segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

META: EDUCAÇÃO ACOLHEDORA

Goal: welcoming education                                                                  

Maria Helena

             Nunca foi tão evidente tratar a educação como inclusiva, porém no cenário em que vivemos, parece redundante o referido termo. Tratar a educação em sentido amplo, família, sociedade geral e o ensino específico da escola, a inclusão redunda quando tratamos de todos os seres humanos, pois os mesmos devem ser acolhidos em todas as suas especificidades.

            Aqui desejo evidenciar a acolhida aos meus colegas docentes, porque a razão da escola existir é para o ensino dos estudantes, contudo aqueles que estão na linha de frente são os gestores e docentes. Assim, neste ato do ensino híbrido, todo o cuidado possível respeitando os protocolos criados pelos órgãos competentes, estão em tese, sendo cumpridos.

          Uma pergunta: quem conhece uma escola de verdade, viva? como um corpo humano, com todos os seus elementos interdependentes, convivendo, onde há definições puramente didáticas, pois não existe uma rigidez como uma barra de ferro, principalmente quando se buscou e busca uma autonomia por meio da dialogicidade, da reflexão do autoconhecimento. Assim, pressupor que todas as instituições estão conseguindo cumprir com os protocolos definidos pelas secretarias de saúde, segurança, educação, etc...é pura ingenuidade. No entanto, nós professores sabemos que o cenário sempre foi este, todos que instituem sua prática balizados na verdadeira ética, reconhecem a diferença da escola real, da escola idealizada e da escola difundida por parte da mídia. Portanto, o docente sofre duplamente: por ter que atuar em um cenário em que impera o medo e, ainda, por saber que a maior parte da sociedade não reconhece o trabalho do professor como essencial, importante para a mesma.

           Reconheço, por toda minha formação e por 35 anos de docência e gestão, que o interior da escola diverge muito das estatísticas, ou melhor de todo material que tenta generalizar uma escola.

           O momento atual necessita de acolhimento, de escuta acolhedora. Isso está muito bem planejado para os estudantes, o cuidado com as crianças pequenas e, principalmente, com os adolescente, sendo esta uma atitude louvável, diante do quadro que temos percebido onde nossos estudantes, filhos, estão bastante desmotivados, presos, sem muitos sonhos. Porém, neste espaço busco mais um diálogo com meus pares, aqueles que estão em seu cotidiano, planejando, corrigindo, elaborando, cuidando, ensinando, observando, analisando, dialogando...muitas vezes sem uma ilha segura, um ponto de equilíbrio. Diante do: " e agora? como faço?" ter alguém para simplesmente ouvir sem julgamentos, para que a função do professor tenha uma conotação menos solitária. Que o professor sinta que suas decisões estão sendo "aprovadas". Sim, neste momento, é disso que falo. 

         Durante este período tenho recebido mensagens de colegas me perguntando o que fazer e como fazer, se o que está praticando está correto, o que penso. Eu respondo que a sua ação é o que sabe fazer no momento, se está agindo com sua ética, coração, está correto.

          Temos muitas instituições onde não há uma equipe pedagógica, no sentido de coordenação/orientação. E quando há, em um cenário, como estamos vivenciando, são muitas decisões focadas por dia, assim nem sempre são reservados tempos, (sim, pois tempo é construção humana, o relógio foi criado pelo homem) para poder partilhar com os professores que as angústias são de todos os profissionais, todos estão em uma situação necessitados de um acolhimento, de um "-estamos diante de hipóteses".

        Colegas devemos lembrar que somos profissionais por formação, com nossos certificados, prestamos nosso serviço à sociedade. Contudo, devemos lembrar que ensinamos mais pelo exemplo do que por nossos discursos pedagógicos. Não estou tratando de egoísmo, portanto cuidar do outro é um ato de amor, assim como o cuidar de si. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

MARKETING EDUCACIONAL EM UMA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DE EDUCAÇÃO: LIMITES E PERSPECTIVAS

EDUCATIONAL MARKETING IN A DEMOCRATIC CONCEPT OF EDUCATION: LIMITS AND PERSPECTIVES                                                              

 Maria Helena 


Resumo:
O presente artigo decorre da solicitação do professor Ricardo Espínola na disciplina de Marketing Educacional desenvolvido no curso de Especialização em Orientação, Supervisão e Gestão Escolar na Instituição Esucri – Criciúma/ SC. O tema está relacionado a analise do contexto escolar em que se vislumbra a colaboração do marketing não como promoção de vendas de produto. No entanto, como conhecimento da realidade educativa em evidência para elaboração de estratégias adequadas à eficácia da instituição, em seu papel social.
Palavras chave: Marketing. Escola. Democracia.


1 INTRODUÇÃO

A educação brasileira em sentido amplo desenvolve-se de acordo com sua construção histórica e cultural. No que se refere à educação escolar sua sistemática conforme a conhecemos atualmente é bastante recente, haja vista, em nível de legislação ser citada em 1934 com a área da saúde. No que concerne ao termo marketing utilizamos o conceito de Philip Kotler que afirma marketing ser o processo social e administrativo através da criação e troca de produtos e valor com outras pessoas.


