segunda-feira, 22 de junho de 2015

PLANEJAMENTO DE ENSINO: COMO ELABORAR OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Teaching planning: how to elaborate general and specific objectives
Maria Helena da Silva Meller

Muitas são as produções sobre planejamento escolar. Planejamento educacional, de curso, de ensino, de aula, entre outros. Destaca-se o diagnóstico como parte essencial e, de fato, sem esse não há como planejar. Ou confundir o diagnóstico com o mero levantamento de dados, também compromete o planejamento. Contudo, esse texto tem como foco a elaboração de objetivos, por perceber a limitação de muitos docentes, ao elaborar o objetivo, apenas observando o verbo inicial.
A avaliação da aprendizagem, com seus recursos, critérios e indicadores está intimamente ligada à elaboração dos objetivos. No entanto, os professores, em sua grande maioria, não tem essa clareza. Como avaliar o que o estudante se apropriou, se não há definição dos objetivos por aula? São específicos para aquela aula. Esses objetivos específicos devem desenvolver qual objetivo geral?
Um instrumento avaliativo, fiel e bem-sucedido, deve abarcar os conteúdos ensinados, de forma explicita. Portanto, objetivo específico, ou seja, a operação mental, a competência, a habilidade que o estudante deve desenvolver com cada conteúdo, compreender, analisar, diferenciar....
O objetivo para ser designado geral e/ou específico, não depende somente do verbo utilizado e, sim do contexto, da quantidade de tempo necessário para o seu desenvolvimento. Exemplo de verbo utilizado com frequência como específico: diferenciar, diferenciar qual elemento? Diferenciar ambiente natural de ambiente social. Para qual série? Idade? O que estudaram anteriormente? Em apenas uma aula é possível apreender sobre os dois ambientes e, ainda, diferenciá-los? Supõe-se que foram, no mínimo, duas aulas anteriores para compreender - caracterizar –  ambiente natural, após a síntese do que é um ambiente natural, os mesmos objetivos para o ambiente social. Para que o estudante consiga a operação mental diferenciar, deverá ter caracterizado cada um, identificando as diferenças.
Um componente curricular tem o seu objetivo geral, a razão de ser na matriz curricular. Exemplo língua portuguesa, (não sou desta área, me desculpem colegas desta, professores) existe um grande objetivo que perpassa as quatro habilidades, ler, escrever, ouvir e falar. Um objetivo geral ficaria mais ou menos assim:
Ø  Compreender a importância da língua portuguesa como instrumento de comunicação, capaz de desenvolver a leitura, a escrita, a fala e o ouvir, perpassando os vários elementos que sustentam tais habilidades.
         Observe, o objetivo deve ser direto, claro, não necessita justificativas.
·         Justificativas são utilizadas em outras situações de planejamentos, assim como percentuais.
Percebe-se que esse objetivo desenvolve-se ao longo da disciplina, ou seja, quando o estudante egressa do ensino médio, deverá Compreender (.......) pois não é possível desenvolvê-lo em apenas um, dois ou até três anos, haja vista a extensão de conteúdos desta disciplina. Logo, quais seriam os objetivos deste componente curricular, para a educação infantil? As séries iniciais? Para as séries finais do ensino fundamental? E para o ensino médio?
Faça o mesmo exercício para o seu componente curricular, ou disciplina, ou módulo.
Quando o referido docente tem o objetivo geral para esse componente (isto está no projeto pedagógico da Escola) é esse que servirá de base para que os demais professores elaborem os seus objetivos gerais, para as séries iniciais, finais e médio. Portanto, o objetivo geral de cada nível, se comparado ao geral passa a ser específico. Essa compreensão é fundamental ao docente.
Vejamos o objetivo geral da língua portuguesa: (específico se comparado ao geral)
Ø  As séries iniciais – compreender a importância social da escrita e da leitura .– portanto ensina-se ler, escrever textos variados. Compreender diferentes tipos de literaturas, linguagens...
Ø  Cada uma das séries deverá elaborar o objetivo para aquele ano escolar, sem perder de vista o objetivo das séries iniciais e nem do componente curricular GERAL.
Ø  Cada série terá o seu objetivo que denominará GERAL, pois desenvolverá em um ano. Porém, se comparado ao GERAL do componente curricular, será específico.

