segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Observar, perceber e ser presença

                                                                 Maria Helena

 

Observar algo é um aprendizado, porque demanda um limpar a mente de quaisquer resquícios sobre o objeto/sujeito a sua frente. Não estamos acostumados a ter essa posição, pois estamos sempre cheios de ideias prontas sobre aquilo/aquele que nem conhecemos.

Diante de algo que desejamos, de fato, nos apropriar precisamos ter muito cuidado. Isso vale muito para formas de relacionamento profissional ou pessoal. É um exercício diário.

Enquanto professora, foi um aprendizado contínuo, tentar observar cada ser em um grupo, até aprender técnicas de como utilizar esta valiosa ferramenta. Nossa dificuldade, também, se pauta pela nossa compreensão de planejamento. Temos uma teoria de que ele é flexível, no entanto, ao desenvolvê-lo, nossa visão rígida não nos permite a humildade de estar aberto, ao que realmente acontece.

Temos uma tendência a perder a espontaneidade diante do que É, o real. Buscamos em nossa mala de "experiência" algo pronto para aquele momento, e perdemos uma oportunidade em aprender. Não estou afirmando que não devamos estar preparados, ter a formação necessária. Na verdade, eu lamento muito por aqueles que não percebem a necessidade de ser um permanente estudante, autonomia intelectual.  

Uma das constatações que fiz, foi a de ter que me conhecer, para além do conhecimento científico, me conhecer enquanto ser, identificar quais valores guiam a minha vida, qual o sentido dou para as minhas atitudes e tarefas diárias. Entendo que em muitas profissões, a correria não permite isso. Fiz minha escolha enquanto era professora, de ter esse tempo para pensar, analisar, revisar o que faz sentido para mim e, consequentemente, para os que me cercam.

Assim, para saber observar, ouvir e compreender eu deveria me livrar de preconceitos, de “anestesias” para ver o outro naquilo que ele se apresenta ou representa ser.

Esse exercício constante demanda tempo, demanda transformar a perspectiva sobre a vida própria e dos seus semelhantes. É preciso um ouvir atento, uma atenção inteira. Hábito que, geralmente, não possuímos, pois estamos sempre buscando algo para a “distração”. Assim, nem atenção com o outros e nem consigo mesmo.

Essa urgência pelo viver suscita uma pergunta, o que pode estar por trás disso. É urgente viver sim, contudo de tal maneira que se consiga conviver com a própria companhia, estar presente na própria ação. Parece paradoxo, mas não é. Muitas vezes não percebemos o que comemos, dirigimos longos períodos sem “ver” o que passa. Há uma ausência de si. No entanto, precisamos aprender a estar presente na ação, questionando o sentido da mesma.

Almejamos ter uma vida mais plena, mais leve, mais harmoniosa, portanto, precisamos a cada momento, bater  à própria porta e perguntar: “estás em casa?”.

 Realmente, estar em sintonia com o momento, sem julgar. Sentir o outro em seu tempo, observá-lo e ser honesto, não pode ser uma negociação, um puro treinamento. Existem muitas formas de cursos que auxiliam, mas algumas vezes é como se tentasse pintar o troco e folhas de uma árvore, é artificial, não há consistência. Pois não mexe na terra, nas raízes. É preciso uma imersão e reconhecer o verdadeiro desejo do viver, do ser que transcende muito àquele que criou personagens adequados a cada situação.

Precisamos reconhecer o nosso fundamento, aquilo que nos move, que nos faz desejar agradecer pelo evento de estarmos aqui.