2 UM POUCO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

                Toda pesquisa necessita de um aporte teórico para que seja considerada científica. Portanto, os procedimentos metodológicos, de acordo com Otani, 2004, uma pesquisa científica é um grande passo, quer para um sujeito, quer para a sociedade, pois se utilizam de seus resultados em sua prática social, portanto exige rigorosidade em sua trajetória. Segundo Gil (2002 apud OTANI 2004, p. 33) a pesquisa busca respostas aos questionamentos elencados, destarte exige racionalidade e sistemática, ou seja, neste caso, por meio das leituras efetuadas compreender em que mediada o marketing é uma ferramenta em favor a educação em meio a um cenário capitalista cuja estratégia é a visão neoliberal e a globalização ou um instrumento necessário para a concretização dos indicativos a uma educação democrática.
             A partir de dados obtidos no preâmbulo da Constituição Federal Brasileira, onde busca assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça fundada na harmonia social com a solução pacífica das controvérsias, nos Princípios Fundamentais, entre eles o da cidadania, a dignidade da pessoa humana a de construir uma sociedade livre, justa e solidária é possível fazer algumas reflexões sobre a educação escolar. Visto esta acontecer em um cenário, no dizer de Freire, onde há oprimidos e opressores.
          No dizer de Tardif (2002) é como se fossem dois trabalhos distintos dentro da educação escolar, os produtores do saber e os que executam. Não obstante, estas questões são reais e necessitam ser transformadas em problematização. Em que medida a escola dentro dos parâmetros propostos pela legislação vigente atende a camada popular? Isto precisa ser ressignificado pela reflexão na prática e sobre a prática docente (WEFFORT, 1997).
            Neste sentido,  a Proposta Curricular/SC (2005) a qual se posiciona teoricamente na concepção sócio histórica, aprovisionando um arcabouço capaz de sustentar uma metodologia “em que o estudante possa apropriar-se dos conceitos científicos significativos que lhe possibilitem lidar bem com sua realidade sócio-histórica e acessar as riquezas materiais e espirituais socialmente produzidas” (PC/SC, 2005, p.12). Neste sentido trazemos a questão da gestão, pois a escola é dirigida por profissionais. O termo gestão passou a fazer parte do cenário educativo, assim como em qualquer organização. Contudo, a escola não é uma empresa, tem um papel social bastante definido e regimentado por legislação pertinente, tem a função de difundir o conhecimento.
             A escola nascida somente para uma determinada elite, com a sua popularização, chega a todas as camadas sociais. Isto significa que, atualmente, os estudantes tem acesso às varias instituições, dos vários níveis. Percebe-se aqui um avanço com relação ao direito à educação escolar.


3 MARKETING E EDUCAÇÃO

           É de conhecimento dos educadores que estamos imersos em um contexto de competição, em todos os aspectos. Com a popularização da escola e do mundo da prestação de serviços, sabemos que a atualização é bastante inconstante. Que a sociedade atual necessita de profissionais capacitados para atuar de forma competitiva no mercado contemporâneo. Neste cenário, caracterizado pela expansão do sistema de formação quer acadêmica, quer por demais instituições o aumento da concorrência entre os estabelecimentos se fortalece a cada dia, torna-se capital o emprego de ferramentas que contribuam para a sustentação e estabilização dessas organizações no mercado.
             De acordo com Espíndola (2011) é quase impossível comprar a fidelidade de um cliente, contudo conquistá-la é plausível. Ainda de acordo com o referido autor, embora as escolas apresentem um papel social diferenciado em sua prestação de serviços, elas trabalham com produtos, pois se espera da escola o ensino e com clientes, contudo existe uma relação vendedor comprador com um diferencial.
            Quando Espíndola (2011) cita (KOTLER1998), enfatizando que satisfazer o cliente significa trabalhar com mercados na tentativa de realizar as trocas em potencial com o objetivo de satisfazer as necessidades e desejos humanos é importante salientar a seriedade deste aspecto no que se refere à educação, principalmente às crianças e adolescentes do século XXI. Pois é uma geração com características e necessidades bastante distintas do século XX. A instituição que se eximir desta percepção estará, de fato, fadada ao fracasso.
           Conhecer as demandas atuais e futuras é tarefa da escola atual. As possibilidades a curto, médio e longo prazo para que não se perca nestas contradições em que está imersa a escola. As instituições de ensino estão inseridas em um contexto constituído por múltiplos fatores, mesmo com planejamento, ainda, são imprevisíveis, e por que não dizer provisórios em muitas circunstâncias improvisados. Caracterizando como oportunidade em fazer da escola uma instituição que necessita conhecer a sua missão, suas metas e objetivos, fornecendo pistas à nova geração de um mundo contraditório, no entanto “contaminado” por seres humanos.


4 CONCLUSÃO

             No que tange a pesquisa, ora feita, é possível inferir que, mesmo em um sistema capitalista com uma visão democrática de educação, quando se concebe o marketing como um estudo da realidade buscando pontos frágeis e fortes na ânsia de aprimorar os trabalhos torna-se possível haver uma compatibilidade.
           É importante salientar, contudo, se a compreensão do marketing acontecer como promoção de produtos com o fim de, somente, o lucro se tem aqui um paradoxo no que se refere à educação democrática, haja vista o pais possuir nuances bastante distintas de suas classes sociais. Neste caso, a gestão escolar há que possuir uma formação ampla, não somente pedagógica no sentido estrito, não obstante em sentido vasto, apreendendo a educação e o marketing como elementos de uma mesma face social. Fazendo uma leitura antropológica de sua instituição e de seus atores a fim de oferecer uma educação que, de fato, forme para a cidadania.

