sexta-feira, 22 de maio de 2020

AVALIAÇÃO ESCOLAR EM TEMPOS DE TECNOLOGIA

SCHOOL EVALUATION IN TECHNOLOGY TIMES
Maria Helena


No texto anterior refletimos sobre as questões que envolvem o humano de cada ser diante do contexto atual. Agora iremos nos acercar da escola e seus elementos, lembrando que desde sua instituição legal, várias foram as tendências a partir de linhas filosóficas implantadas de acordo com as necessidades sociais.
Assim, de início a escola não foi feita para todos, contudo para grupos seletos, porém com o “desenvolvimento da sociedade” e lutas de categorias políticas, profissionais, entre outros, chegou-se ao que se denomina escola laica e gratuita para todos. Assim, aprender ler e escrever, fazer contas, frequentar 2 ou 3 anos de escola, devendo sair para trabalhar, foi um avanço para o povo que, finalmente, podia assinar seu nome e não se sentir tão dependente de outrem.
A cada linha pedagógica  apresentada havia em tese, uma série de alterações que, na prática, permanecia um docente a ensinar e um pupilo na condição de aprendiz, mediado por recursos e técnicas: quadro e giz, ou lousa, memorização e  testes. Outras tecnologias foram aparecendo e o docente a se adaptar, porém primeiro viria a negação, resistência ao que é novo. Imagine o docente que até dominava os assuntos e a sequência dos mesmos, perceber  seu aprendiz também possuidor de um livro didático? Que poderia estudá-lo em casa e fazer perguntas ao mestre que, talvez, não conseguisse responder na hora. Pois o modelo de professor e de aluno naquele momento não é o que temos hoje. Vamos além, os livros da escola tecnicista  eram verdadeiros manuais e traziam as respostas no próprio livro, para que o estudante pudesse conferir, por consequência precisaria muito pouco dos conhecimentos do mestre. E quando tiveram acesso às bibliotecas, e as aulas passam a ser dialogadas e não somente o monólogo, exposição do professor.
A cada novo paradigma instalado, o perfil autoritário docente sofria muito, pois foi inculcado que o mestre tudo deveria saber. Sem dúvida que o docente deve conhecer sua disciplina e sua área de conhecimento, problematizá-la, transitar em seus múltiplos aspectos, no entanto o docente não é máquina.
Agora estamos vivendo um novo arquétipo. Assim, das tecnologias do retroprojetor, slides, para celulares, computadores, informações com uma velocidade ímpar, o docente mal conseguia colocar em seus planejamentos anuais e agora deve vivenciar por aulas online. Se para muitos era complicado utilizar o diário informatizado, abrir e-mail diariamente, permitir o uso de calculadoras, levar aparelhos de som e TV para a sala, entendendo-os como meros recursos metodológicos, para dinamizar o processo de aprendizagem, portanto sendo coerente aos objetivos e à avaliação, imagine nas condições que a situação atual impõe.
A avaliação sempre foi uma das dificuldades encontradas pela escola, entre os que pensam a avaliação, tecem as teses e quem está no chão da escola a acompanhar cada estudante, pois atualmente não bastam provas para aferir o quanto de conteúdo o estudante absorveu. Faz-se necessário elaborar um planejamento que contribua na formação destas crianças, adolescentes, jovens e adultos, logo o ensino ganha uma nova conotação. Se no ensino presencial avaliar significa estudar todos os elementos que fazem parte deste contexto ensinar do professor e aprender do estudante, sendo assim,não é algo simples é complexo, mas não difícil para uma escola que constrói conjuntamente o seu projeto pedagógico e estuda nas reuniões: planejamento, perfil de estudante, importância das áreas de conhecimentos, indicadores de avaliação e currículo mínimo...
Vimos que no ensino presencial muitos pecados são cometidos, devido ao sistema de educação caótico o qual possuímos, não temos um conjunto de elementos, temos um mosaico, fragmentos de modelos de diferentes países. Diante ao exposto, no ensino não presencial, em um curto período de tempo, a escola não irá acertar de primeira, é algo novo para muitos. Demanda estudo, compreensão e paciência de toda a sociedade. Temos de lidar primeiro com ranços, resistência e o próprio reconhecimento de que ignorar algo não é pecado. Aceitar a situação vivida por todo o mundo, assim toda a educação escolar está passando por esta prática ou similar. Que o não presencial não é somente tele aula, pois educação a distância existe há muito tempo, utilizando os correios para enviar os livros com os tutoriais de ensino. Muitos lugares do Brasil que não há internet em todos os lares, devem encontrar estratégias para  o estudante conseguir estudar.
Aqui vem outra reflexão, afirmar sobre um distanciamento ainda maior entre as classes sociais devido os que possuem internet e um tutor em casa e os que os pais mal sabem ler é hipocrisia. A bagagem cultural das duas classes sempre esteve instalada, daquele que viaja, está em aulas de língua estrangeira, faz cursinho para tudo e convive com quem domina a língua portuguesa, reconhece o valor da ciência e do outro grupo que vai para a escola porque existem leis LDB, ECA, ainda os auxílios econômicos.
Voltando ao tema avaliação, não resolve esperar passar a pandemia, voltar a aula presencial para conseguir avaliar a metodologia, os docentes, a gestão e cada estudante, pois avaliação sempre foi isso, e não somente saber o que cada estudante aprendeu. é necessário rever o projeto pedagógico e elencar de forma clara os indicadores de avaliação para cada seguimento. Observar as atividades propostas online, os comandos, ou seja, o que o estudante deve fazer, o tempo que levará, quantas disciplinas ele cursa e lembrar que se o docente não está “chamando”, incentivando como na sala, nosso estudante não desenvolveu o perfil de autonomia intelectual capaz de buscar por si mesmo, salvo alguns.
Penso que estamos vivendo uma fase difícil, pois somos resistentes às mudanças, temos muito medo do erro, contudo quando o erro vem em forma de hipótese foi uma tentativa importante. Aquele que se permitir sairá mais fortalecido, com mais propriedade e um novo olhar, ampliando avaliação no processo ensino aprendizagem para avaliação do processo ensino aprendizagem.



