Maria Helena da Silva Meller
Administrar,
gerir, mandar, relação de poder, estar no poder, manter status. Muitas são as
designações, bem como as concepções para liderar um grupo. Ser um gestor, gerente,
coordenador, alguém que tenha subordinados, esse é o sonho de muitos
profissionais.
A
educação escolar em seu histórico, sempre se manteve dentro do contexto social
como toda e qualquer instituição. Portanto, sendo e tendo os mesmos valores e
hábitos, no caso reproduzindo a sociedade.
Em
um sistema capitalista, cujas relações são estabelecidas, com base nas questões
financeiras e no parecer ser, ser diretor de uma escola era um projeto de
muitos docentes. Ainda o é. Destarte, apesar de determinados valores não serem
baixados por decreto, a Constituição Federal traz avanços, dentre eles incutir
uma visão de democracia, de fato.
Partindo
dessa premissa, indo ao encontro de muitos cidadãos que, de fato, acreditam
nesta possibilidade, começam os questionamentos dentro da escola: como é
possível uma gestão democrática quando o diretor é indicado por partidos
políticos? Como vivenciar a gestão democrática, se muitos têm medo de se expor?
De tirar o tirar o lixo “de debaixo do tapete”, de fazer uma incursão na
história e reconhecer a instalação da cultura organizacional atual? Quem são os
lideres da instituição? Os seguidores? Como foram “imponderados”?
Essas
questões não podem ser desconsideradas, ignoradas, pois elas existem, mesmo que
não sejam explicitadas por seus atores.
Há
que se abrir espaço para a compreensão da realidade, quais as possibilidades,
em que medida no contexto atual, se pode ir construindo uma gestão democrática.
Quais as limitações? Em que grau tais limites podem e devem ser transformados
em questões concretas, problematizando e não polemizando. Transformando
problemas em necessidades, essas em metas, e em ações. Quais são passíveis de alterações
imediatas, e a curto, médio e longo prazo? Ações podem ser modificadas, e os
valores, hábitos, pautados em uma visão democrática, não podem vir por decreto.
Portanto, o processo precisa ser respeitado.
Em
outro extremo, a democracia surge quando o homem abdicou e seu direito
individual, para que alguém da comunidade pudesse representa-lo, ou seja,
continua um sujeito de direitos, no entanto não mais um amontoado de pessoas,
mas um coletivo com representação. Sendo este representante, em principio, fiel
ao seu grupo, àqueles que o escolheram. Assim, com autoridade, presume-se com o
conhecimento necessário para que, diante de cada conflito não venha chamar cada
sujeito e perguntar o que fazer e, sim, tomar as atitudes necessárias,
balizadas em um conjunto de princípios, a priori, acordados entre o grupo. Um
código, regras, normas constituídas pelo grupo ao longo de sua história. Neste
caso, a democracia não consegue suprir o desejo de cada indivíduo, porém do
coletivo, da maioria.
Voltando
ao interior da escola brasileira, com seu histórico político, econômico e
social, vivenciar a democracia pode ter muitas conotações.
Cabe
aqui indicar que a questão ultrapassa a letra da Lei, bem como as terminologias
utilizadas no que tange à “gestão democrática”.
Farei
um viés diferenciado neste texto, tratando da questão de liderança e de seres
humanos. Isso não está dissociado e, muito menos, alienado das questões
políticas, porquanto há um posicionamento. Uma visão de homem, de mundo e de
contexto.
Quando
um cidadão, por quaisquer circunstâncias, assumiu a direção de uma instituição
escolar, pode ter a visão de coletivo, não de aglomerado de pessoas, mas de
grupo. Nesta perspectiva, utiliza-se da empatia e se percebe com e no grupo, ainda,
reconhece as ações, falas de seus pares como decorrentes de histórias, pois
comunicam muito mais do que dizem. Quando esse diretor de escola é mais que um
cargo, uma função, e sim uma atribuição social em prol de outros cidadãos no
interior da unidade e fora da instituição, seu trabalho tem uma conotação
diferenciada daquela de cumprir tarefas.
Com
esse texto não pretendo afirmar que seja uma tarefa fácil, mas não complexa,
pois perceber as demais pessoas como sujeitos, portanto seres humanos, com
todas as suas características faz parte do cotidiano, pois somos seres sociais,
portanto gregários.
Essa
perspectiva de escola democrática vem ao encontro dos conceitos educar e
cuidar. À escola foi outorgado o dever de educar, portanto não são somente
conteúdos científicos que perpassam pela instituição. Todos os modelos, os
exemplos, as diferentes personalidades com quem os estudantes convivem educam. Significa
dizer que repassam para o grupo uma série de valores, costumes, reforçam
hábitos, quer sejam positivos ou negativos, pois é um campo amplo e complexo,
não há como limitar a expressão humana. Assim como o cuidar, está no discurso e
projetos pedagógicos de quase todas as escolas, pois está previsto nas Diretrizes
Curriculares Nacionais. Não se cuida por decreto, se cuida por perceber o outro
como semelhante, por haver identificação. Cuida-se porque é humano cuidar um do
outro, ratificando não somos seres segregados, como os demais animais
aprendemos a viver em grupo. Cuidar do outro é perceber-se como gente, mais que
um técnico que recebe para cumprir tarefa.
Administrar
uma escola, em um amplo contexto cultual e político, que começa a perceber as
possibilidades da democracia, dependerá, também, do perfil do gestor, de suas características
pessoais, de sua concepção de homem e de mundo. Sua percepção do presente e
esperança no futuro.