REFERENCIAS
CLARO, Alberto Entrevista com o professor Dr.Alberto Claro sobre MARKETING EDUCACIONAO, por Marcello Chamusca, do Portal RP-BAHIA. Disponível em: Acesso em: 17 de maio. 2011.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
ESPINDOLA, Luiz Ricardo. Fundamento de Marketing. Criciúma, SC, ESUCRI, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
OTANI, Nilo. Metodologia do trabalho científico. Criciúma, SC, ESUCRI, 2010.
SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. Florianópolis: IOESC, 2005.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

PERMACRISE: NECESSIDADE EM ENFATIZAR A CRISE?

                                    Maria Helena

                  Se para muitos a crise é uma oportunidade, onde se pode fazer emergir a criatividade, a iniciativa, a inovação, parece que, para determinado grupo, enfatizar a crise como um permanente estado de sofrimento é novidade. Como se somente a última década trouxesse tantas situações que levam o sujeito ao mais alto nível de "luta ou fuga".
              O ser humano vem escrevendo a sua história em meio às situações diversas, pois não existiria movimento nenhum na natureza, se não fossem os atritos. Nem a luz haveria. Por que  existe a luz? Estaria a humanidade em busca de um estágio neutro? Inerte? 
              Que satisfação tem esta parcela da humanidade que sente prazer e, acumula seus pseudotesouros apavorando os jovens e a população que sofre com transtorno do pânico, estresse, depressão, ansiedade, etc? 
            Permacrise, foi somente por meio de crises, atritos que houve o que se denomina desenvolvimento humano. Guerras, são novidade? Epidemias, pandemias? Catástrofes naturais ou provocadas pelo ser Inteligente Homem, são novidades? Crises permanentes.
            O que há de novo, diante de minha frágil reflexão: não havia a banalização com muitos eventos, havia a naturalização. Com a banalização, determinado grupo precisa transformar isso em consumo midiático, para que não passe desapercebido, não despercebido, mas de prevenir, desprevenido, pois, no caso, haverá o perder a "oportunidade" do ganho...que paradoxo... 
            Há de novidade, a velocidade da informação, não do aprendizado, conhecimento...são informações rasas. Isso, para negligenciar, mesmo, para não aprofundar...Pensem...e se o povo passar a refletir diariamente que sempre houve toda a forma de crises, que viver feliz permanentemente é ilusão, é o canto da sereia...se as pessoas analisarem a própria vida e perceberem que o grande teatro montado só funciona, pois, os atores não se percebem como autores da própria vida?
            Permanente estado de crise, atritos, movimento, oportunidade...é e não é o mesmo mundo, basta escolher um prisma para decidir e viver, entendendo que é o movimento natural, com a intervenção humana, direcionada para o que se deseja.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSO SOCIAL E PEDAGÓGICO

                                                     Maria Helena 


A Constituição Federal Brasileira de 1988 é denominada cidadã, devido ao seu contexto histórico, político e cultural da década de 1980. Decorrentes dessa, as leis que a complementam possuem essa premissa, pelo menos em nível teórico.
Fazendo uma reflexão do ato de educar de forma sistemática, por meio das instituições designadas à tal função, as escolas, perpassa-se pelos direitos dos cidadãos brasileiros e até os estrangeiros, conforme os dispositivos legais que os amparam.
Com relação à EJA – Educação de Jovens e Adultos, assim trata a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do art. 4º. No artigo 24, inciso c, quando trata da avaliação, assevera:  independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino.
Aqui temos duas questões fundamentais, primeiro, que o ente federado que se constitui como Sistema, possui autonomia para elaborar suas leis e dispositivos normativos, por meio do Conselho Municipal de Educação. Segundo, que a qualquer tempo o sujeito pode frequentar a escola, sendo respeitada sua experiência materializada em conhecimentos que venham ao encontro dos currículos escolares da Respectiva Rede, a qual pretende estudar.
Outro documento que vem corroborar nesta questão é o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente: Capítulo IV - Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes, entre outros,  igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. E no Art. 54, como dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria e progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio.
Portanto os entes federados, estados e municípios que oferecem a EJA, além do cumprimento da Lei, demonstram o compromisso com os seus munícipes, vislumbrando o futuro de seu município por meio da formação que o mesmo oferece.
Continua a LDB: Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
Assim, em termos de lei no nível federal o jovem e o adultos que não estudaram na idade própria, por questões múltipla: vulnerabilidade econômica, culturais, emocionais entre outras, podem ter acesso e direito à escolarização fora da idade considerada regular.

