terça-feira, 15 de outubro de 2013

O QUE ESPERAR DO DOCENTE NO CONTEXTO ATUAL?


Maria Helena da Silva Meller



A escola vem ao longo da história cumprindo vários papeis. Entendendo escola como leis, documentos, cultura, equipe diretiva e docentes. Ainda, estudantes, família e a comunidade do entorno.
No momento em que a escola teve a função de redentora, como se pudesse formar um cidadão, por meio de suas aulas, e o mesmo ao chegar à sociedade pudesse transformá-la, acabou desconsiderando outros indicadores sociais, culturais e econômicos. Passado esse momento, percebido que a escola é mais UMA instituição e não A instituição, sua herança ainda permeia muitos discursos com relação ao educandário.
Diante do exposto, vale questionar: qual o papel da escola na atualidade? Qual a expectativa da sociedade com relação à mesma? Quem faz a escola? Qual a expectativa dos estudantes em relação à instituição e dessa com relação aos estudantes?
Todos os documentos legais, desde a esfera federal aos projetos da própria instituição, trazem verdadeiros tratados sobre os direitos dos aprendizes no exercício da cidadania, com relação à escola.
Assim, vamos à prática, são duzentos dias letivos, quatro horas de aula diárias, para a formação de um sujeito que exerça a sua cidadania, não são apenas os conteúdos científicos que o favorecem. É a vivência dos valores culturais e sociais, do respeito a si, aos demais seres vivos, da autonomia moral e intelectual. Porquanto, quem ensina precisa, por sua vez, vivenciar tais atitudes. No entanto, quem são os docentes na atualidade?
Qual a formação acadêmica de tais profissionais? Há uma aptidão para essa profissão ou foi a que mais se aproximou de suas condições econômicas? Quantos livros conseguiu adquirir e ler durante sua formação. E suas especializações? Atualizações? Quais condições os sistemas oferecem a esses docentes para que consigam compreender as questões de legislação? Qual o papel do MEC e do CNE?
Qual a diferença entre DCN e PCN, qual se constitui lei? Qual a autonomia de um Sistema, o que é uma Rede? O que é currículo? Avaliam-se as competências, as habilidades, mas quais, quem as define? Para que serve o conselho de classe participativo, coletivo se os planejamentos são elaborados individualmente, com quesitos e indicadores por disciplina?
Como desenvolver um trabalho interdisciplinar se não conseguem planejar multidisciplinarmente? Qual a diferença entre interdisciplinaridade e transversalidade?
Prioriza-se o ensino científico ou se ensina para a vida? Qual vida? Os conteúdos escolares não são para a vida? No caso não sobra tempo para ensinar as crianças da classe popular questões elementares de boa convivência, questões sociais que as crianças de outras classes aprendem em casa com a família. Essa é uma afirmativa que ouço com frequência dos docentes.
Vejamos, artes desenvolve o olhar sensível, a estética; matemática, a lógica, o raciocínio, assim como a filosofia, a análise. A língua mãe ensina a falar, compreender e interpretar. A educação física o conhecimento do corpo físico, ser sujeito, sua relação com o ambiente. As diferentes áreas têm suas contribuições. No entanto, o docente deve compreender isso. Um estudante que lê, compreende, interpreta, analisa e sintetiza irá compreender textos em contextos de história, geografia, ciência... Portanto qual a importância da área de conhecimento no momento atual deste adolescente, jovem ou criança? Em que medida a metodologia adotada contribui para o desenvolvimento de habilidades necessárias para o aprendizado de conteúdos de qualquer espécie? Como diagnostica e acompanhar o desenvolvimento deste estudante?
Como esse professor irá planejar suas aulas se os documentos na escola não foram elaborados com a sua participação? Como é possível afirmar?! Basta raciocinar: um docente com tantas turmas, trabalhando em duas ou três escolas diferentes conseguem planejar suas aulas, atendendo todas as metas, planejamentos, documentos legais, se nem sempre os conhece?
O docente atual, neste contexto, tem um discurso fabricado de acordo com o que conseguiu formular em sua formação acadêmica. Porém, não percebe o hiato o qual distancia sua prática de uma teoria pregada nas universidades, em cursos de Licenciaturas.
Há uma proposição de metas enormes sobre a educação escolar. Tentando “tirar” os atrasos históricos, destarte se fala de pessoas e não de máquinas que podem ser aceleradas. Trabalhar initerruptamente até que tenham falhas e sejam concertadas e/ou substituída por outras.
Sou docente há trinta anos, não estou descrevendo um quadro onde o docente é um profissional frágil e ignorante por natureza. Estou afirmando que a conjuntura atual do país com relação à educação escolar faz com que no interior da instituição, que é o espaço reservado ao ensino, tudo que está previsto em tantos documentos oficiais não são passíveis de pôr em prática na escola concreta, por docentes concretos. A não ser pelos docentes idealizados por muitos legisladores, que pouco entendem de crianças, adolescentes, classe popular e periferia, conhecem por meio de pesquisas, ou visitas em tempos de eleição. Então fica fácil pensar que com tablets e horas atividades o professor, como em um passe de mágica possa compreender todo o contexto político e cultural em que está imersa a escola e passe a fazer milagres na escola.
Está mais que na hora de chamar para a discussão o docente que está no chão da escola. Não somente representantes sindicais e políticos oportunistas. Busquem prestar mais atenção no cotidiano de uma instituição. O porquê das agressões, dos fracassos, reprovações, doenças dos docentes. Pais invadindo escolas, estudantes deixando mensagens nos muros escolares.
Sem dúvida temos muitas unidades escolares que conseguem cumprir seu papel social, no entanto é tão excepcional que chegam a ser manchete de periódicos. O que deveria ser a regra acaba sendo a exceção. Temos inúmeros docentes que não encontram pares para fazer uma reflexão coletiva, porque o colega está tão cansado que deseja sair correndo para casa.
Entendo que haja uma questão de cultura institucionalizada, de clima organizacional descrente que vem sendo fomentada por muitos que desejam que a situação assim continue, pois não tem como identificar os incompetentes que aí se inserem. E a questão se perpetua.  
Para romper com o que está posto, primeiro há que se admitir o quadro, de fato como é. Considerar as estatísticas, porém utilizar outros instrumentos avaliativos por região. Ouvir docentes. Não polarizar ou a educação está péssima ou está ótima e sim perceber as prioridades a partir dos projetos de cada instituição, fazendo uma síntese para uma Rede e para um Plano Municipal de Educação. sem tradutores, ou seja, doutores sem nunca terem posto o pé em uma escola pública, mas para tudo buscam uma justificativa científica, pautada em pesquisas de outros países.
Temos que pensar a escola agora, pois os adolescentes e crianças ESTÂO aqui hoje. Amanhã já terão formadas suas personalidades. O dinheiro todo investido em educação, se de fato, for utilizado por quem entende de escola, com certeza será aplicado nas prioridades.
Outra questão: há uma vontade política? Sim, pois o país necessita de indicadores positivos com relação á educação escolar. No entanto, quem tem coragem de buscar o início do novelo e começar a desenrolar? tirar o lixo de debaixo do tapete? Fazer a faxina. É mais que investimento financeiro é coragem de assumir uma politica educacional, de fato. É priorizar não por meio de discurso, e sim por meio de ações.



