terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CURRÍCULO: PERCEPÇÕES PARA A PRÁTICA DOCENTE




Luana Tramontin[1]
Maria Helena Meller[2]


Resumo

 O tema deste artigo trata das percepções no campo do currículo e busca saber quais os benefícios de se ter um currículo eficaz no campo escolar e como ele vem sendo costurado ao longo do processo de ensino e o papel do professorado frente aos paradigmas do currículo. A arte de educar e pesquisar demonstram formas diferentes de serem manejadas frente às escolas. Por isso a importância em se fazer currículo nas instituições escolares. O currículo é a trajetória, é o caminho que se constitui para cada grupo, em cada realidade escolar. O currículo precisa visar incumbências da realidade de cada instituição. O que caracteriza atitudes curriculares é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação num exercício de pensar, num construir. A pesquisa foi cometida com base no estudo bibliográfico buscando analisar as inovações incrementais do processo da construção do currículo na escola, apresentando-se o conceito de currículo enquanto arte ligada ao desenvolvimento e a percepção que educadores obtêm sobre o favorecimento no desenvolvimento educacional.


Palavras-chave: Currículo. Instrumento. Conhecimento. Formação.


1 INTRODUÇÃO


Ao buscar entender as transformações que o currículo proporciona para escola e seus colaboradores, encontra-se a relação com o cotidiano da realidade escolar de cada povo. Ao longo da história, o homem vem representando a sociedade ou para a sociedade através de um currículo formas de se planejar.
Neste sentido, oportuniza-se trabalhar diferentes segmentos curriculares, se o professorado conscientizar-se que pesquisar e entender o currículo, não só como disciplinas isoladas e sim como um meio transdisciplinar, para então trazê-lo como caminho a ser percorrido. Organizar o currículo é atribuir sentido para uma nova prática, ou seja, é possibilitar uma operação entre a intenção e a ação.

Moreira (2003, p. 19) afirma que “o currículo é um instrumento significativo para desenvolver os processos de conservação, transformação e renovação dos conhecimentos”.

Tendo em vista, as possibilidades que o currículo propicia para a prática escolar, o presente artigo é tecido, visando evidenciar a importância de se conhecer e fazer currículo na instituição escolar.

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica como metodologia, onde os autores abordam e ampliam a discussão da temática. “a pesquisa parte [...] de uma dúvida ou problema e, com uso do método científico, busca uma resposta ou solução” (CERVO; BERVIAN, 2002, p.63).

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos [...] busca conhecer e analisar as contribuições culturais existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. [...] constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa científica (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 65-66).

Buscou-se então através de documentos teóricos fazer a evidenciação da atuação do currículo na escola e, relacionar teoria e pratica neste contexto escolar.


2 CURRÍCULO: DEFINIÇÕES


Segundo Andrade (2007) a palavra curriculum possui origem latina e significa curso, rota ou caminho a ser percorrido. Há várias definições de currículo, pois ele deve constituir-se a partir da realidade escolar de cada grupo. Currículo necessita visar incumbências da realidade de cada instituição.

Pensando currículo na perspectiva de conduzir os trabalhos educacionais, pressupõe-se que ele representa a síntese de conhecimentos e valores, pois “o currículo nos níveis de educação obrigatório pretende refletir o esquema socializador formativo e cultural que a instituição escolar tem” (SACRISTAN, 2000 p. 43).

Escola e educadores por meio á pesquisas bibliográficas observam o currículo como uma caminhada construída historicamente, o currículo estruturado e pensado para transcender atividades a serem realizadas pelos educadores e educandos, passa a ser uma caminhada pautada em pilares consistentes atrelados a uma educação qualificada.

O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas (GRUNDY, 1987 apud SACRISTAN, 2000).

O currículo não pode ser fragmentado apenas a um documento didático, seu aspecto é bem maior e abrange uma gama de caracteres do âmbito educacional e social simultaneamente, essa relação significa uma organização das experiências humanas em prol da prática educativa, porém seu conceito abrange diversos seguimentos da educação.