Metodologia e Avaliação na EJA

O grupo que compõe os estudantes da EJA, devido à legislação possui uma variedade, segundo pesquisa de cunho exploratório da autora, estudantes de 16 a 86 anos, portanto temos ai três gerações, com princípios, conhecimentos, linguagem, crenças e valores muito distintas entre si.
Neste contexto ainda contamos com os estudantes que retornam à escola por motivos diversificados: necessidade devido ao trabalho, insistência da família (filhos, netos), vergonha em sentir-se menos que os demais. Cumprimento do Conselho tutelar, pois o direito educação básica vai até os 17 anos. Assim, nem todos os estudantes que frequentam a EJA a percebem como uma oportunidade de ascensão social, e sim como um “castigo”.
Para os estudantes que compreendem a EJA como oportunidade de recomeço, de sentir-se cidadão, de não estar mais como um refém de terceiros, pois agora sabe ler”, é uma condição inenarrável o dia de sua formatura.
Diante do exposto, percebe-se a necessidade de uma metodologia adequada, porque não podemos atrelar o desconhecimento dos conteúdos escolares como se o adulto fosse uma criança. Devemos lembrar que o mesmo viveu a sua história e possui uma extensa bagagem cultural. O que necessita é sistematizar seus conhecimentos, reconhecer que os seus saberes são fundamentais para o processo que agora adentrou. Neste quesito o professor é figura fundamental, como a percepção da auto estima do estudante.
Segundo Madalena Freire (1996) a observação é um dos instrumentos fundamentais para conseguir planejar a avaliação. Mas o que observar, quais pontos? Isso deve ser planejado. Pois a avaliação está intimamente ligada ao planejamento. Não há como avaliar se não houver um planejamento elaborado a partir de um sério diagnostico. Lembrando que o diagnóstico é a distância entre o que o estudante domina e os conteúdos que deveria conhecer em determinada área do conhecimento.
Neste quesito a formação docente é imprescindível. Tardif (2004) ao tratar dos saberes docentes afirma, que muito daquilo que o professor sabe, vem desde sua infância, o contato com a escola, seus professores, afirma ainda que o tempo dedicado à graduação, licenciatura nem sempre é suficiente para conseguir proporcionar ao docente uma conhecimento sólido e qualificado para o presente, pois o professor ainda traz em sua bagagem resquícios de seus professores autoritários.
Aqui trazemos a colaboração de Paulo Freire (1996), onde há que se diferenciar a autoridade, alguém que conhece, domina, sabe o porquê de estar conduzindo o processo de determinada forma, pois está focado com rigorosidade científica. Diferente do professor autoritário, que desenvolve seu trabalho a partir de seu único olhar, sua rigidez o impede de questionar, de refletir sobre a sua prática.
 Donald Schön (2000) trata do profissional reflexivo aquele que consegue reverter a própria caminhada, acompanhar o raciocínio do estudante, saber como se chegou a determinado resultado. Onde o erro é considerado hipótese.
Dificilmente, como docentes, paramos para perguntar “o que sabe quem erra?” título do livro de Teresa Esteban (2002). Nem sempre os conhecimentos socialmente aceitáveis são os conhecimentos de quem erra na escola. Contudo, seus conhecimentos a respeito de suas experiências no seu cotidiano poderiam e muito contribuir para sua própria aprendizagem e para o professor redefinir sua metodologia.

Formação Continuada Docente

Timbé do Sul, município localizado no sul de Santa Catarina, proporcionou para os docentes da EJA, formação continuada em duas noites. Com o objetivo de Propiciar espaço de reflexão sobre a teoria e a prática desenvolvida na Educação de Jovens e Adultos, oferecida pela Rede Municipal.
Embora seja um espaço curto de tempo, no entanto o grupo conseguiu refletir, aprofundar, questionar, verificar, resistir, insistir enfim, ampliar suas compreensões sobre a EJA, por meio da perguntas norteadoras:
  Quem é o/a adolescente ou jovem ou adulto que frequenta a EJA?
  Frequentou escola anteriormente? Se frequentou? Por que deixou?
  O que motivou o retorno?
  Quais os Objetivos dele/a (estudante)? Desejos? Sonhos?
  Quais as diferenças, as características de pessoas de16 a 86 Anos?
  Como esse/a jovem ou adulto aprende?
  O que Interessa na escola?
  Qual Importância dos Conteúdos e Disciplinas para o seu cotidiano?

E sobre a prática docente:
  A partir do que você elabora seu planejamento anual?
  O que é um diagnóstico?
  Qual o roteiro de um plano de ensino?
  O trabalho é elaborado em conjunto e/ou individual?
  De que forma um  planejamento deve se articular à base teórica, PPP e demais documentos pertinentes às leis e normas da Instituição.
  Qual a importância (fase, linguagens) do componente curricular, que você leciona, na vida/formação do sujeito na sociedade?
  Como as áreas, os competentes se articulam entre si?
  Qual é / são os objetivo(s) gerai(s) deste/dos componente(s)/ linguagem(s)?
  E objetivo por série / ano/ fase/módulo?
  Diante disso, que conteúdos/ conceitos imprescindíveis favorecem tais objetivos, por ano? Citar.
  Qual a Metodologia mais indicada para trabalhar com esta faixa etária? Fundamente (partindo das características e necessidades da faixa etária).
  Qual a proposta de Avaliação mais coerente? Explique.  Indique os critérios, recursos e instrumentos necessários?
  Para os estudantes amparados pela Lei – Deficientes – como deve ser o PDI – Programa de Desenvolvimento Individual?


Primeiras constatações:

Nas verificações finais do encontro com os docentes, esses indicam que o grupo que frequenta a EJA é diferente da escola regular, portanto a formação continuada também precisa ser diferenciada. Ainda, que é necessário aprofundar-se sobre metodologia e avaliação, também a legislação, haja vista estarem na EJA adolescentes amparados pelo ECA e deficientes, para os quais deve haver uma prática condizente.
O espaço de formação oportunizou a troca do relato das experiências, de como cada docente conduz sua aula, quais os desafios, quais os conteúdos ou metodologia são mais atrativos para cada faixa etária. O planejamento em conjunto, bem como sua socialização ficou evidenciado, para o reconhecimento de um todo e não de fragmentos.
E quais as provocações o minicurso ofereceu, quais são os próximos passos? Que autores devem ser estudados? Que articulações são possíveis a partir das necessidades dos estudantes?
Em uma visão autoritária a pergunta significa não aprendizagem, no entanto, em uma metodologia pautada na dialética, perguntar significa sempre aprendizagem, compreensão e interpretação do contexto.


