Maria Helena da Silva Meller
A escola vem ao longo da história
cumprindo vários papeis. Entendendo escola como leis, documentos, cultura,
equipe diretiva e docentes. Ainda, estudantes, família e a comunidade do
entorno.
No momento em que a escola
teve a função de redentora, como se pudesse formar um cidadão, por meio de suas
aulas, e o mesmo ao chegar à sociedade pudesse transformá-la, acabou
desconsiderando outros indicadores sociais, culturais e econômicos. Passado
esse momento, percebido que a escola é mais UMA instituição e não A instituição,
sua herança ainda permeia muitos discursos com relação ao educandário.
Diante do exposto, vale
questionar: qual o papel da escola na atualidade? Qual a expectativa da
sociedade com relação à mesma? Quem faz a escola? Qual a expectativa dos
estudantes em relação à instituição e dessa com relação aos estudantes?
Todos os documentos legais,
desde a esfera federal aos projetos da própria instituição, trazem verdadeiros
tratados sobre os direitos dos aprendizes no exercício da cidadania, com
relação à escola.
Assim, vamos à prática, são
duzentos dias letivos, quatro horas de aula diárias, para a formação de um
sujeito que exerça a sua cidadania, não são apenas os conteúdos científicos que
o favorecem. É a vivência dos valores culturais e sociais, do respeito a si,
aos demais seres vivos, da autonomia moral e intelectual. Porquanto, quem
ensina precisa, por sua vez, vivenciar tais atitudes. No entanto, quem são os
docentes na atualidade?
Qual a formação acadêmica de
tais profissionais? Há uma aptidão para essa profissão ou foi a que mais se
aproximou de suas condições econômicas? Quantos livros conseguiu adquirir e ler
durante sua formação. E suas especializações? Atualizações? Quais condições os
sistemas oferecem a esses docentes para que consigam compreender as questões de
legislação? Qual o papel do MEC e do CNE?
Qual a diferença entre DCN e
PCN, qual se constitui lei? Qual a autonomia de um Sistema, o que é uma Rede? O
que é currículo? Avaliam-se as competências, as habilidades, mas quais, quem as
define? Para que serve o conselho de classe participativo, coletivo se os
planejamentos são elaborados individualmente, com quesitos e indicadores por
disciplina?
Como desenvolver um trabalho
interdisciplinar se não conseguem planejar multidisciplinarmente? Qual a
diferença entre interdisciplinaridade e transversalidade?
Prioriza-se o ensino
científico ou se ensina para a vida? Qual vida? Os conteúdos escolares não são
para a vida? No caso não sobra tempo para ensinar as crianças da classe popular
questões elementares de boa convivência, questões sociais que as crianças de
outras classes aprendem em casa com a família. Essa é uma afirmativa que ouço
com frequência dos docentes.
Vejamos, artes desenvolve o
olhar sensível, a estética; matemática, a lógica, o raciocínio, assim como a
filosofia, a análise. A língua mãe ensina a falar, compreender e interpretar. A
educação física o conhecimento do corpo físico, ser sujeito, sua relação com o
ambiente. As diferentes áreas têm suas contribuições. No entanto, o docente
deve compreender isso. Um estudante que lê, compreende, interpreta, analisa e
sintetiza irá compreender textos em contextos de história, geografia, ciência...
Portanto qual a importância da área de conhecimento no momento atual deste adolescente,
jovem ou criança? Em que medida a metodologia adotada contribui para o
desenvolvimento de habilidades necessárias para o aprendizado de conteúdos de
qualquer espécie? Como diagnostica e acompanhar o desenvolvimento deste
estudante?
Como esse professor irá planejar
suas aulas se os documentos na escola não foram elaborados com a sua
participação? Como é possível afirmar?! Basta raciocinar: um docente com tantas
turmas, trabalhando em duas ou três escolas diferentes conseguem planejar suas
aulas, atendendo todas as metas, planejamentos, documentos legais, se nem
sempre os conhece?
O docente atual, neste
contexto, tem um discurso fabricado de acordo com o que conseguiu formular em
sua formação acadêmica. Porém, não percebe o hiato o qual distancia sua prática
de uma teoria pregada nas universidades, em cursos de Licenciaturas.
Há uma proposição de metas
enormes sobre a educação escolar. Tentando “tirar” os atrasos históricos,
destarte se fala de pessoas e não de máquinas que podem ser aceleradas. Trabalhar
initerruptamente até que tenham falhas e sejam concertadas e/ou substituída por
outras.
Sou docente há trinta anos,
não estou descrevendo um quadro onde o docente é um profissional frágil e
ignorante por natureza. Estou afirmando que a conjuntura atual do país com
relação à educação escolar faz com que no interior da instituição, que é o
espaço reservado ao ensino, tudo que está previsto em tantos documentos
oficiais não são passíveis de pôr em prática na escola concreta, por docentes
concretos. A não ser pelos docentes idealizados por muitos legisladores, que
pouco entendem de crianças, adolescentes, classe popular e periferia, conhecem por
meio de pesquisas, ou visitas em tempos de eleição. Então fica fácil pensar que
com tablets e horas atividades o professor, como em um passe de mágica possa compreender
todo o contexto político e cultural em que está imersa a escola e passe a fazer
milagres na escola.
Está mais que na hora de
chamar para a discussão o docente que está no chão da escola. Não somente
representantes sindicais e políticos oportunistas. Busquem prestar mais atenção
no cotidiano de uma instituição. O porquê das agressões, dos fracassos, reprovações,
doenças dos docentes. Pais invadindo escolas, estudantes deixando mensagens nos
muros escolares.
Sem dúvida temos muitas
unidades escolares que conseguem cumprir seu papel social, no entanto é tão excepcional
que chegam a ser manchete de periódicos. O que deveria ser a regra acaba sendo
a exceção. Temos inúmeros docentes que não encontram pares para fazer uma
reflexão coletiva, porque o colega está tão cansado que deseja sair correndo
para casa.
Entendo que haja uma questão
de cultura institucionalizada, de clima organizacional descrente que vem sendo
fomentada por muitos que desejam que a situação assim continue, pois não tem
como identificar os incompetentes que aí se inserem. E a questão se perpetua.
Para romper com o que está
posto, primeiro há que se admitir o quadro, de fato como é. Considerar as
estatísticas, porém utilizar outros instrumentos avaliativos por região. Ouvir docentes.
Não polarizar ou a educação está péssima ou está ótima e sim perceber as
prioridades a partir dos projetos de cada instituição, fazendo uma síntese para
uma Rede e para um Plano Municipal de Educação. sem tradutores, ou seja,
doutores sem nunca terem posto o pé em uma escola pública, mas para tudo buscam
uma justificativa científica, pautada em pesquisas de outros países.
Temos que pensar a escola
agora, pois os adolescentes e crianças ESTÂO aqui hoje. Amanhã já terão
formadas suas personalidades. O dinheiro todo investido em educação, se de
fato, for utilizado por quem entende de escola, com certeza será aplicado nas
prioridades.
Outra questão: há uma
vontade política? Sim, pois o país necessita de indicadores positivos com
relação á educação escolar. No entanto, quem tem coragem de buscar o início do
novelo e começar a desenrolar? tirar o lixo de debaixo do tapete? Fazer a
faxina. É mais que investimento financeiro é coragem de assumir uma politica educacional,
de fato. É priorizar não por meio de discurso, e sim por meio de ações.