quinta-feira, 6 de outubro de 2016

FORMAÇÃO CONTINUADA EM TRABALHO: OS GESTORES COMO FORMADORES

Apresentado no - II CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO: POLÍTICAS DE FORMAÇÃO NOS PAÍSES IBERO- AMERICANOS (UNESC) 
                                                                                                 
                               GT: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES



Julia Helio Lino Clasen
Maria Helena da Silva Meller

Resumo: A problemática deste artigo baseia-se nas limitações de docentes cuja formação inicial demanda um conhecimento pedagógico, aborda, o papel dos coordenadores pedagógicos na formação continuada dos profissionais. O local da investigação foi o IFSC - Instituto Federal de Santa Catarina, Campus Criciúma. Que conta com 06 cursos, 06 coordenadores e 60 docentes. Objetiva compreender o gestor na mediação do processo de formação continuada docente. Objetivos específicos: verificar a distância entre a prática docente e a proposta pedagógica indicada nos pressupostos institucionais; relatar as atividades de formação desenvolvidas com os gestores e refletir sobre o projeto de formação com os docentes. A base bibliográfica está em Antonio Nóvoa (1992), Maureci Tardif (2005), Heloisa Luck (2011), Menga  Lüdke (2013) e Legislação Nacional (1996). A metodologia, abordagem predominantemente qualitativa. As fontes de informações de campo, o questionário, observando no PPC – Plano Pedagógico de Curso o que se refere à formação continuada. Elaboramos a formação aos gestores. Há uma distância entre a teoria, o discurso e a prática pela falta do conhecimento pedagógico. São dados preliminares a solicitação de um curso para a formação de gestores como docentes na formação de professores. Esse estudo poderá resultar em um documento orientador do trabalho docente.

Palavras-chave: Formação de professores. Prática docente. Conhecimentos pedagógicos.

1 INTRODUÇÃO

Esse texto decorre da problemática sobre as limitações de docentes, cuja formação técnica, necessita de um aporte pedagógico. Aborda, o papel dos coordenadores de curso na formação desses profissionais, assim, o professor, além dos conhecimentos técnicos precisa utilizar os conhecimentos pedagógicos para poder ancorar sua prática docente. Em pesquisas anteriores é possível observar que o Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC, Campus Criciúma apresenta uma realidade em que o docente sente dificuldades em proporcionar uma metodologia adequada aos estudantes atuais. Objetiva verificar a distância entre a prática e a proposta pedagógica. Com os objetivos específicos: relatar as atividades de formação desenvolvidas com os gestores e refletir sobre o projeto de formação com os docentes, cujos mediadores são os gestores e coordenadores de cursos.