Agradecimentos:
Docentes e Direção da EJA de Timbé do Sul/SC
Secretaria de Educação Municipal


Referências

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases 9394/96. D.O.U.
BRASIL, Estatuto da Criiança e adolecente 1998
ESTEBAN. Maria Teresa. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. 4. ed.- Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
FREIRA, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz & Terra, 1996.
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
WEFFORT, Madalena freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos. São Paulo: Espaço Pedagógico ,1996

BNCC na prática. E a interlocução: docente - Base?

                                                                      Maria Helena da Silva Meller


A BNCC está adentrando as escolas por vídeos diversos e a mensagem é direta ao professor, porém, esse profissional pertence a uma Rede. 2020 é data para que todas as Unidades escolares estejam desenvolvendo seu trabalho pedagógico de acordo com a Base. No entanto, o que se percebe é que os professores estão procurando na base quais conteúdos devem ser incluídos em seu planejamento. A pergunta é o que mudou, o que muda?
Uma base na área da engenharia civil para a construção de uma casa é o diagnóstico, é o conhecimento do terreno. Como fazer a edificação, como os pilares sustentarão a casa? Etc..
A BNCC, na mesma proposição, faz a opção por conceitos, concepções de currículo, teoria de aprendizagem, que sustenta a metodologia, de avaliação, planejamento, que serão o subsídio para a prática pedagógica de qualquer componente curricular. Para tanto, estudar o componente curricular atual da base é a penas um passo, e diria que não é o primeiro.
Diante do exposto, a necessidade de alteração do Projeto Pedagógico (PPP) para atualizar-se às orientações da BNCC. Compreendendo que o Projeto posiciona-se politicamente diante de todos os componentes que estão no entorno do estudante. O PPP deve ser analisado por toda a comunidade escolar. Compreender o que é currículo formativo, qual a relação deste com o percurso que o estudante segue em sua jornada dos 4 anos aos 17 (obrigatoriedade)? Que o planejamento precisa ser elaborado coletivamente, para que haja sequência, não fragmentação e muito menos conteúdos sobrepostos. Qual a competência que cada componentes se propõe a desenvolver no estudante? E para tal quais as habilidades?
Lembrando que não basta substituir objetivos gerais e específicos por competências e habilidades, respectivamente. São questões distintas e tenho a impressão que a maioria dos docentes em sala de aula e somente recebe algumas orientações fragmentadas sobre a BNCC terá dificuldade em elaborar seu planejamento de ensino e de aula, nesta perspectiva, assim como avaliar.
Desde as DCNs (2010) somente alguns tiveram a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento. Foi uma elaboração coletiva da BNCC? Se levarmos em consideração que esteve on line, várias palestras sem sequência, materiais fragmentados chegando às mãos do professor para que ele em sua hora atividade pudesse contribuir.... houve sim...milhões de contribuições. Porém, basta conversar com um professor ou até coordenador pedagógico, ou mais longe secretários de educação e solicitar uma contextualização histórica da BNCC, relação com CF, LDB, CONAE, PNE, PME, tenho minhas dúvidas do número de profissionais que consigam. Vou diminuir o campo de contextualização, somente DCNs, BNCC e planejamento.
Se o País deseja que a educação caminhe e que os dados quantitativos, estatísticos, exemplo IDEB, entre outros, favoreçam o Brasil, convém refazer o caminho de forma real. Que a formação continuada seja qualitativa e não quantitativa. Que os atores participem desde o seu olhar do chão da sala de aula e não somente das pesquisas acadêmicas, das webconferências ou webnários que auxiliam muito, mas nem sempre há uma interlocução.
É um momento ímpar, porém necessita da compreensão daqueles que irão colocar em prática, tendo a Base epistemológica e metodológica e não somente substituir os termos de acordo com o documento. Cada sistema educacional deve compreender o porquê, o para quê e o como está se transformando a educação escolar. Fala-se muito na formação do cidadão do século XXI, lembrando que o docente é também parte deste cenário.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Vivendo em grupo

                                                                             Maria Helena 

 Não basta um amontoado de pessoas para designar que temos um grupo. Um grupo é mais que isso.
 É necessário objetivos comuns, e conhecidos por todos.
Imprescindível haver uma história de convivência, espaço para cativar as pessoas, conhecê-las, de fato.
A empatia em um grupo é condição necessária. Cada um deve saber se deslocar de si e colocar-se no lugar do outro.
Vida em grupo demanda respeito às combinações e a cada sujeito. E perceber cada um em sua essência.
 É necessário respeitar o coletivo sem massificação, pois o coletivo é um conjunto de indivíduos-individuais-individuação, portanto reconhecer que a diferença soma e não divide. Cada qual oferecendo suas melhores qualidades, habilidades e competências. Assim, o grupo é fortalecido. E tratando no grupo, como um inteiro, as suas fragilidades, que não pertencem a um sujeito e sim, ao grupo.
Pertencer a um grupo é Ser grupo. A ética é elemento constante, assim como a cumplicidade. É trabalho de cooperação, colaboração. Não se compete entre pares, porque os objetivos são os mesmos.
Humildade  é fundamental para acatar diferentes ideias, identificação com o grupo, seus sujeitos, suas posições, seus encaminhamentos e seus estranhamentos.
Um grupo não se forma, ele nasce e requer cuidado, precisa ser alimentado diariamente com diálogo, honestidade, abnegação, companheirismo e dedicação. Viver em grupo torna o sujeito mais seguro, desenvolve sua autonomia e responsabilidade.
Grupo briga porque confia, grupo chora porque tem emoção, grupo espera porque reconhece seus limites. Grupo busca porque tem incertezas e certezas.
Enfim, viver o grupo é a esperança, o reconhecimento de que se necessita do OUTRO para se perceber como gente. Reconhecer que todo avanço tecnológico não substitui a essência humana.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Falando nisso, professores

                                                                    Maria Helena

O/A Professor/a em sala de aula, em muitas situações, quando quer ser ouvido costuma, pedir “Silêncio”, ou seja, ninguém precisa escutá-lo, pois silenciar não significa atenção. Enquanto deveriam pedir para os alunos ouvirem. Estarem atentos.

