sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

 


Maria Helena

 

Não possuo nenhuma pesquisa ou qualquer dado, nem mesmo vasculhei no google, apenas minha vivência na e com a educação escolar, no que se refere ao tema.

É recorrente ao conversar com profissionais, estudar projetos pedagógicos, ainda participação em avaliações de PMEs, sobre o tema educação especial, que o assunto não recaia para estudantes os quais apresentem alguma deficiência em seu processo de aprendizagem.

Como não possuímos concursos públicos frequentes, fazendo com que haja muita rotatividade de docentes nas escolas, assim não conhecem os alunos, nem uma cultura de fazer do histórico escolar, aquilo que lhe é inerente, ou seja, um documento onde conste a história de um estudante, ao início de cada ano ao fazer o diagnóstico, os docentes rapidamente conseguem fazer suas “sentenças”.

Sem querer generalizar e, muito menos, responsabilizar o docente, pois o ensino escolar constitui-se em um sistema, assim existem muitos elementos, como citado: cultura escolar, isso é muito forte, possui raízes profundas, temos a formação docente, e a própria equipe pedagógica que, por vezes, não possui uma habilitação necessária para o desenvolvimento de sua função.

Voltando ao tema, partindo do primeiro diagnóstico o docente tem o seu olhar para os estudantes que não atenderam aos objetivos propostos e aqueles cujo comportamento excede qualquer padrão estipulado para a faixa etária, ou seja, “sem limites”. Assim, se inicia a saga, conforme cada sistema de ensino e cultura escolar. Conversa com orientador/a pedagógico ou diretor/a, conversa com pais. Também temos aqui outro indicador, a idade e ano que a criança está cursando. Veja bem uma criança que está chegando na escola, possui o seu histórico de uma escola anterior. Uma criança chegando, pela primeira vez, seria na educação infantil, 4 anos. Portanto, é necessário conhecer as características e necessidades de uma criança nesta faixa etária, sobre linguagem expressiva e compreensiva, motricidade, sociabilidade, execução de atividades, etc. uma criança no ensino fundamental, além dos critérios citados, verificar também o domínio dos conteúdos, competências e habilidades que deveriam ter desenvolvido. Deste modo, um diagnóstico somente tem validade quando temos, um quadro real e um padrão, a serem comparados.

Mesmo os cursos de licenciaturas oferecendo uma disciplina de psicologia e uma de inclusão, ainda que muitos docentes cursem especialização sobre educação especial, sem dúvida, isso ajuda, contudo, a forma com que um sistema de ensino, por menor que seja, desenvolve seu trabalho com relação à educação especial, ainda é muito fragmentado.

Outro dado importante é a percepção e diferenciação nos encaminhamentos de uma criança com altas habilidades e aquela super estimulada pela família. Sabemos que um dos fatores que contribuem no aprendizado é o contato com o objeto a ser apreendido. Assim uma família cuja cultura traz em sua escala de valores a aquisição de livros, hábito de leitura, controle em aparelhos tecnológicos, TV, computador e também oferece atividades diferenciadas desafiando o raciocínio da criança, jogos, brincadeiras, onde há um estímulo diário para a aquisição de uma linguagem falada e escrita dentro de um padrão, essa criança consegue elaborar perguntas, sistematizar o pensamento, interpretar situações, analisar e sintetizar, ainda criar alternativas diferentes para determinado raciocínio, portanto se destacará dos demais colegas de sala. Sendo assim, esse estudante não pode ser imediatamente diagnosticado com altas habilidades. Pois os demais, provavelmente vivem de uma forma muito parecida entre si. Os pais ou cuidadores privilegiam a TV, computadores, redes sociais. Não possuem o hábito da leitura, do diálogo, conversam o essencial. As crianças são bastante estimuladas com cores, jogos, redes sociais, porém sem a mediação de um adulto, sem verificar quantas horas se detém diante de um programa, conversas com amigos, quais os tipos de jogos.

Diante ao exposto é necessário reconhecer e fazer os encaminhamentos necessários sem julgamentos prévios, conhecer o que consta no histórico do aluno. Por isso a importância do registro nos conselhos de classe. Observar se o planejamento é por competências e habilidades ou objetivos referentes aos conteúdos. Quando chamar a família para uma conversa, deve-se conhecer este histórico, ter os registros de chamadas anteriores, se for o caso, das medidas tomadas na época, dos encaminhamentos.

Com tantas leis, normas, pesquisas que o Brasil possui com referência ao tema, ainda se peca muito em ações. Muita morosidade até chegar ao diagnóstico e encaminhamento de uma educação necessária ao quadro daquele estudante. No meu parecer chamar de educação especial é redundante, pois o direito à educação é subjetivo, sendo para todos. E TODOS, não há especificações, exceções.  

Necessitamos fazer a lição de casa, trazer à tona esse tema, não com uma visão estereotipada e ouvidos viciados, contudo, com um novo olhar. Não resolve criar mais normativas, com certeza todo projeto pedagógico e regimento interno escolar prevê tudo que aqui está. Cada profissional em sua função: gestor municipal, escolar, coordenadores e demais que exercem função similar, psicólogos e docentes devem buscar, primeiro em si, quais são os seus conhecimentos acerca do assunto, depois entender que cada sujeito é o resultado da sua história. Não encontraremos dois seres iguais, portanto verificar características parecidas nos estudantes, não necessariamente esses precisem da mesma forma de intervenção.

Educação especial, em minha visão, especial deve ser o olhar daqueles que vivem a educação sobre cada sujeito. Pois não basta escrever no projeto pedagógico: ”contribuir na formação de um sujeito capaz de cumprir seus deveres e reconhecer seus direitos, exercendo sua cidadania. ” O espaço da educação escolar está cheio de frases feitas, clichês, está na hora de agir.