Adult literacy from the perspective of Psychoanalysis
Maria Helena
As questões mais evidenciadas nas formações
dos docentes da EJA são quanto à metodologia, a percepção de que não são
crianças, portanto não utilizar recursos infantis; conhecer algum histórico de
escolaridade anterior: esteve na escola, sim, não, porque saiu, caso tenha
frequentado, porque deseja voltar. Muitos voltam por exigências externas,
trabalho, por exemplo, assim nem todos tem como um desejo seu.
Também
indicado nas formações é o reconhecimento que, enquanto adulto, esse possui uma
vida social, intelectual, pois mantém família, trabalham, se informam pelas mídias,
ouvindo, vendo, lendo o mundo, porém sem decifrar letras, o juntar das letras.
O objetivo geral da EJA é gerar um espaço do
reconhecimento do mundo “letrado” a fim de possibilitar o movimento da
autonomia do sujeito, enquanto leitor. Usar o seu direito de ir e vir, sem
precisar perguntar nome de ônibus, ruas, lojas. Não precisar depender do outro para ler boletos, contratos, questões cotidianas que um cidadão utiliza na
sociedade atual.
Aqui se chega em um item fundamental. Estaria esse
adulto preparado para viver a sua autonomia, deixar de ser dependente? Não estaria
acomodado, em um sentido de segurança e conforto, para a nova realidade? Não irá
gerar um sofrimento maior que o próprio preconceito enfrentado?
Muitas
situações em que o adulto apresenta muitas dificuldades para desenvolver as habilidades
de leitura e escrita, acontece como um mecanismo de defesa. É uma realidade na qual esse deverá sair de
um território seguro e conhecido e adentrar em um espaço de muitas novidades, o
que exigirá uma nova postura, novas emoções, sentimentos. Bastante paradoxo este movimento, pois se de
um lado enfrenta o preconceito, contudo está acostumado com a "ajuda" das pessoas
em seu entorno. É isso, geralmente, está em um nível inconsciente.
A tão
evidenciada autonomia desejada pelos profissionais da EJA, para seu público,
deve levar em consideração a forma com a qual este sujeito adulto irá lidar com
a sua autonomia, estar livre, conseguir “navegar” por ele mesmo, pois o nível
de responsabilidade muda, a sua visão de mundo, e a visão do seu grupo sobre si,
são transformados.
Neste
contexto, não temos apenas um estudante em uma cadeira esperando receber o
alfabeto, fonemas, grafemas...temos um ser que, pode estar em um grande
sofrimento, lutando com suas dores, trazendo à cena a sua criança ferida pela
escola, família, há inúmeros fatores que podem gerar a dor. Conseguirá lidar
com a responsabilidade a qual a autonomia suscita? Sair da zona de conforto
demanda emoções e sentimentos novos, consequentemente novos hábitos e atitudes.
Diante ao exposto, a opção metodológica deverá
acolher este olhar, não somente para a escolha de recursos e instrumentos,
porém na comunicação, na dialogicidade. Ver e ouvir expressões, gestos,
atitudes, desistências, faltas.
É preciso ficar claro que, assim como afirmo
para todos os docentes nas formações, desde a educação infantil ao superior: o/a
professor/a não é a junção de psicanalista, psicólogo, antropólogo, é sim
utilizar-se dos conhecimentos dessas áreas para intervir, exercendo o seu papel
docente. Quando o docente encontra uma dificuldade deve se reportar ao seu
coordenador ou equipe multidisciplinar.