Nas salas de educação infantil as regras ficam expostas para que as crianças criem os hábitos. Um item que está no quadro e eu sempre questionei é: “esperar a vez de falar”, ou seja, a criança pode brincar, silenciar, mas não ouvir. Quanto deveriam pedir para acolher respeitosamente a fala do outro, porque aquilo que Ele traz é importante. Assim, deveria estar escrito: Ouvir quando o outro fala e somente depois, falar”

Manter uma aula com estratégia dialogada, demanda entender o que é diálogo, não basta somente o estudante responder ao professor, é preciso que o professor assegure o direito daquele que está falando para a classe.

Ser mediador em um diálogo é estar atento a todos.

Enquanto docente nunca permiti que um estudante falasse sem que os outros o acolhessem. Eu pedia – “Espere, aprende que deves ser respeitado enquanto falas.” Quando todos olhassem para ele, ai sim –“prossiga”.

É fácil? Nem um pouco. Dá trabalho? Muito. E como ficam os conteúdos? Quais? Da matéria? Aprendem quando precisarem.

Entendo que vivemos um momento que precisamos do conteúdo dos sujeitos. Isso me acompanha há 30 anos.

Confundimos metodologia com recursos, técnicas...simplificamos, reduzimos...a metodologia vai além, pois deve ser coerente à linha filosófica e à pedagógica. E todos os projetos pedagógicos por mim estudados, pretendem promover a formação ciente de direitos e deveres, no entanto, a metodologia, não passa de um conjunto de estratégias. Dito isso, para o cidadão exercer a sua cidadania, precisa dialogar e, para tal, dever compreender o que é um diálogo, e como mantê-lo. Saber o que a atenção, o que é estar presente no ato de se comunicar.


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Observar, perceber e ser presença

                                                                 Maria Helena

 

Observar algo é um aprendizado, porque demanda um limpar a mente de quaisquer resquícios sobre o objeto/sujeito a sua frente. Não estamos acostumados a ter essa posição, pois estamos sempre cheios de ideias prontas sobre aquilo/aquele que nem conhecemos.

Diante de algo que desejamos, de fato, nos apropriar precisamos ter muito cuidado. Isso vale muito para formas de relacionamento profissional ou pessoal. É um exercício diário.

Enquanto professora, foi um aprendizado contínuo, tentar observar cada ser em um grupo, até aprender técnicas de como utilizar esta valiosa ferramenta. Nossa dificuldade, também, se pauta pela nossa compreensão de planejamento. Temos uma teoria de que ele é flexível, no entanto, ao desenvolvê-lo, nossa visão rígida não nos permite a humildade de estar aberto, ao que realmente acontece.

Temos uma tendência a perder a espontaneidade diante do que É, o real. Buscamos em nossa mala de "experiência" algo pronto para aquele momento, e perdemos uma oportunidade em aprender. Não estou afirmando que não devamos estar preparados, ter a formação necessária. Na verdade, eu lamento muito por aqueles que não percebem a necessidade de ser um permanente estudante, autonomia intelectual.  

Uma das constatações que fiz, foi a de ter que me conhecer, para além do conhecimento científico, me conhecer enquanto ser, identificar quais valores guiam a minha vida, qual o sentido dou para as minhas atitudes e tarefas diárias. Entendo que em muitas profissões, a correria não permite isso. Fiz minha escolha enquanto era professora, de ter esse tempo para pensar, analisar, revisar o que faz sentido para mim e, consequentemente, para os que me cercam.

Assim, para saber observar, ouvir e compreender eu deveria me livrar de preconceitos, de “anestesias” para ver o outro naquilo que ele se apresenta ou representa ser.

Esse exercício constante demanda tempo, demanda transformar a perspectiva sobre a vida própria e dos seus semelhantes. É preciso um ouvir atento, uma atenção inteira. Hábito que, geralmente, não possuímos, pois estamos sempre buscando algo para a “distração”. Assim, nem atenção com o outros e nem consigo mesmo.

Essa urgência pelo viver suscita uma pergunta, o que pode estar por trás disso. É urgente viver sim, contudo de tal maneira que se consiga conviver com a própria companhia, estar presente na própria ação. Parece paradoxo, mas não é. Muitas vezes não percebemos o que comemos, dirigimos longos períodos sem “ver” o que passa. Há uma ausência de si. No entanto, precisamos aprender a estar presente na ação, questionando o sentido da mesma.

Almejamos ter uma vida mais plena, mais leve, mais harmoniosa, portanto, precisamos a cada momento, bater  à própria porta e perguntar: “estás em casa?”.

 Realmente, estar em sintonia com o momento, sem julgar. Sentir o outro em seu tempo, observá-lo e ser honesto, não pode ser uma negociação, um puro treinamento. Existem muitas formas de cursos que auxiliam, mas algumas vezes é como se tentasse pintar o troco e folhas de uma árvore, é artificial, não há consistência. Pois não mexe na terra, nas raízes. É preciso uma imersão e reconhecer o verdadeiro desejo do viver, do ser que transcende muito àquele que criou personagens adequados a cada situação.

