quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Formas de relacionamento e comunicação na sala de aula

  Forms of relationships and communication in the classroom space                                

                                                                      Maria Helena 

Este artigo é parte dos estudos realizados no curso avançado Especialista em Relacionamentos (IBPC). Objetiva refletir sobre as formas de comunicação em sala de aula. A base teórica se encontra nas aulas dos cursos: Relacionamentos; Personalidade; Psicanálise e Supervisão. Ainda demais reflexões elaboradas a partir de outros autores.

Os quatro tipos de relacionamentos considerados não saudáveis são: a) Tóxicos, onde oscila o autoritarismo entre os dois envolvidos, há momentos em que um está no “poder”, momentos em que o outro assume este “poder”. b) Abusivos, onde um somete abusa de seu suposto poder e o outro se subjuga a isso. c) Dependência Emocional, aquele em que um deposita toda a sua autonomia no outro. d) Disfuncionais, aquele em que prevalece a indiferença entre ambos.

Para considerar um tipo de relacionamento se deve observar muitos indicadores: perfil de personalidade, mecanismos de defesa, prevalência da psique, se feminino, masculino. Um indicador principal é o sofrimento do ser e a sua percepção de sua história, se está se reconhecendo, como é em sua essência.

Os relacionamentos entre seres humanos podem ser:  familiar, casal, pai-filho, mãe-filho, irmãos; no trabalho: colegas, chefia, subordinados. Dependendo do ambiente, mudam muitos apontadores. Verificar o relacionamento deste sujeito, como se comporta em casa, com os amigos, no ambiente de trabalho. Portanto, não é possível simplesmente ouvir do sujeito, comparar com uma tabela e pontuar um tipo de relacionamento, se tóxico, abusivo, disfuncional ou dependente. Se faz necessário um estudo completo, percebendo a complexidade de elementos.

Assim, os relacionamentos possuem histórias próprias. Aqui farei um recorte sobre a relação professor-estudante, há um relacionamento específico. O professor é um profissional, formado para o ensino, contudo, a concepção do papel social da escola, tem se transformado muito, assim como a ciência.

O papel docente no emaranhado sócio-histórico é crucial, porque para além do conhecimento didático, metodológico, há que se pensar que subjacente a isto há um posicionamento político e filosófico.

Para Moscovici (2007) a visão do social ultrapassa o conceito de coletivo. Se a psicologia social revela o pensamento científico pressupondo que os sujeitos se utilizam somente do cognitivo, essa visão científica, se torna limitante. Um sujeito possui reações que lhe são próprias, não há possibilidade em seguir uma dimensão rígida, pois há transformação não somente na natureza, mas nas formas de encarar fatos e situações.

Em cursos de formação docente há um item importante que é a comunicação. A linguagem, permite que as relações e os afetos sejam compreensíveis, através das palavras. Além disso, o pensamento e a linguagem, mesmo sendo habilidades diferentes oferecem sentido às expressões linguísticas. Assim, para Freud, a linguagem é um fenômeno necessário para a realidade humana.

Na sociedade contemporânea, onde a individualidade deu lugar ao egoísmo, manter um relacionamento harmônico está bastante complexo. Há uma relação de poder implícita, principalmente no ambiente de trabalho.

Uma sociedade é formada por vários minigrupos, que se agregam conforme uma identidade mútua entre esses elementos, assim, sentem-se representados pelos mesmos. Não significa afirmar que um indivíduo ou subgrupo aceita os pontos de vista de um grupo e dos que o representam. “Toda opinião diverge, todo juízo diferente representa um desvio em relação ao que é real e verdadeiro. Inevitavelmente é o que acontece quando o juízo emana de um indivíduo ou de um subgrupo minoritário.” (Moscovici, 2011, p.15

De acordo com Jovchelovitch, não existe uma simetria ao transmitir informações, pois não há uma passividade, há interação. Acreditar em conhecimento absoluto, científico ou não cristaliza o ato de conhecer. “Os processos representacionais são uma conquista da comunicação”. (2008, p.177)

O sujeito necessita ter consciência de si e a perspectiva do outro sem trazer para o diálogo somente as suas. “É no diálogo e na comunicação entre diferentes saberes que reside o potencial para decidir o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, aceitável ou inaceitável.” (Jovchelovitch, 2008, p. 211)

No espaço escolar, vislumbra-se que a comunicação tenha uma fluência harmônica, devido a formação acadêmica do docente. Contudo, aprender a comunicar acontece desde a vida infantil deste professor/a. A formação acadêmica não consegue desfazer isto, enquanto não houver a percepção de si, daquele que comete a ação.

Em uma sala de aula o objetivo é a aprendizagem do estudante. Há um planejamento das atividades, contudo é a comunicação que transversaliza o processo de ensinar.

O/A professor/a é um ser humano e, como tal, passou pelo seu desenvolvimento psicossexual, de acordo com a psicanálise freudiana. Portanto, este profissional adulto pode ter muitas feridas escondidas, se utilizando, por vezes, de muitos mecanismos de defesa. Este ser complexo, continua com sua personalidade, independente da formação acadêmica. Assim, a estrutura cerebral, biológica do homem e da mulher, bem como a psiquê feminina e psiquê masculina, (aqui não se trata de gênero) baliza o comportamento do sujeito.

Diante ao exposto, os relacionamentos que acontecem em salas de aula, em que o/a docente deveria ser o “adulto” da relação, percebe-se que, muitas vezes não exerce esse papel, mesmo que esteja trabalhando com crianças e adolescentes. Pois este “adulto” pode trazer a sua criança ferida à tona.

Quando se trata de salas de aulas de jovens e adultos, com relação ao comportamento do estudante, espera-se maior responsabilidade e autonomia desse, no entanto, pode haver ali muitas “crianças feridas” lidando com suas dores, tentando se defender e, uma aula baseada em diálogo, pode tornar-se em relacionamentos: abusivos, tóxicos, dependentes e disfuncionais. Situações nas quais nem docente e nem estudante conseguem se manter em um papel de adulto.

Assim, em muitas salas de aula onde o desrespeito impera, há uma indicação em que não há um relacionamento saudável, existe, sim, muito sofrimento. E a escola, no geral, não percebe a situação desta forma. Por não haver programas de formação continuada ao docente, neste sentido, o docente possui dificuldade em lidar com situações, em que a sua criança ferida é colocada em “xeque”, e esse acaba reproduzindo as expectativas indicadas pela sociedade. Há um distanciamento grande entre as produções teóricas e o fato: crianças feridas pedindo ajuda.

As escolas precisam incluir o docente como ser humano, não somente cognitivo. A empatia por tais profissionais precisa ser a emocional, para poder contribuir em seu desenvolvimento humano.

 

Referências bibliográficas:
GUARESCHI, P. A.; Amon, D.; Guerra, A. (2017). Psicologia, comunicação e pós-verdade. Florianópolis: ABRAPSO.
JOVCHELOVITCH, S. (2008). Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petrópolis, RJ: Vozes.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: RJ, 2007.

IBPC -Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica