segunda-feira, 8 de maio de 2023

Alfabetização de adultos sob o olhar da Psicanálise

                                         Adult literacy from the perspective of Psychoanalysis                                   

Maria Helena

   O tema Educação de Adultos é bastante sensível, haja vista ser um assunto, não difícil, porém complexo. Trago esta reflexão para que os profissionais da Educação de Jovens e Adultos (EJA) percebam que existem muitos fatores interferindo no desejo, ou não, de aprender a ler do sujeito, muito além de todo esforço e planejamento da equipe pedagógica. 

    As questões mais evidenciadas nas formações dos docentes da EJA são quanto à metodologia, a percepção de que não são crianças, portanto não utilizar recursos infantis; conhecer algum histórico de escolaridade anterior: esteve na escola, sim, não, porque saiu, caso tenha frequentado, porque deseja voltar. Muitos voltam por exigências externas, trabalho, por exemplo, assim nem todos tem como um desejo seu.

   Também indicado nas formações é o reconhecimento que, enquanto adulto, esse possui uma vida social, intelectual, pois mantém família, trabalham, se informam pelas mídias, ouvindo, vendo, lendo o mundo, porém sem decifrar letras, o juntar das letras.

    O objetivo geral da EJA é gerar um espaço do reconhecimento do mundo “letrado” a fim de possibilitar o movimento da autonomia do sujeito, enquanto leitor. Usar o seu direito de ir e vir, sem precisar perguntar nome de ônibus, ruas, lojas. Não precisar depender do outro para ler boletos, contratos, questões cotidianas que um cidadão utiliza na sociedade atual.

   Aqui se chega em um item fundamental. Estaria esse adulto preparado para viver a sua autonomia, deixar de ser dependente? Não estaria acomodado, em um sentido de segurança e conforto, para a nova realidade? Não irá gerar um sofrimento maior que o próprio preconceito enfrentado?

  Muitas situações em que o adulto apresenta muitas dificuldades para desenvolver as habilidades de leitura e escrita, acontece como um mecanismo de defesa. É uma realidade na qual esse deverá sair de um território seguro e conhecido e adentrar em um espaço de muitas novidades, o que exigirá uma nova postura, novas emoções, sentimentos.  Bastante paradoxo este movimento, pois se de um lado enfrenta o preconceito, contudo está acostumado com a "ajuda" das pessoas em seu entorno. É isso, geralmente, está em um nível inconsciente.

A tão evidenciada autonomia desejada pelos profissionais da EJA, para seu público, deve levar em consideração a forma com a qual este sujeito adulto irá lidar com a sua autonomia, estar livre, conseguir “navegar” por ele mesmo, pois o nível de responsabilidade muda, a sua visão de mundo, e a visão do seu grupo sobre si, são transformados.

Neste contexto, não temos apenas um estudante em uma cadeira esperando receber o alfabeto, fonemas, grafemas...temos um ser que, pode estar em um grande sofrimento, lutando com suas dores, trazendo à cena a sua criança ferida pela escola, família, há inúmeros fatores que podem gerar a dor. Conseguirá lidar com a responsabilidade a qual a autonomia suscita? Sair da zona de conforto demanda emoções e sentimentos novos, consequentemente novos hábitos e atitudes.

Diante ao exposto, a opção metodológica deverá acolher este olhar, não somente para a escolha de recursos e instrumentos, porém na comunicação, na dialogicidade. Ver e ouvir expressões, gestos, atitudes, desistências, faltas.

É preciso ficar claro que, assim como afirmo para todos os docentes nas formações, desde a educação infantil ao superior: o/a professor/a não é a junção de psicanalista, psicólogo, antropólogo, é sim utilizar-se dos conhecimentos dessas áreas para intervir, exercendo o seu papel docente. Quando o docente encontra uma dificuldade deve se reportar ao seu coordenador ou equipe multidisciplinar.