Desenvolver currículo nas escolas precisa antes de tudo de uma ressignificação de que não é só a escola que detém conhecimento, fatores externos também geram cultura e conhecimento. Esse distanciamento se deve à própria seleção de conteúdos dentro do currículo e a ritualização dos procedimentos escolares, esclerosados na atualidade (SACRISTAN, 2000).

Segundo o referido autor o currículo é o trajeto ao contexto educacional, mas para compreender seu significado devem-se conhecer as estruturas internas que estão ligadas ao enquadramento político, à divisão de decisão, ao planejamento, a tradução de materiais, ao manejo por parte do professorando das tarefas de aprendizagem e a avaliação dos resultados.


2.1 COMPILAÇÃO: A CAMINHADA DA CONSTRUÇÃO DAS TEORIAS CURRICULARES
Nos anos mil novecentos e noventa segundo Moreira (2000) vinculam-se perspectivas para o currículo no Brasil. Estudos apontam que o currículo talvez não mais exista como campo articulado e coerente de pesquisas e praticas. O currículo está minimamente ou quase nada programado para o chão escolar, teoria e prática não condizem com a realidade das instituições escolares.

Estudos realizados por Moreira (2000) através de pesquisas com um apanhado de autores visam às massas literárias, porem elas pouco se aproximam dos professores e da escola. Buscam teorias, mas deixam de lado a fertilidade dessa produção na resolução de problemas de ordem pratica.

Precisamos pensar currículo para que de fato sejam favoráveis aos educandos. Segundo Moreira (2000), sabe-se que o conhecimento se constrói em rede. É esta ideia que precisa subsidiar os currículos da formação de professores, tendo-se em mente a prática é construída com conhecimentos apontados por seu próprio desenvolvimento.

A complexidade da questão curricular transcende a teoria e a prática de currículo. Como argumenta Feldman citado por Moreira (1996), a questão do currículo pode ser debatida teoricamente, mas o problema do currículo somente pode ser resolvido praticamente. O sistema nos impõe um currículo fechado a disciplinas, sem autonomia de mudança. Essas ideologias não “podem” ser rompidas, porém educadores devem achar caminhos para driblar o sistema imposto buscando autenticidade no currículo para se fazer na sua instituição escolar.

Não podemos nos fechar ao embate de que o currículo é restrito a listas de disciplinas e conteúdos, passa-se a uma visão de currículo que abrange praticamente todo e qualquer fenômeno educacional, ou seja, o currículo torna-se tudo ou quase tudo (FELDMAN, 1996).

O currículo aberto precisa ser pensado de forma que vise construção de conhecimento e conscientização e que promulgue a importância da escola ser estruturada curricularmente. O currículo deve fazer ponte com a realidade social de cada instituição de ensino, transcrevendo assim, um currículo versátil e que atinja as necessidades escolares.

O mesmo autor comenta que escola e currículo não podem ser analisados sem referência aos contextos mais amplos que os envolvem; bem como de crença na importância da escola no processo de construção de uma sociedade mais democrática e mais justa e sem compreender tais dinâmicas e esferas se inter-relacionam no currículo e na escola. “O conceito de currículo adota significados diversos porque, além de ser suscetível a enfoques paradigmáticos diferentes, é utilizado para processos ou fases distintas do desenvolvimento curricular” (SACRISTÁN, 2000, p. 103).

Pesquisadores promulgam a ideia de que a teoria basta para se fazer currículo na escola. Tais estudos podem ajudar professores a desenvolver à capacidade de analisar criticamente os interesses ideológicos e políticos, buscando vivenciar as teorias na realidade escolar. Assim, o sistema escolar estará construindo currículo no qual teoria e pratica se confrontem e gere resultados positivos, focado em uma perspectiva multicultural, “qualquer tentativa de organizar uma teoria coerente deve dar conta de tudo o que ocorre nesse sistema curricular, vendo como a forma de seu funcionamento num dado contexto afeta e dá significado ao próprio currículo” (SACRISTÁN, 2000, p. 103).