Isso vale para qualquer outra série, disciplina ou módulo.
Ao elaborar o seu planejamento, o docente deverá perceber o tempo para desenvolvê-lo. O ideal seria um planejamento único daquele componente para a escola inteira. Obviamente, cada educador ministrando os conteúdos de acordo com as características de sua turma.
Quando trato de um planejamento único, me refiro ao GERAL, pois se o componente curricular é o mesmo, como no exemplo: língua portuguesa, em uma determinada instituição, o que irá modificar são as estratégias, procedimentos de acordo com a idade dos estudantes das turmas. A própria metodologia, como parte de uma teoria de aprendizagem é a que está prevista no PPP, assim, como a avaliação, ainda, seguindo os dispositivos de legislação.
A partir do planejamento geral do componente, cada professor elabora o seu, de tal modo, facilita a coerência, a continuidade no desenvolvimento da disciplina. Igualmente, evita-se rupturas, fragmentação, sobreposição de conteúdos. Sem dúvidas, ratificando a necessidade do diagnóstico em cada turma.
De acordo com o diagnóstico e com o plano geral da série (organizado a partir do GERAL do componente curricular) elabora-se o plano de aula.
(Entendo as dificuldades que o docente enfrenta, tempo para planejar, a escola concreta, isso faz parte de outros escritos.)
Lembrando que, para elaborar o objetivo de uma aula, se deve saber a quantidade de tempo, 40 minutos, 90...deixamos tarefas - dever de casa para ser “corrigido”, etc?...para o desenvolvimento de cada objetivo, quanto tempo? Isto é imprescindível, porquanto, reforçando é a operação mental que o estudante desenvolverá nesta aula, no caso, aqui ESPECÍFICO. Devendo estar destacado no plano escrito, isto facilita na hora de elaborar os instrumentos avaliativos.
Fica evidenciado, portanto, antes de pensar no verbo – se geral ou específico – devemos lembrar que verbo é ação, neste caso ação do apreender, compreender, analisar, verificar, sintetizar, O objetivo está sempre focado no estudante.
Para verificar se o objetivo específico está coerente com o geral do ano letivo, ou de um conteúdo maior, ao final da redação pergunte – para quê? Exemplo:

Identificar a terra com um planeta do sistema solar, sendo nesse planeta que habitamos. Para que? Para compreender o sistema solar como um conjunto de planetas, asteroides e cometas que giram ao redor do sol por força gravitacional exercida pelo astro.   No caso, esse seria o objetivo geral, porque não se esgota em uma aula. O objetivo geral, sempre que responder de forma coerente ao específico, este estará redigido de forma correta.
                     
Sabe-se e aprendemos que (Alguns) objetivos gerais iniciam:
ü     Esse programa objetiva Contribuir na formação...........
ü     Este espaço pretende Propiciar situações...
ü     Esse projeto visa Assegurar ambiente de troca......
Geralmente são objetivos utilizados em projeto, sendo esse, também, uma forma de planejamento. Contudo, observe que cabe ao projeto “manter” as situações para que as ações – verbos – sejam desenvolvidas.
O planejamento escolar deve pautar-se mais no estudo da realidade, no diagnóstico, simplificar sua escrita para que seja aplicado, de fato. Observo, por vezes, educadores, presos ao ato de planejar, como uma “simples” redação de palavras “bonitas”, “diferentes” descomprometidas com a ação docente. O planejamento, com seus objetivos, servem para organizar e orientar o fazer cotidiano da docência.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Aprendizagem (escolar): Por quê? Para quê?