2 METODOLOGIA

A metodologia que conduz esta pesquisa, para concretizar seus objetivos, em sua classificação é acadêmica, sendo sua natureza, uma pesquisa aplicada, objetivando familiarizar-se com o problema. De cunho exploratória e descritiva, pela observação sistemática de gestores e docentes em seus espaços de aprendizagem, conselhos de classe e reuniões. Sua abordagem é predominantemente qualitativa.
A base para a busca de respostas momentâneas para nossas interrogantes foi fundamentada em Antonio Nóvoa (1992), Maurici Tardif (2005), Heloisa Luck (2011), Menga  Lüdke (2013) e Legislação Nacional (1996).
Os procedimentos técnicos empregados são documentação direta. As fontes de informações foram: de campo, pelo local dos dados coletados, aplicamos questionários semiestruturados e entrevistas aos envolvidos. A pesquisa-ação pelo agir no problema com uma proposta efetiva. A análise dos dados obtidos por meio das entrevistas e questionários aplicados aos dezessete gestores, juntamente com as observações feitas trazem elementos significativos para aprofundar a pesquisa e aprimorar o projeto de formação docente.
Com os primeiros resultados obtidos por meio da pesquisa-ação tomamos conhecimento da solicitação de um curso de gestores para que os mesmos pudessem ser mediadores na formação dos demais docentes da Instituição. A avaliação das atribuições da equipe pedagógica observada do PPC, ratifica o papel desses profissionais no que se refere a formação continuada e identificando os referenciais teóricos norteadores da prática pedagógica Institucional. 
A elaboração de um programa de formação pedagógica para os coordenadores de curso e demais gestores foi projetada. Pretendemos elaborar um documento orientador do trabalho docente, a partir da formação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na atualidade, pesquisadores sobre formação docente, bem como legislação em âmbito nacional, dispositivos legais dos órgãos pertinentes, tratam deste mote como obrigatório e necessário à educação escolar. Assim, convém salientar que o docente necessita de um aporte teórico. Para tanto, a equipe que coordena o processo de formação continuada de uma instituição deve possuir metodologias para desenvolver um projeto de formação focada neste profissional.
A construção deste artigo inicia pela percepção da pesquisadora, em seu local de trabalho – IFSC, campus Criciúma, onde a maioria dos docentes ministram suas aulas de forma técnica, não abordando uma proposta reflexiva de sua prática.
O IFSC, possui 05 cursos técnicos, com seus respectivos coordenadores. Contudo, esses não se percebem como agentes pedagógicos, no sentido de gestão, evidenciado por meio da pesquisa. Ao questionar os coordenadores sobre as problemáticas pedagógicas, em pesquisas exploratórios, esses não conseguem articular uma problematização fundamentada teoricamente e perceber que é necessária uma formação para ambos, docentes e coordenadores. Assim, o projeto de formação, para gestores e/ou docentes deve ser elaborado partindo de um diagnóstico, das necessidades reais dos envolvidos, comprometendo-se com a formação de cada membro deste grupo.
Portanto, após aplicação de questionários aos docentes e entrevista com os gestores, tabulando e analisando dados, avaliando as atribuições da equipe pedagógica, fazendo levantamento bibliográfico, observando no PPC o que se refere à formação continuada e referenciais teóricos, foi possível continuar a ação. Elaboramos um projeto de formação pedagógica para os coordenadores de curso e demais gestores. Com a formação pedagógica dos gestores (20 horas), conduzidos por uma profissional externa à Instituição, pretendíamos um trabalho de formação docente, sendo os gestores, coordenadores de curso, os multiplicadores.
No primeiro encontro, socializamos com o grupo o retorno dos dados, obtidos pelas pesquisas. Iniciamos o encontro com um diagnóstico, onde responderam questões sobre sua forma de planejamento. Discutimos as respostas, os desafios e as possibilidades. Oportunizamos que cada gestor-estudante se manifestasse, utilizando a metodologia da problematização, em uma aula dialogada. Iniciamos o estudo sobre os fatores que interferem na formação de um sistema educativo e as formas de gestão.
No segundo encontro, o foco foi Liderança em Gestão Escolar - Heloísa Luck (2011). No terceiro encontro o tema Educação Continuada: função essencial do coordenador pedagógico e teoria e prática: o enriquecimento da própria experiência. No último encontro estudamos os seguintes itens: Formação do Professor: reflexões, desafios, perspectiva e a dimensão relacional no processo de formação docente.
Um fator gratificante foi a solicitação do próprio grupo em elaborar um projeto de formação para os docentes, assim, iniciado naquela aula com perspectiva de continuarmos em encontros posteriores. O objetivo de perceber a necessidade do trabalho escolar com visão de um fazer coletivo foi materializado. As discussões pelo grupo de gestores e coordenação pedagógica, de documentos oficiais que direcionam o ensino técnico e o planejamento curricular fundamentou o trabalho desenvolvido com a equipe de multiplicadores.

4 CONCLUSÃO

Após estudos afirmamos, neste momento, que há uma distância entre a prática e a proposta pedagógica, sendo somente agora percebida pelos gestores e docentes. Esta percepção resulta dos encontros de discussão e reflexão decorrente das atividades de formação desenvolvidas com os gestores.
Assim, ficou claro que é, também, de responsabilidade do coordenador, promover palestras, seminários e oficinas para que os docentes possam construir dinâmicas e conhecimentos práticos para desenvolver as aulas. A formação continuada dos professores é útil para o enfrentamento de desafios não previstos no cotidiano escolar. Parte da pesquisa concluída incita a afirmar que a partir dos estudos do grupo multiplicador, vislumbramos a formação dos professores, cujo estudo poderá resultar num documento orientador do trabalho docente.

5.   REFERENCIAS

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: 9394/96. Brasília: 1996.

CRISTOV, Luiza H. da S. Teoria e prática: o enriquecimento da própria experiência. In.: GUIMARÃES, Ana A. O Coordenador pedagógico e a educação. São Paulo: Loyola, 2009.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, M. E. D. A. . Pesquisa em educação: abordagens qualitativas, Rio de Janeiro: E.P.U., 2013.

LUCK, Heloisa. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

NÓVOA, Antônio. Formação de professores e formação docente. In: Nóvoa, Antônio. (org.) Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.


TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes 2005.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Projeto político-pedagógico: Momento da atualização


Maria Helena 

Quando em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trouxe em seu artigo 12, “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: elaborar e executar sua proposta pedagógica;” a maioria dos sistemas normatizou a forma da elaboração do documento que atendesse as balizas legais, filosóficas e pedagógicas atuais das unidades escolares.
Para Danilo Gandin,

"O planejamento, como tarefa natural ao ser humano, é o processo de divisar o futuro e agir no presente para construí-lo. Assim, planejar é organizar um conjunto de ideias que representem esse futuro desejado e transformara realidade para que esse conjunto nela se realize no todo ou em parte”. (GANDIN, Danilo, LUÍS Armando; p.37, 1999).