Precisamos reconhecer o nosso fundamento, aquilo que nos move, que nos faz desejar agradecer pelo evento de estarmos aqui.

 

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Amor Próprio não é egoísmo

                                                                 Maria Helena

  Este canal destina-se à formação continuada, não somente profissional, pois dentro deste, há um ser e, em tese, humano. Não uma humanidade pautada em uma visão daquele que possui inteligência, portanto se difere dos outros animais. É, sim, uma percepção de humanidade, que a cada dia busca se construir em um amor por si.

Nossa sociedade contemporânea, ainda, reproduz o contexto vivido na modernidade. Em nome da arte e do belo, ainda da espiritualidade, ou religião, muitos modelos imperam e, adequar-se aos padrões, nem tão discretamente pulverizados na sociedade, é um acordo tácito entre cidadãos. Eu entendo como um pacto entre mediocridades.

Somos seres sociais, precisamos dos outros por diversos fatores. Mas, para isso é necessário se reconhecer no cenário, o qual se vive. Ainda, se reconhecer nos potenciais, nas possibilidades que a vida oferece e perceber se está doando o melhor de si para si mesmo. Isso não é egoísmo, partindo do suposto que para amar ao outro eu devo ter desenvolvido um amor por mim. E isso significa o cuidado com a minha vida, respeito com os meus pertences. Saber que somos uma referência, enquanto ser humano, no nosso espaço social. Entender a necessidade da completude.

Iniciei dizendo que este é um canal de formação, reforçando agora essa compreensão da observação de si para além dos números de nossos documentos e títulos acadêmicos.

Entendo ser bastante difícil este mundo frenético de informações, gera um ambiente que, por vezes, escorregamos, esquecendo nossos valores mais sagrados, nossa essência.

Hoje não cabe procurar justificativas nas áreas de filosofia, psicologia, antropologia...é simples...é perguntar o que de bom, bonito, real eu tenho a oferecer para mim e para aqueles que encontro em qualquer ambiente ou situação.

O egoísmo está em quando eu imagino ser merecedor de um apreço maior do que os demais, quando não tenho a dimensão de quem eu represento para mim e os demais, desconhecendo as falhas, as incoerências que todo ser humano possui, pois está em busca do completar-se. O egoísmo dói, fere, machuca. O amor próprio cuida, cicatriza, compreende as próprias defesas.

A tão falada empatia, colocar-se no lugar do outro, para daquele lugar olhar o mundo e, então, tentar compreender o outro. Parece contraditório, porém as vezes nos colocamos no lugar dos outros e não nos colocamos em nosso lugar real, sem fantasias. Para eu cuidar do outro, devo saber cuidar de mim.

É um exercício diário, a cada dia, a cada dia, semana.. alimentar este cuidar de si. Aprender com a natureza, a paciência no desenvolvimento, as reservas para momentos de necessidade, a luz não somente para brilhar, mas para iluminar, o calor na medida certa, as estações, o escurecer para voltar-se para si, o amanhecer para recomeçar.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Eleições e Políticas da Educação

 

                                                                Maria Helena                              

          A filósofa brasileira Lúcia Helena Galvão afirma que aquilo que está por trás das mazelas e misérias humanas é o egoísmo humano, se for procurar no íntimo, é isso. Pauto minha escrita neste princípio: valores nobres em humanidade.

 Gostaria de ser otimista o bastante para acreditar que algumas plataformas de campanha eleitoral são leais e reais.

Estamos em um ano de muita seriedade, pois o País irá eleger os representantes, para comprovar que, de fato, fazemos parte de um cenário democrático.

Quando somos convidados ou chamados para representar alguém ou uma ideia, primeiramente devemos reconhecer o nosso nível de responsabilidade. Se o aceite nos colocará em uma situação clara para todos, ou o aceite traz apenas ganhos pessoais.

O Brasil é um país com grandes extensões, tanto geográficas quanto culturais, o que oferece um suporte para diferentes: valores, conceitos, interesses. Isso pode convergir em muitos conflitos.

Posso falar a partir da janela da educação. Nossos futuros representantes não precisam fazer “promessas”, basta fazer o levantamento do número de leis (legislativo) que não foram colocadas em prática (executivo). Questionar os vários conselhos, para não ficar divulgando proposta que, além de não serem da sua alçada, estão previstas em leis. Fato, é muito incômodo ouvir este tipo de projeto. Não vou dizer que é engraçado, porque o assunto é muito sério.

Penso que não resolve citar PME, PEE, PNE ou os Fóruns, para isso há o acompanhamento e a avaliação. Dialogar sobre educação precisa ter o ouvir, o ver, o falar, pois escrever é muito fácil.

Ratificado, o País é continental, sabemos disso, outro fato, prometer criar um SNE -sistema nacional de educação – isso, quem está no interior das escolas, entende que não é a bala de prata, porque enquanto os sujeitos se importarem somente com as siglas partidárias ou com a sua cadeira, pouco mudará.  E há uma grande caminhada da própria categoria.

O que é necessário, neste momento, é fazer de algumas práticas, de algumas políticas terem força de lei. Usar dos vários órgãos competentes para aquilo que está na lei, seja cumprido. Não conversem somente com os dados, conversem com os fatos do chão das escolas, com os profissionais da educação. Pessoas: profissionais, estudantes e familiares têm sonhos, são brasileiros que os elegem.

