Maria Helena
Durante toda a vida escolar
de um sujeito, esse passa por centenas de aulas. Questiona-se com os
estudantes, se gostou da aula, qual aula mais gosta, entre outros. Os docentes falam
de suas aulas, como essa se passou, se foi conturbada, produtiva, enfim, sempre
emitindo um julgamento. Contudo, ao interrogar professores sobre o que é uma
aula, se obtém como resposta que é interação, troca, ensino. Acrescento, espaço
de tempo dedicado ao ensino, encontro planejado, organizado, entre sujeitos com
papeis definidos.
Há interação, há trocas, no
entanto, os conhecimentos que se ‘trocam’ não podem ser os mesmos entre
professor e aluno, pois o papel do professor é o de propiciar as situações de
ensino. A aprendizagem do professor acontece em outro nível, seus conteúdos
apreendidos dizem respeito ao como o estudante se apropria do conhecimento, enquanto a aprendizagem do aluno é com referência aos conteúdos estabelecidos
pelo componente curricular a ser desenvolvido naquela aula.
Sendo a aula um encontro, há
um ritual e uma sequência, começo, meio e fechamento. O espaço físico,
distribuição da mobília (mesas e cadeiras) de forma que os estudantes se vejam,
ou se não há possibilidade, que fiquem de dois em dois, em grupos, ou como se
fossem duas grandes mesas. Dependerá das características de cada turma e de recursos e técnicas que o professor pretende utilizar, embasados em uma linha metodológica.
Inicia-se o encontro com a acolhida,
saudando os estudantes, olhando para os mesmos, os vendo, de fato.
Quanto à chamada, esta pode ser feita no
inicio ou em outro momento da aula. Contudo, faz parte da aula, não devendo
ser feita às pressas no final, pois essa cumpre duas funções primordiais, uma
de caráter estritamente pedagógico que a percepção de quem está na sala é o
CHAMAR para o aprendizado, dizendo o nome da pessoa e olhando-a nos olhos.
Também tem um caráter de legislação, pois é um registro de que, naquela data e
horário, determinado cidadão estava naquele local, portanto sendo uma prova
jurídica.
Instigando os professores
sobre a sequencia de uma aula, esses trazem a importância de verificar o que ficou da
aula passada, o que chamam de feedback, revisão. Ou seja, quais conteúdos os
estudantes conseguiram se apropriar. No entanto, o professor somente terá o
retorno desejado se questionar os alunos e não ele mesmo fizer uma síntese da
aula passada. Portanto, para que seja um tempo produtivo, o professor faz
questionamentos sobre os conceitos essenciais, as operações mentais importantes
que, de fato, o estudante necessite naquela área de conhecimento.
O desenvolvimento da aula,
partindo dos conhecimentos prévios acerca dos novos conceitos, deve ser feito
com a coerência das características da turma, conteúdo, metodologia. Tendo
muito claro os critérios para avaliar, saber quais indicadores serão utilizados,
assim oferecendo balizas de que seus objetivos estão sendo desenvolvidos.
Uma etapa fundamental da
aula é o fechamento, momento em que o professor se certifica de que se fez
entender com relação ao novo conteúdo, acompanhando a execução dos exercícios,
as orientações de tarefas, trabalhos, deixando a sala de aula organizada para o
próximo professor.
A aula deve ser planejada
até a finalização para que ao bater o sinal, o professor não termine sua aula no
“susto”, deixando questões importantes sem o encaminhamento necessário.
Diante do exposto, se
compreende quantos elementos transitam em uma aula, relação
professor-estudante, conteúdos, metodologia, questões de legislação que são as
normas decorrentes das resoluções, tempo de aula. Somente na relação professor
estudante temos as questões individuais entre sujeitos que são suas crenças,
valores, personalidade, filosofias, simpatias, desejos de aprender ou não e de
ensinar, comprometimento com a aprendizagem, também os aspectos cognitivos, emocionais e
espirituais.
Com relação à legislação,
tempo dedicado à aula, conteúdos estabelecidos, quantidade de aulas durante o
ano, forma de avaliar. Questões pertinentes ao determinado Sistema Educacional
que, por sua vez, tem a sua história.
Portanto, é possível
observar que uma aula transcende uma simples interação. Há inúmeros aspectos
que influenciam esta interação. É necessário que o professor tenha esta
percepção fazendo a reflexão na prática: em que medida
o planejamento elaborado pelo professor levou em consideração a realidade posta
e não somente aspectos estereotipados pelo docente, que já estão cristalizados
em seu pensamento?
Cada aula com cada turma é
única, pois são grupos distintos com realidades específicas. P
orém, o ato de
planejar uma aula é um estudo de uma ação em um tempo limite, observando as
possibilidades, as variáveis que se entrecruzam.
Neste sentido, se ressalta
que uma aula não é uma ação neutra, há um posicionamento, porquanto política.
Uma aula deixa marcas, afeta cada estudante de maneiras diversas, fugindo, ao
controle do professor. Mais que ensinar conteúdos da matéria em uma aula, o
professor, por meio da mediação, testemunha seus valores.
Diante do exposto, fica
evidente de que cabe ao professor estudar sempre a sua prática, porque o
cenário em que atua é complexo, sendo muitos os elementos a serem percebidos
pelo docente. Reconhece-se que sua situação não é simples, no entanto, desenvolverá
seu trabalho dentro dos limites estabelecidos pela realidade, tendo sempre como
fronteira a sua ética e comprometimento com o ser humano.
REFERÊNCIAS:
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia. São
Paulo. Paz e Terra.1996.
MASETTO,
Marcos Tarciso. Competências Pedagógicas do Professor Universitário. São Paulo:
Summus, 2003.
WEFFORT,
Madalena Freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I.
São Paulo: Espaço Pedagógico.
VASCONCELLOS,
Celso dos Santos. Coordenação do
Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de
aula. 3ª ed. São Paulo: Libertad, 2002.