Um ponto fundamental da elaboração do projeto político-pedagógico PPP é a participação efetiva de todos os envolvidos no processo educativo.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205 afirma: educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. E no art. 206, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei.
Sobre a participação, a LDB/N 9394/96, afirma, art. Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. Art. 14, os sistemas de ensino definirão as normas (...) conforme os seguintes princípios: participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
Para Paulo Freire (1996) a autonomia de uma instituição transcende os decretos, ela é construída no coletivo, no estudo, na compreensão, no respeito à realidade e cultura de cada grupo. E a escola tem um papel fundamental por meio de uma educação que propicie tal autonomia.
Baseado em metodologias diversas o projeto político-pedagógico deve ter a participação da comunidade escolar. Fazer o levantamento de suas necessidades em seus múltiplos aspectos para poder elaborar um plano de ações.
Assim, o diagnóstico é a segunda etapa do processo. Apresenta-se como “um profundo confronto entre a prática vivida pela instituição e os ideais que ela está se propondo em seu Referencial. É um juízo sobre a realidade à luz das ideias que foram abordadas no referencial.” (GANDIN, 2001)
Portanto, o final da década de 1990 e início dos anos 2000, a maioria dos sistemas estava elaborando seus PPPs. Isso não significa que anterior a Lei, não havia planejamento e nem denominação de projeto pedagógico.
Foi um movimento intenso, desde a educação infantil ao ensino superior. Havia uma compreensão melhor de que planejamento não é apenas “preenchimento de papeis” para agradar aos superiores.
Sendo o PPP a proposta pedagógica da unidade escolar, esse contempla vários aspectos: filosófico, pedagógico, comunitário, administrativo, financeiro, físico. Assim, com o passar do tempo, o que é previsto é realizado. Contudo, a educação escolar é dinâmica, porque faz parte da sociedade e essa se transforma de acordo com as necessidades dos cidadão, é dialética, histórica, e sua cultura altera-se por valores, costumes. O homem é um ser que se transforma e transforma o seu entorno. Porquanto, ao adequar-se e interagir com a sociedade, a escolar, deve planejar-se dentro das perspectivas estabelecidas pela sociedade, por meio do Estado organizado, suas esferas e poderes.
De acordo com Gandin, anualmente a instituição escolar deve atualizar o seu plano de ações previsto em seu PPP, bem como fazer o levantamento das necessidades e projetar novas ações a fim de suprir a demanda.
Por sua vez, o referido autor afirma que o referencial teórico filosófico, poderá ser atualizado a cada três ou quatro anos. Pois refere-se aos valores, missão, linha pedagógica e política.
Neste sentido, não basta a equipe diretiva fazer a atualização. Cabe a mobilização de todos que fazem parte da instituição. Portanto, como no início do processo de elaboração, o momento de atualização necessita ser compreendido por todos. Docente, estudantes, pais, funcionários discutindo, analisando a escola, são vários olhares de atores e autores, do como está a instituição e como ela deveria ser para atender aos anseios instituídos pela sociedade, perfil do egresso, formação destes que frequentam a escola. Ainda, respeitar a legislação federal e dispositivos legais, em nível do sistema, ao qual pertence a unidade escolar.
Portanto, quando for necessário estabelecer um novo marco referencial, decorrente do tempo que passou (de 3 a 5 anos), esse será estabelecido, respondendo as questões atuais, perfil de cidadão, de sociedade, de currículo, entre outros. Ratificando, com a participação de todos. Não significa dizer que estejam todos ao mesmo tempo discutindo. Contudo, proporcionar as situações de participação de acordo com a cultura, número de docentes, discentes, pais e funcionários da unidade escolar. Várias são as técnicas para o levantamento de dados: questionário, conversa com estudantes, painéis, página na internet, blog, facebook, entre outras possibilidades.
Segundo Gandin é importante que a coordenação dos trabalhos tenha muita clareza sobre os encaminhamentos do processo, bem como em fazer os registros, porque culminará em um documento. Devendo ser legitimado em assembleia, conter a assinatura de todos.
Diante do exposto é possível asseverar que a reelaboração ou atualização do PPP demanda ter o foco no processo e não no documento. Ter a compreensão da participação efetiva da comunidade escolar. É um processo não devendo ser elaborado por uma equipe (interna ou externa à escola) alheia à realidade institucional. Respeitar as etapas de mobilização, compreensão, registros, até o documento final. De tal modo, descrição da escola em seus múltiplos aspectos, sua política, amparo legal, projetos, números: estudantes, docentes, materiais, aprovados, reprovados...
Seu diagnóstico, plano de ações, metas, prazos e previsão de como e quando o PPP será avaliado.
É possível reconhecer que é um processo complexo, mas não difícil, basta entender a sua importância, respeitar as “opiniões” diversas, ter humildade, clareza para conseguir fazer os encaminhamentos necessários. Para que não haja um hiato entre o discurso democrático e a prática autoritária.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRASIL, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. D.O.U.

 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís A, Temas para um Projeto Político-Pedagógico. Petrópolis, 2001, 4a edição.


GANDIN, Danilo. A Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis, Vozes, 2001, 10ª edição.