Se não pensarem nas pessoas, pensem nos organismos externos fazendo as advertências

terça-feira, 30 de agosto de 2022

AUTONOMIA DO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO

AUTONOMY OF THE MUNICIPAL EDUCATION SYSTEM

Maria Helena

 Percebo a busca com tanto afinco pela autonomia, em todos os seus aspectos, porém quando um município em que constitui em sistema de ensino, possui tanta dificuldade em tentar desenvolver seu trabalho, dentro de seus limites, com base em suas leis e normativas, não faz um esforço político para acertar, é muito estranho.

Reconheço e possuo posts que tratam das questões de ordem culturais e políticas que “cristalizam” o processo, emperram, de fato. Contudo, gerenciar a educação de um município, cabe ao administrador, além do seu perfil de liderança, se pautar em conhecimento acerca de sua seara, pois isso lhe concede o certificado de autoridade.

Respeito, com certeza, a ideia de que se espelhar na forma como seu estado administra a educação valida as ações de um município, haja vista que, por muito tempo, havia uma subordinação, inclusive do conselho de educação municipal ao estadual. No entanto, com a Constituição de 1988 e a LDB, 1996, penso haver um tempo suficiente para tentar se apropriar do que aconteceu.

Vejamos, artigo 8º da LDB: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.” Assim, fica evidente que o Brasil não possui um sistema federal de educação, mas regimes de colaboração. E como autonomia não é sinônimo de soberania, existe o MEC, cujo papel é a elaboração das políticas nacionais de educação, entre outras atribuições, como também existe o Conselho Nacional de Educação.

Diante ao exposto, voltamos `a LDB, competência do estado, entre outras, em seu inciso V: “baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;”, portanto, para o seu sistema, se determinado município não possui nenhum regime de colaboração, arranjo, cooperação, não deverá seguir essas normas. E se desejar seguir, deverá observar o que confere o RI do CME, para saber das possibilidades e, assim criar uma resolução posicionando-se publicamente naquilo que o Sistema de educação está seguindo. E o município, Art. 11, LDB, os Municípios incumbir-se-ão de, entre outros, “organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; [...] baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;”.

Observe que chegamos a um Regimento Interno de um Conselho Municipal, portanto vejam, ao alinhar as normas e leis há um longo caminho que inicia pela CF 1998, passando pela LDB, Constituição Estadual, Lei Orgânica, Lei do Sistema de Educação/Ensino, normativas emanadas do CME, observe conselho não legisla, como pertence ao executivo, normatiza. Ainda temos outras leis federais, acessibilidade, ECA, código civil, e até de defesa do consumidor, não somente pelas escolas privadas. Vejamos uma situação que muito incomoda os gestores da educação, diz respeito à LDB e ao ECA. Inciso V, artigo 11, LDB – “oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.” Prioridade? Ensino fundamental, certo? Lembrando que a obrigatoriedade escolar no Brasil é de 4 a 17 anos. Vamos ao ECA: artigo 54, “§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola”. No mesmo artigo, inciso IV – “atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade;”. Não trouxe a questão da acessibilidade à informação, arquitetônica, crianças que necessitam de um ensino diferenciado, pois é direito subjetivo, constitucional direto à educação escolar.

Como atender as crianças de 0 a três anos de idade, se não pode criar critérios para dizer quais podem e/ou devem frequentar a creche, sendo o número de instituições insuficientes para acolher a demanda? Esse é apenas um assunto.

Neste imbróglio, de que se trata da educação escolar brasileira, onde frequentemente se cai na polêmica e não em buscas de soluções, os anos vão passando e poucos têm a coragem de descascar a “batata quente.”  De que vale a democracia, a gestão democrática, o número exagerado de conselhos, se a maioria que faz parte dos mesmos não optou por estar ali e não há um investimento do poder público em oferecer formação para estes conselheiros e gestores escolares.

O ambiente escolar, ocupa muito mais que a sua estrutura física, seu papel social alterou muito de um simples lugar de ensino, treino para um a compreensão ampla de educação. Não entrarei no mérito do assunto, pois possuo posts neste mesmo Blog.

Voltando ao tema, entendo ser difícil, e não complexo, quando entendemos todos os elementos que compõem a estrutura de um sistema. Não utilizar determinado município como modelo, pois este possui as suas peculiaridades, a sua história. É tempo de reescrever as memórias, estudar as possibilidades, trazer para a atualidade as leis de Sistemas dos anos 2000, 2007. Verificar as Emendas Constitucionais a partir do ano 2000, e as atualizações da LDB e criação de leis federais que incidem diretamente na educação escolar, sobre as quais os conselhos de educação devem normatizar.

Lembrar a todo tempo que a autonomia demanda conhecimento, não se pode utilizar leis e normas de outro sistema sem que se assuma, isto respeitando as normativas internas e documentando por meio de atas, com assinaturas, datadas, arquivadas, não podem estar em palavras “soltas”, e-mails, WhatsApp. Enfatizando aqui, também, as leis da informação e da transparência. Foi o tempo que um livro de capa preta ostentava para alguns privilegiados as decisões, portanto, políticas, assumidas por tal Rede e/ou Sistema e/ou Conselhos.

a cada início de ano, muitos gestores assumem secretarias de educação. Lembre-se, você trabalha para um projeto de educação e não para um partido político. Vamos dar mais um passo para concretizar a autonomia de que nós tanto discursamos.