ser humano.


Baseado nas leituras:

Sandra Nicastro, Marcela Andrezzi; Asesoraimento pedagógico em accion –
Tardif Maurice, Saberes docentes e formação profissional –
Eliane Bambini Gorgueira Bruno (org); O coordenador pedagógico e a educação Continuada –
Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia.