segunda-feira, 8 de junho de 2020

BNCC E PANDEMIA: HORA DE PÔR EM PRÁTICA, MAS COMO DEIXAR O TERRITÓRIO CONHECIDO?



Maria Helena

Neste Blog tenho textos de que tratam do PME, BNCC, onde foram momentos de pensar com um novo olhar para a educação escolar. Toda a sociedade foi “chamada” para refletir a educação. Falo disso, por ter participado efetivamente destes movimentos. Sonhar com uma educação integral. Lembrando que não estamos falando de período estendido, mas de perceber o ser em sua integralidade, muito além do intelecto.
O PME trazia em seus escritos e traz em seu processo, seus eixos, níveis e modalidades da educação, com diagnósticos precisos, muita estatística. Oferece oportunidade de a escola poder olhar-se no espelho e comparar os dados obtidos, verificando a que distância se estaria do desejável e o que fazer para efetivar os objetivos e materializar as ações. Por sua vez, a BNCC, decorrente de muitos movimentos, pautada principalmente nas DCNs, portanto desde 2009, 2010...chega ao docente como se não fizesse parte de um processo desde a CF de 1988 e LDB 9394 de 1996.
Não estou procurando responsáveis, estou propondo uma reflexão mais enraizada. O que tem a ver com o momento ao qual vivemos na sociedade escolarizada?
Outra questão que venho constatando por meio do meu trabalho é a confusão feita entre PCNs e BNCC, competência, habilidades e objetivos, evidenciados nos PPPs que analiso e nas falas recorrentes dos professores em cursos de formação.
É preciso que os gestores tenham a clareza de que todos estes documentos fazem parte do mesmo cenário. E se as competências e habilidades propostas na BNCC estavam sendo implantadas de forma processual, basta voltar ao documento e rever principalmente as competências de n. 5, 8 e 9, todas sendo utilizadas devido ao contexto criado pela pandemia, porém, ainda, de forma paralela aos planejamentos exigidos pelas escolas. E sabemos que linhas paralelas não se encontram. E se a própria escola não se perceber disso, haverá um grande paradoxo o qual será ao acabar a pandemia irão “treinar” o planejamento por competências e habilidades, entendendo que não são sinônimos de objetivos geral e específicos de um componente curricular.
Votando à Base Curricular em sua Competência de n 5, que enfoca a utilização da tecnologia, pois essa há muito é utilizada em sala de aula, porém com uma certa reserva por muitos docentes, por não compreenderem que a máquina não aprende pelo estudante, mas irá sim proporcionar situações de operações mentais problematizadoras, o que auxilia no desenvolvimento da autonomia intelectual do aprendiz.
O item n. 8 de que trata de cuidar da saúde, mas qual o conceito de saúde? Saúde é muito mais que a ausência de doenças. Como viver diariamente cuidando da mente e do corpo, das relações intra e interpessoais? Essa vem ao encontro da próxima competência, a de n. 9, sobre a empatia. Atualmente há muitos cursos online gratuitos que ensinam a importância da empatia. Convém refletir, o que representa ensinar a ser empático quando, o próprio ser humano adulto, pais e docentes também não aprenderam, é um exercício diário. Há que se despir de muitos estereótipos.
As 10 ações pautadas em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários, expressos na BNCC acabam se desdobrando em vários itens que devem ser desenvolvidos em diferentes componentes curriculares e séries.
Reconheço que em todas as profissões existam os que não possuem responsabilidade e comprometimento nem consigo mesmo, imagina-se com o “outro", contudo percebo um paradoxo deste movimento, são os tipos de controle sobre docentes e estudantes, pois há uma certeza subjacente a este, de que somente executarão suas tarefas se houver supervisão. Como desenvolver autoria e autonomia quando o contexto oferece treinamentos, porém o controle e cobranças são mais contundentes e não se cria um ambiente mais propício ao comprometimento? Estranho, pois, todo documento de PPP trata em seu interior “da formação de sujeitos comprometidos com o local e o global.”
É humano sentir-se seguro em seu território, no que lhe é conhecido, faz sentido, assim trabalhar com o ser humano respeitando uma série de fatores é um grande desafio.
Essa situação em que o pais, infelizmente, está imerso acaba sendo oportuna para pôr em prática as vivências de tudo que propõe a BNCC, no entanto, isso não é uma metodologia, há de se reinventar, olhar o mundo por outras janelas, ressignificar o papel da escola. Reconhecer que muitos valores devem atravessar os séculos, porém, outros não são valores são hábitos criados para que a sociedade não saia da caverna e não perceba o objeto observado: as sombras, pois estão de costas para o sol. E dizer que Platão “sacou” isso há muito tempo.