quinta-feira, 21 de maio de 2020

Tempos de pandemia e globalização: novo cenário da educação escolar

Times of pandemic and globalization: new scenario of school education
Maria Helena

       O desejo de algumas sociedades, durante muito tempo, era ter tudo em comum. Contudo, a relação de poder, que se estabelece entre os seres denominados humanos, não permite aos mesmos viver em harmonia. O comum, comunitário, há que se pensar nos diversos grupos que compõem a sociedade, partindo de seus valores e sua cultura.

A globalização surge de uma visão neoliberal, tendo o capital como prioridade e não partilhar os benefícios com os diversos países, independente de seu ranking.

Estamos vivendo sob um novo paradigma e cada ciência lança sobre o mesmo o seu olhar, descrevendo as características a partir de sua posição política e filosófica. Portanto, ao ler este texto serão várias as "opiniões" sobre o mesmo.

Fazendo uma incursão na história podemos perceber momentos aos quais a humanidade teve que se adequar rapidamente às novas condições impostas, guerras, “holocausto”, peste negra, gripe espanhola, tsunamis, furacões... Ainda, com relação às questões da economia, da agricultura manual para as máquinas, do serviço artesanal para a manufatura, à revolução industrial. Todas essas situações geraram novas condições à humanidade, ocasionando incerteza, insegurança, buscando um continente seguro nestes tempos de improviso e provisório.

Improviso sim, pois um novo paradigma não permite tempo para planejar-se, provisório, pois não se tem certeza de prazos. Toda a rotina é alterada, estamos diante de uma transformação nos hábitos, alimentação, lazer, trabalho e nunca a tecnologia esteve tão presente em nossas vidas. Mesmo o homem sendo um ser social, se vê limitado por poder ter suas relações interpessoais mediada por aparelhos, celulares, computadores, etc...os mais resistentes estão se rendendo e tendo que aprender a sobreviver neste contexto.

Victor Frankl, psiquiatra, viu sua família sucumbir no holocausto e ele sobreviveu, com muitos aprendizados, dentre eles, afirma que diante de uma situação imposta de forma inesperada, o homem para se adaptar tem muitas alterações, inclusive físicas.

Trazendo esse assunto para a pauta de uma escola, penso ser muito ingênuo tentar continuar ministrando as aulas apenas mudando do presencial para o não presencial, adequação de estratégias, planejamento e avaliação. A questão demanda uma discussão mais profunda, o mundo está tentando literalmente sobreviver. A mídia em tempo real traz números de infectados, de óbitos, de brigas políticas, as fake news. Há uma intoxicação diária daqueles que consomem informações. Sem dúvida não é necessário chegar ao ponto de alienar-se. Em contraponto não chegar ao ponto de adoecer, os números estão indicando o aumento da depressão, síndrome do pânico, fobia de toda ordem. 

Diante do cenário apresentado, é preciso pensar a educação escolar, com o papel exclusivo, o qual a escola possui, o ensino, e como este não é neutro, está mergulhado na cultura. Por incrível que pareça vem ao encontro de muitas premissas assumidas pela BNCC, ao propiciar o desenvolvimento de um ser humano integral e não somente intelecto. As 10 competências sugerem que o adolescente, jovem e o adulto do século XXI precisam mais que o domínio de conteúdos e sim saber o que e quando fazer com tal currículo, ser um sujeito de direitos, traçando a sua jornada e seja o autor de sua história. 

Esse contexto propicia a oportunidade em rever valores individuais e coletivos, sociais, reconhecer o estudante como alguém que domina a informática, contudo não domina seus sentimentos diante deste turbilhão de informações.

Mais que pensar em recuperação paralela, urge planejar os tempos de estudantes e docentes, para tanto é necessário tomar um distanciamento pedagógico e observar a situação com o olhar da filosofia, psicologia e espiritualidade. Essa geração nunca precisou tanto do outro, do verbo "esperançar", de sua família, e admitir que sozinho é frágil, mas em grupo, sendo humilde, torna-se forte. Deixar de lado uma vida agendada, para viver o presente, tirar lições que vão além dos conteúdos escolares. 

Compreendo e conheço as leis a serem cumpridas, normativas dos sistemas, contudo tenho certeza que um ano letivo diante de vidas, essas possuem muito mais valor, pois há tempo para tudo. Quando esse estudante despertar em sua necessidade de conhecimentos, identificar seus “buracos”, como trata a psicóloga Alicia Fernandes, ele mesmo irá buscar a bagagem necessária nas diversas ciências. Vamos pensar nisso com a inteligência fora dos padrões estabelecidos e com muito amor pela humanidade.