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

IDEB E FUNDEB: AVANÇOS E RETROCESSOS


Maria Helena da Silva Meller


Quando o IDEB passou a fazer parte do contexto educacional brasileiro, muitos educadores se posicionaram terminantemente contra o mesmo. A história da educação no Brasil em seus meandros não possibilitava qualquer crédito, pois se conhecia as possíveis consequências, competição entre as instituições, instrumentos padronizados para um país com a extensão geográfica do Brasil e, principalmente, multicultural. Ainda, modelo copiado e exigido do exterior.
Um país como a Finlândia, por exemplo, em que sua educação é tida como exemplo não utiliza esse tipo de avaliação, pois não acredita na mesma, e a vê como desnecessária, ou ainda, um desserviço.
Luckesi, grande educador e especialista em avaliação no Brasil, vê um ponto a favor, pois “mexeu” com educadores e sistemas.
A questão do FUNDEB extrapola o tema somente com o IDEB, pois perpassa por questões de cultura, em que o Brasil, a assunto de gestão democrática está muito longe da teorizada. Em que medida um país onde há indicações político partidárias pode vivenciar a democracia em suas instituições?
O poder legislativo, em nível federal não tem o conhecimento do que acontece no “chão” das UEs, pois como foi exposto o IDEB é generalista. Por sua vez, em nível municipal, temos representantes que desconhecem as leis federais para adequá-las à regionalidade. Lembrando que temos os Conselhos de educação que, por vezes, são ocupados por oportunistas, desconhecedores e descomprometidos com a educação.
Portanto, essas duas siglas IDEB e FUNDEB são ótimas políticas em países cujas ações concretas, de fato, decorressem de metas elaboradas e compreendidas pelo coletivo. Um exemplo disso é a CONAE.

Quantos educadores conseguem contextualizá-la política, histórica e pautada na legislação?