quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Proposta pedagógica escolar – PPP: leis, normas e práticas

 

        Maria Helena

Passar por diversos espaços escolares nos proporciona experiências singulares e, quando estamos estudando a própria prática, podemos ter bons aprendizados. Trabalhei da educação infantil ao superior, em escolas de rede públicas e particulares, da periferia ao centro, assim pude aprender um pouco sobre o projeto pedagógico. Como assessora educacional em diferentes Redes tive o privilégio de estudar muito material que emergiram do chão da escola, como outros de puro carater técnico, cumprindo leis.

Todos os PPPs possuem o carater técnico e cumprem leis, mas isso não é a razão de ser deste movimento. Sua razão de existir é oferecer um rumo para a escola, em seus aspectos políticos, filosóficos para que o pedagógico possa se efetivar.

Percebo que os posts mais acessados neste Blog são sobre o PPP, portanto observo que, de fato, há um interesse em discuti-lo, compreendê-lo.

Nos 30 anos que observo o PPP, com esta denominação, isto antes da atual LDB, 9394/1996, a escrita do documento não modificou tanto assim, pelo menos em minha região (sul), porém minha compreensão modificou bastante, penso que devido a atitude de poder estar sempre estudando minha prática, percebendo as incoerências discurso-teoria-chão da escola.

Uma das inconsistências percebidas está justamente na base em termos normativos e legal. Muitos municípios, acabam atualizando o PPP da Rede e esquecem de atualizar uma normativa que é referente ao Sistema, o que implica tratar de escolas particulares, quando se menciona a educação infantil. Portanto, leis não atualizadas, divergindo de normas que são da alçada do CME, ainda não incluindo leis federais que incidem sobre a comunidade escolar, exemplo: ECA, Acessibilidade, bullying, entre outras, de acordo com a configuração da escola. Outro exemplo é uma escola que deve prestar contas ao CEE e ao CME.

Outra situação vulnerável à escola é quando esta possui uma prática totalmente divergente da apontada no PPP, em qualquer aspecto que esteja imerso no fazer pedagógico, porque a razão do existir de uma escola é o ensinar e, isto na atualidade, possui uma conotação muito diferente de 20 anos atrás, principalmente devido à BNCC.

Ao analisar Projetos e Regimentos percebo os mesmos divergindo dentro da mesma unidade escolar. Isso faz com que a escola se torne mais vulnerável em termos jurídicos.

Antes de atualizar qualquer PPP, é necessário a escola em um todo compreender o significado deste movimento, portanto é necessário revisar o que as pessoas sobem sobre ele. Para que serve o documento, o que este sintetiza e sistematiza. Reconhecer no PPP a síntese dos estudos, a sistematização necessária para a escola ter a sua prática e menos incertezas, reconhecendo que qualquer pessoa dentro da escola consegue falar sobre o mesmo. Sem dúvida, a partir de sua janela, se é pai, estudante, docente ou gestor.

Veja bem, uma ou outra situação inusitada não prevista no planejamento, normas, regras que são a alma e o corpo da proposta pedagógica é aceitável, pois a escola está viva. Agora, lamento informar, quando semanalmente ocorrem situações, as quais não encontram um amparo no PPP ou RI, é falta de conhecimento da importância dos movimentos de estudos, para chegarem a uma sistematização sólida do documento.

É preciso entender de planejamento estratégico, de teoria de aprendizagem, de linhas filosóficas, de leis e normativas. Necessita elaborar um cronograma e seguir com o mesmo. Não basta colocar os profissionais “discutindo” sobre o plano anterior, é mais que isso. Portanto, é impossível chamar de atualização do projeto, quando ou somente é elaborado pela gestão, ou tentar atualizar em uma semana de maneira contínua. Isso pode acorrer se for a atualização de um item fundamental, sendo uma solicitação do Conselho ao qual pertence, ou ainda avaliar somente as ações previstas para um ano. Porém, a denominação “atualizar”, depois de 4, 5 anos, demanda planejamento e muito estudo da equipe coordenadora do projeto.

Diante ao exposto, seria interessante e prático a escola verificar no sumário do documento anterior e elencar por prioriadde a ordem do estudo, exemplo: linha filosófica, teorias, diagnóstico físico, etc... levar para o grupo segurança, acreditando para que os "outros"também acreditem nas riquezas encontradas durante a reelaboração do PPP.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Psicopatologias emocionais da/na condição docente no Brasil

                                    Emotional psychopathologies of/in the teaching condition in Brazil   

                                                                  Maria Helena

Para Dalgalarrondo (2008, p. 24) “os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente e os sintomas, isto é, vivências subjetivas relatadas pelo paciente”. Portanto, tão importante a comunicação entre analista e analisando, como a entrevista preliminar.

O módulo dedicado às psicopatologias, indica conceitos, características de doenças emocionais que aparecem frequentemente em muitos profissionais.  Infelizmente as estatísticas apontam números que crescem a cada ano

Para Passos (2019) a ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas no mundo. E no Brasil dados mostram que 86% sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão.  Cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do estresse. Outros dados recentes mostram que 49% dos trabalhadores no Brasil já tiveram crises de ansiedade, enquanto 44% dizem ter sofrido com o esgotamento mental devido ao stress profissional.

