terça-feira, 9 de julho de 2013

Observações de uma pedagoga sobre educação escolar


Maria Helena da Silva Meller


Recentemente em uma palestra, ouvia da docente sobre as famílias desestruturadas da atualidade. Todavia, é necessário fazer uma reflexão sobre esse termo, para que esse conceito seja compreendido contextualmente.
A família do século XXI ganhou uma estrutura diferente daquela do início do século XX. Quando utilizamos o termo “des”estruturada é porque estamos comparando a uma estrutura padrão, previamente conceituada.
Com todas as transformações da sociedade advindas da industrialização, mulher/mãe no campo de trabalho e ou direitos adquiridos pela mulher, faz com que a família queira se modernizar.  Alargando limites, minimizando deveres de seus filhos devido a “culpas”, em nível inconsciente, por estar muito tempo fora de casa, para adquirir todos os confortos necessários para esta estrutura familiar.
A TV, os colegas e a rua assumiram a educação dessas crianças e adolescentes. O psicologismo, não a psicologia, para a manutenção do mercado cria na mídia novos modelos de relacionamentos. Respeito, limite, autoridade ficou fora de moda e muitos pais e ou responsáveis quiseram se “modernizar”.
Não trarei ao texto o contexto sócio econômico, cultural, a expansão do uso das drogas, a percepção desta como doença e a recepção do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA por educadores – pais e profissionais.
O que quero dizer é que devemos aceitar o novo cenário, isso não significar aceitar como  correto. Cabe ao docente perceber esta família real, concreta, a que existe no século XXI, não a que fantasiamos, é necessário estudá-la para poder abranger e fazer a intervenção, por meio do ensino escolar, da forma mais adequada.
Devido a esta necessidade, existe na matriz curricular dos cursos de licenciatura disciplinas como: psicologia, sociologia, filosofia e didática, pois somente a vocação não fornecerá subsídios para intervir no processo, e fazer o ensino acontecer. Contudo, tais disciplinas não permitem a reflexão necessária para a compreensão da dinâmica de tais famílias.
Outro ponto que chamou a atenção na palestra foi a questão da vocação. É necessário, sem dúvida, que esse profissional tenha uma aptidão, um perfil: gostar de pessoas, de desafios, ser pesquisador. Demanda habilidades, percepção, empatia, estudo continuado, independe do nível em que atua.  A docência na universidade não justifica a formação permanente, apenas para este nível de atuação, por ter uma remuneração mais justa. Ser docente é uma profissão quer na educação infantil ou na pós graduação. A remuneração deve acontecer de acordo com a legislação em todos os níveis, pois o trabalho com a educação infantil e com as séries iniciais carece de um conhecimento técnico e pedagógico. Quanto mais novas são as crianças, mais específicas são suas características e necessidades, portanto mais conhecimento sobre o que e o como ensinar deve ter o docente.
Deste modo, ao falar do docente e suas mazelas, o professor não pode perceber a situação como determinada, e sim em transformação. Há o momento da queixa, no entanto deve haver um movimento e mobilização para que a categoria se fortaleça. Seus estudos devem estar pautados na legislação ao qual pertencem, é o mínimo.
Para planejar suas aulas o docente precisa conhecer: o PPP da Instituição, Regimento Interno, Proposta Curricular e Lei complementar de seu Sistema. Para planejar a “a escola” ainda, ECA, LDB, Lei de acessibilidade e Const. Federal.
Essa reflexão serve para contribuir com docentes que conhecem superficialmente a educação escolar e seus meandros. Seu cotidiano, a diferença que há entre o discurso acadêmico e a escola concreta. É o chão da escolar que oferece, por meio da reflexão sobre a prática, um conhecimento capaz de fazer a aproximação com a epistemologia acadêmica.