Maria Helena da Silva Meller


A maioria dos cursos de licenciaturas, em instituições de ensino superior, oferecem disciplinas onde se ensina como acontece a aprendizagem do ser humano, a partir de teorias variadas, da psicologia, da pedagogia, tendências: comportamentalismo, ambientalismo, inatismo, interacionismo, entre outras.
Os cursos de especialização, pós graduação, focados na educação trazem novamente tais teorias, demonstrando o como acontece a aprendizagem. Adentrando no curso de psicologia, aprofunda-se, também, no porquê acontecem os problemas de aprendizagens, dificuldades, causas e possibilidades. Ainda, estuda-se muito sobre indisciplina escolar, várias são as monografias com tais temas.
Esse texto pretende focar no ensino médio das escolas públicas, devido últimas observações, entrevistas com alunos e docentes, ministrar cursos para esse grupo de profissionais que trabalham com tais estudantes.
 Muitas investigações de formandos em licenciatura trazem as “falas” de um percentual de docentes, o suficiente para ser considerado científico. Trazem observações em sala de aula. Alguns questionários para estudantes. Ou seja, comprovadamente científico, comparando as respostas com o que tratam os teóricos, na maioria das vezes, de países com um contexto sócio, econômico e político bastante diverso do Brasil.
Muitas respostas dos docentes não condizem com sua prática, (o que pensa, pois uma das práticas docentes é o pensar,) concorda com o que estudou na universidade. Isso fica evidenciado em várias pesquisas acompanhadas.
A questão do comparar os aportes teóricos, as teorias com a prática, há que se observar outros elementos. Pergunta-se muito como se inicia a aprendizagem ou por que não aprende. Dificilmente pergunta-se por que e para que se aprende. Ao invés de motivos do indisciplina, mudar para causas das salas disciplinadas.
Nesse grupo de estudantes das escolas públicas o que chama a “regra” são as salas onde os docentes sentem muita dificuldade em ministrar suas aulas e a exceção são as salas disciplinadas com estudantes apostos para aprender.
Entendo o papel social da escola, o compromisso com a ciência, entendo o compromisso do docente no século XXI, conheço legislação, o direito do “ser em desenvolvimento”, ECA, LDB, Constituição Federal, nós docentes conhecemos. E os estudantes desejam ter esse direito à aprendizagem, garantido? Para isso aí estão os Conselhos Tutelares, Ministério Público e os pais, responsáveis para dizer a eles seus direitos, devem usufruir, mesmo que não desejem, pois um “dia irão entender”.
E incentivam os docentes: aulas dinâmicas, mudança de metodologia, ser autoridade e não autoritário, fazer contrato pedagógico, combinações, entre tantas questões aprendidas em cursos de formação.
Alguém já perguntou o sonho desses meninos e meninas? Daqui cinco, sete anos...? em uma pesquisa de cunho exploratório, de 50 estudantes entrevistados, a maioria trabalhando, grande parte nunca pensou no assunto. Juntando a isso, docentes que, na tentativa de ajudar, dizem aos estudantes da dificuldade de chegarem à universidade, principalmente pela falta de vontade desses, em estudar.
A escola pública apresenta várias precariedades, falta de docentes, recursos inapropriados e mais a falta de compromisso dos alunos, isso é notório, é sério e real. Contudo, convém trazer à discussão a bagagem cultural de tais estudantes. Perceber os indicadores: expectativa da família, da sociedade, dos docentes e dos próprios alunos.
Quais seus sonhos? O que representa a escola em suas vidas? Para que aprender? Por que tais conteúdos?
Ultrapasso a discussão onde deve se explicar a utilização de cada conteúdo. Trato da escolarização como um todo. Em que medida a escola faz parte dos seus desejos, se esses nem sabem quais seus sonhos. Isso faz muita diferença.
Autores da psicologia tratam da questão do desejo para aprender. Não me refiro que a cada aula, o docente tenha que “estimular” o estudante para determinado conteúdo.
Quais motivos o estudante percebe nos aprendizados de física, química, etc,? é como se a escola caminhasse paralelo à sua vida. Sabemos que linhas paralelas não se encontram.
A questão é mais complexa que simplesmente rever diretrizes curriculares. Quem frequenta “cursinho” pré-vestibular é somente quem tem um ótimo poder econômico, ou outros indicadores, também, estão presentes? Desejo do estudante, expectativa da família, da sociedade, entre outros. Não é somente a metodologia diferenciada que faz o estudante “aprender”, não são as questões engraçadas, o lúdico para a memorização, é um conjunto que envolve a cultura, o entorno, os valores, a linguagem...
Cem anos atrás, a escolarização era para todos? quem tinha acesso à ela? Era obrigatória? No caso, quem estava na escola? aqueles com dificuldade?  precisavam trabalhar? que não gostavam da escola? aqueles cujas famílias não acreditavam em seu papel social?
Com a massificação da escola, direito outorgado constitucionalmente, TODOS, ou quase todos estão ocupando os bancos escolares, são estudantes de todo jeito, de várias culturas, com vocabulários diversos, valores que vão contra muitos princípios pedagógicos.
Em princípio, parecem grupos antagônicos, a cultura escolar versus o aluno concreto, no entanto percebemos ser mais fácil reproduzir a sociedade do que buscar as verdadeiras causas e enfrentar as consequências. É mais simples a alienação, onde a maioria participa do pacto, do que apurar evidencias ocorridas com os estudantes, docentes, legislação... tentar desvendar os bastidores da educação pública brasileira. Buscar em seu interior a realidade de que a escola, conforme a temos, está deficiente para poder trabalhar com esse grupo. Esse contexto lembra muito a “fábula dos porcos assados”. – contrata-se vários especialistas para manter o fogo na floresta para assar os porcos, quando, na verdade, seria simplesmente tirá-los da floresta para assar em uma churrasqueira. Mas como justificar tantos planos, projetos, pesquisas, dinheiro...?