segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Matéria, Conteúdo, inter/transdisciplinaridade

                                                                   Maria Helena

 

Costumo dizer que quanto menos a pessoa entende de um assunto, mais tem o que falar. É o meu caso. Desculpem colegas, talvez eu seja redundante e até prolixa.

A disciplinaridade, no fazer escolar, nos remete em “lembrar” dos fragmentos de caixinhas nos passadas por “pseudociências”. E assim, como o homem vai se desenvolvendo, ou não...procura aperfeiçoar sua visão de si próprio e do mundo, denominada esta reflexão de filosófica, pois busca constantemente uma verdade. Porém, para buscá-la necessita primeiramente saber o que se procura. Nesse enredo, as diferentes visões, em um reverso de procurar uma unidade, divergem de uma forma tão disciplinar, buscando a interdisciplinaridade ou até a transdisciplinaridade.

É muito interessante assistir tal discurso, onde por meio, nem mais de disciplina, nem de matéria, como denominávamos, tentar explicar a interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade ao Outro. Por vezes, através de filmes, técnicas...se o exemplo ensina mais que as palavras, o que estamos fazendo?

Pensamos na formação de pessoas reflexivas, que consigam compreender, e, nesse processo, ir abstraindo, interpretando à luz de conhecimentos sócio históricos prévios, analisando aquilo que é uma novidade para ir incorporando ao seu repertório.

A nossa prática nos trai, entrega qual teoria seguimos. Desejamos contribuir na formação de sujeitos em seus múltiplos aspectos, portanto para tal precisaríamos reconhecer tais aspectos. Pensamos e falamos da necessidade de ver o coletivo, para além de um amontoado de sujeitos e aqui iniciam alguns paradoxos. O coletivo é feito por indivíduos, únicos, indivisíveis, com identidade própria, que o distingue dos demais. Se conseguimos percebê-lo assim, e respeitamos sua história individual, começamos a vê-lo de forma inter/transdisciplinar.

Essa premissa, altera a visão que a ciência pedagógica possui do seu planejamento. Ao iniciar determinado tema, perceber que cada sujeito faz uma representação individual, partindo de sua bagagem histórica, que as interações feitas ao longo de sua jornada tiveram interferência de seu aparato neurológico, o acesso ao objeto a ser apreendido, onde isso se encontra em sua escala de valores, enfim, respeitar em sua indivisibilidade. Contudo, para que não fique em uma visão individualista, há que percebê-lo com um SER de pertença, pois, se identifica com determinado grupo, isso lhe gera a tão necessária segurança.

Qual o conteúdo é necessário que o Outro, este sujeito com o qual eu educador/a me identifico, apreenda para desenvolver uma habilidade? Sim, me identifico, pois fazemos parte de um coletivo maior, a Humanidade. Não é disso que estamos falando, em contribuir na formação de seres humanos? Em nossa ingenuidade, e nas várias “ciências”, denominadas humanas, temos os vários conceitos para serem critérios e fundamentar as estratificações. Assim, o não pertencimento a um determinado grupo, faz com que nossa consciência esteja tranquila. Porém, quando vemos os espaços de ensino, como oportunidade de nos assumirmos, como diante de um espelho, a situação muda e muito.

Não estou dizendo que seja fácil fazer este exercício diário, o dever de casa. Não é complexo, é difícil porque assim fomos educados. E para quebrar com esta visão, devemos estar abertos, pois nosso primeiro sentimento é a negação, a resistência, que são mecanismos saudáveis.

Tudo isso para dizer que um projeto de formação que deseja abraçar de forma inter/transdisciplinar o SER, deve primeiro fazer a pergunta: estamos dispostos ao autoconhecimento individual e coletivo de nosso grupo, a partir dos múltiplos aspectos, os quais estudam a humanidade?

Não basta um planejamento à priori, estudando o significado de muti, inter trans, é mais além, é compreender que cada conteúdo não está isolado na sociedade, e ao “descer” pelo conteúdo, ao enraizar historicamente, perceber cada ciência com a sua contribuição, porém, a ciência também é criação humana, não é um ser.