A pesquisa teórica e empírica realizada por educadores e a comunidade escolar junto com uma reestruturação de currículo, pensando na sua evolução nesta caminhada, transformará o currículo em fonte de educação de qualidade.


3 CURRICULO E A FORMAÇÃO DE EDUCADORES: ESTABELECENDO RELAÇÕES


O currículo é um processo de produção direcionado á prática docente, envolvendo a formação cotidiana do individuo. Verificam-se então os entreves do currículo, pois o cientifico nem sempre atingi o dia a dia.

O professor é o principal agente de significância ao currículo. Autores como Sacristan (2000), Moreira (2000), transmitem em suas obras a importância da formação do professor, destacando que o professor não é apenas um executor do currículo como ferramenta e sim um construtor deste subsídio, que baseia a educação. Porém é de extrema importância a formação do professor.

A formação do professor não costuma ser das mais adequada quanto ao nível e a qualidade para que estes possam abordar com autonomia o plano de sua própria prática. Com certeza porque tecnicamente não esteja bem estruturada e desenvolvida, mas talvez também parta do pressuposto que tal competência possa ser substituída por outros meios (SACRISTAN, 2000).

A escola no todo precisa de uma formação/visão para ampliar a práxis pedagógica, para que ela se torne significativa e perpasse para além de um currículo pautado em disciplinas e sim um currículo aberto que percorra os caminhos do saber. Para isso, uma das possibilidades é “educar pela pesquisa” (DEMO, 2002, p.1).

O currículo [...] está estreitamente ligado com o conteúdo da profissionalização dos docentes. O que se entende por bom professor e as funções que se pede que desenvolva dependem da variação nos conteúdos, finalidades e mecanismos de desenvolvimento curricular. No currículo se entrecruzam componentes e determinações muito diversas: pedagógicas, politicas, práticas administrativas, produtivas de diversos materiais, de controle sobre o sistema escolar, de inovação pedagógica, etc. Por tudo o que foi dito, o currículo, com tudo o que implica quanto aos seus conteúdos e formas de desenvolvê-los, é um ponto central de referencia na melhora da qualidade do ensino, na mudança das condições da pratica, no aperfeiçoamento dos professores, na renovação da instituição escolar em geral e nos projetos de inovação dos centros escolares (SACRISTAN, 2000, p. 32).

Em síntese, há um avanço na produção de conhecimento teórico, porém educadores precisam minuciar a teoria para desenvolver uma pratica pautada em um currículo dinâmico, aberto. Sacristan (1998) rejeita o ponto de vista de que a pratica seja diretamente derivada da aplicação ou da adoção de conhecimentos teóricos.
Para Sacristan (1998, p. 34) a razão não pode tanto:

[...]. Não é o efeito da aplicação de teorias cientificas concretas: ou, ao menos, não é apenas nem fundamentalmente o resultado dessa aplicação. Na pratica projetam-se elementos teóricos, mas não se pode compreendê-la somente recorrendo a tais elementos.

O referido autor traz indagações de que o professorado precisa compreender e repensar a articulação teoria-pratica no campo do currículo, para então facilitar o desenvolvimento da capacidade prática. “O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula” (MOREIRA, 2000, p.19).

Freire (1996) também traz indagações de que para se fazer currículo é absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (FREIRE, 1996, p. 14).

O referido autor frisa que o professor é um eterno pesquisador, que aprende a aprender, buscar, ir além do que as escolas propõem, se reeduca enquanto educa. “Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo, educo e me educo” (FREIRE, 1996, p.14).

Enfim, o professor pesquisador detêm o poder de se embasar teoricamente sobre currículo, e transformar em sua pratica um currículo que traga incumbências para a realidade de sua escola, obtendo então um currículo vivo, dinâmico, transdisciplinar, o caminho de se fazer pesquisa.


4 CURRÍCULO E LEGISLAÇÃO


As discussões a cerca do currículo já veem sendo constituídas desde os anos mil novecentos e noventa, mas ganha força com a implementação da LDB que ressalva alguns pontos para se fazer e trabalhar o currículo na escola. Os artigos 26 e 27 da LDB depois de retomada ao texto a conselheira Edla de Araújo Lira Soares pronuncia que:

[...] a base nacional comum interage com a parte diversificada, no amago do processo de constituição de conhecimentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidenciando a importância da participação de todos os segmentos da escola no processo de elaboração da proposta da instituição que deve nos termos da lei, utilizar a parte diversificada para enriquecer e complementar a base nacional comum.

Moreira e Candau (2006) compilam significados ao currículo e constatam que o currículo não é somente grades isoladas, as experiências populares também ajudam a se fazer currículo na escola. Art. 9º § 2º das diretrizes curriculares é constituído por “experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumulados para construir as identidades dos estudantes”.

A partir deste embate agrega-se a politica curricular com a politica cultural, pois o currículo é fruto de um sistema de produção de saberes. As reflexões teóricas sobre currículo preveem os princípios educacionais como referência. Os referidos autores e o art. 11 no inciso V ainda ressaltam que são inúmeros fatores que influência a vigência de currículo na escola tais como, ensinar, pesquisar, valorizar a experiência extraescolar, fazer uma ponte entre os saberes escolares e o entendimento social, um espaço de ressignificar e recriar a cultura herdada.

A revisão teoria a cerca do currículo se faz com riqueza em palavras e argumentos, até ditam meios de como trabalhar currículo nas escolas, mas é, visível que se os professores não tiverem a vontade de investigar, conhecer como em pratica fazer a teoria de currículo, pouco vamos ver essa ferramenta sendo utilizada.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A partir das leituras é possível inferir que no currículo se sistematizam nossos esforços pedagógicos. Moreira (2003 p. 19) e Candau (2003, p.19) escrevem que “o currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos”.  
O percurso histórico revelou que a trajetória do currículo ao longo dos tempos, se deu em busca de desenvolver métodos que possibilitem uma educação transdisciplinar, que evidencie desde os conhecimentos empíricos do aluno ate aprimorá-los com os conhecimentos escolares.

A prática do currículo na escola pode trazer para o educando e toda comunidade escolar mais possibilidades de descobrir, questionar e opinar as situações vivenciadas no dia a dia. Além de se tornarem seres pensantes e pesquisadores, desmistificando aquele currículo em vitro, sem rupturas e dando espaço para um currículo dinâmico.

Construir currículo nas escolas obtém benefícios elencados no tecer do texto, mais quanto á construir o pensar currículo em prol a benefícios se propaga o investimento que muitos teóricos e educadores demonstram em querer uma escola viva, com mudanças, sentimentos, criando e recriando.

Esta pesquisa teve o intuito de compreender o currículo, suas funções e seu significado, há de se considerar que as escolas, além do sucesso escolar, devem ser estruturadas e planejadas para garantir o uso e a eficácia do currículo na escola.

Por fim, tece-se que é necessária a formação e a pesquisa por parte dos educadores, para que possam ouvir a voz dos alunos e da comunidade escolar e social, transcrevendo um currículo como ferramenta educacional.


6 REFERÊNCIAS


CANDAU, Vera Maria (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.


CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. 5 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.


COSTA, Marisa Vorraber (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Currículo na Contemporaneidade: Incertezas e Desafios. Cortez, 2003.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa (Org.). Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, 1997.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação.  2003.


PERES, Annabel Cristini Feijó et al. Trilhando os caminhos da transdisciplinariedade: uma experiência de ser-sendo. 1 ed. São Paulo: Laborciência, 2007.


SACRISTAN, Gimeno J. O Currículo, uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.




[1] Pós-Graduanda em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. E-mail: lutramontin@gmail.com
[2] Mestre em Educação. E-mail: mhsmeller@gmail.com