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) entrevistaram no início de 2017. 762 profissionais de muitos estados, 71% ficaram afastados da sala de aula. O estresse (65,7%), seguido por depressão (53,7%), alergia a pó (47,2%), insônia (41,5%) e hipertensão arterial (41,3%). Pelo menos 531 casos de ansiedade. (ANASPS, 2017)

Outra pesquisa que traz quantidade equivalentes foi elaborada pela Nova Escola no ano de 2018, com cinco mil educadores. Identificando que 66% desses profissionais precisaram se afastar do trabalho. A ansiedade afeta 68% dos educadores; estresse e dores de cabeça (63%); insônia (39%); dores nos membros (38%) e alergias (38%). Além disso, 28% deles afirmaram que sofrem ou sofreram de depressão. 87% dos participantes acreditam que o seu problema é ocasionado ou intensificado pelo trabalho (TEIXEIRA, 2018)

Transitando no universo da educação há mais de 30 anos, é possível constar que muito dos dados utilizados nas referidas pesquisas, são de docentes os quais procuram ajuda profissional. Muitos, diante dos trâmites legais, de todo o cenário fragilizado da educação, acabam com automedicação, atestados médicos de poucos dias, insuficientes para fazer um tratamento eficiente para tais patologias.

Os sintomas normalmente atribuídos à depressão são: transtorno de humor, falta de esperança, desmotivação, insegurança, isolamento social e familiar, perda de interesse por atividades antes prazerosas, apatia, falta de apetite e de concentração, insônia, perda de memória. (MÓDULO 6, p. 36)

A ansiedade é associada a uma forma de angústia decorrente da antecipação de acontecimentos futuros, o que pode ser bom ou ruim. A ansiedade excessiva pode se transformar num distúrbio de ansiedade, ou seja, numa doença. No transtorno de ansiedade, as pessoas não têm tempo para o agora: elas sofrem por antecipação a uma situação. (MÓDULO 6, p. 63)

As atribuições de um educador são: planejamento, ministrar aulas, avaliar, participar de todos os eventos da escola. Fazendo uma análise dos dados com os conceitos das patologias com mais incidência nas pesquisas é possível imaginar uma pessoa que lida com adolescentes, crianças, com os colegas tendo todos os sintomas descritos. Indo além, muitas vezes sendo mal compreendido pela direção. Embora a ciência tenha avançado muito, as doenças denominadas emocionais ainda se confundem com preguiça, falta de iniciativa, entre outras avaliações.

A docência traz, em sua história, um percurso com uma grande fratura, assim como outras instituições da sociedade. A profissão do professor, como alguém respeitado pois ensinava, havia uma seleção para atuar na área, do início do século XX, para o final do mesmo século, a partir dos anos 1980, pela falta de compreensão das leis, entre outros elementos, fazendo com que a categoria ganhasse uma nova característica, profissionais mais engajados em políticas, devido ao momento em o Brasil passava. Cursos de graduação favorecendo a entrada, devido a migração para cursos com mais status, juntando a isso, estudantes na escola básica sendo obrigado a estudar sem o desejo. Famílias focadas em seu trabalho, deixando de acompanhar o desenvolvimento do filho na escola.  Mesmo nesse cenário, a relação de poder autoritária imperou, fazendo com que os docentes buscassem mais os direitos, esquecendo alguns deveres e se perderam diante da sociedade. Assim, a figura do professor se desgastou, o local destinado ao ensino passou a ter um papel social desconhecido para a categoria, o espaço do pensar, da ciência, tanto de formação docente quando das crianças e adolescentes passa a ser percebido como assistência social.

Diante ao exposto, o docente passa a ser pensado pelo outro, pelos doutores das diferentes áreas científicas ou até uma justaposição de saberes.  Meio paradoxo, pois seria um espaço de conhecimento, até favorecendo às relações interpessoais.  Talvez como se percebe nas midias sociais há uma estereótipo a ser compreendido, quem é o sujeito atrás das imagens, tentando ler o que está oculto, buscando atualizar-se sem saber direito em que.

Além de ao estar imerso em todas as relações que decorrem deste contexto, estar com um atestado psiquiátrico na mão é sinônimo de fraqueza, quando deveria ser de força, pois está buscando a cura para seu desconforto.

 Referências Bibliográficas:

 ANASPS. Cerca de 70% dos professores se afastam por problemas emocionais (2017). Disponível em: Cerca de 70% dos professores se afastam por problemas emocionais – Anasps. Acesso em:30/08/2021

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre. Artmed, 2008.

 MÓDULO 6. Curso de formação em psicanálise - psicanaliseclinica.com (2020)

PASSOS, Letícia. Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental. REVISTA VEJA. (2019) Disponível em: Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental | VEJA (abril.com.br). Acesso em:27/08/2021

TEIXEIRA, Larissa. Nova Escola. 2018. 66% dos professores já precisaram se afastar por problemas de saúde. Disponível em: 66% dos professores já precisaram se afastar por problemas de saúde (novaescola.org.br) Acesso em: 30/08/2021