segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Professora Maria Helena da Silva Meller



A avaliação é uma das dificuldades encontradas pelos docentes nos interiores das salas de aula. São muitas as teorias, contudo na hora do registro o docente sente-se inseguro. Quando se trata da educação infantil, muito mais.
Não é por falta de legislação, como veremos. E muito menos por normatizações de cada sistema, por meio de seus conselhos de educação.
Vejamos o Art. 29 da LDB.  “A educação infantil, (...) tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, (...).”
Uma questão bastante abrangente que demanda estudo e planejamento, compreensão de cada termo designado - físico, psicológico, intelectual e social. Percebendo que não acontecem isoladas, o emocional, desenvolve-se no social, a psicomotricidade física depende do cognitivo. As percepções do físico dependem da interação. Portanto, demanda estudo da coordenação pedagógica para elaboração da proposta pedagógica.
No que se refere à avaliação na educação infantil, a LDB afirma – “avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.”
Na assertiva anterior, registrar o desenvolvimento, significa conhecer as caraterísticas de cada criança nos respectivos aspectos, comparando aos aspectos considerados “normais” para uma criança na referida idade, ou seja, com seis meses, oito meses, um ano, um ano e meio, e assim até os cinco anos.
De acordo com as DCNs - Diretrizes Curriculares Nacionais - Educação infantil – definição de Criança – “Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva(...).”
A instituição de educação infantil segue um currículo, portanto vamos a ele. De acordo com as DCNs. Currículo – “Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.”
A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil, segundo as DCNs, deve “ ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens (...).” Pois a criança “brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.” (DCNs, 2010)
Sugundo Kulkamp (2013) “Psicomotricidade é a evolução das relações recíprocas, incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos, psicológicos e sociais que intervém na integração, elaboração e realização do movimento humano.” 
Assim, seria necessário rever este termo e conceito que foi marginalizado por certo tempo, fora de moda.
A referida autora, ainda, afirma “a importância do trabalho com a lateralidade, o esquema corporal, habilidades manuais, coordenação motora fina e ampla, orientação temporal, deslocamento, equilíbrio, flexibilidade do corpo, tonicidade muscular.”
Do mesmo modo, fica evidenciado a importância do planejamento focado na legislação, nas diretrizes curriculares, nas teorias atuais. Eis a questão, a importância do diagnóstico, dos indicadores para acompanhar a avaliação.
Convém refletir sobre o plano de ensino para cada faixa etária da educação infantil e sua previsão de como avaliar. Quais os objetivos? São elaborados baseados nos aspectos, em linguagens, conteúdos, em atividades?
Para o professor Cipriano Luckesi, (2012), referência em avaliação nas academias, cursos de licenciaturas, o objeto da ação avaliativa é aquele que se encontra definido no objetivo da ação. Continuando sua reflexão ressalta que a avaliação será uma prática de investigação da qualidade dos resultados obtidos segundo a formulação curricular. “Se a formulação está estruturada em aspectos cognitivos, psicomotores, nas áreas de conhecimentos e linguagens, esses devem ser os aspectos a serem levando em conta na elaboração de recurso técnicos de coleta de dados em seus instrumentos de coleta de dados.”
Diante do exposto, o plano de ensino de cada docente, pautado na proposta pedagógica, em primeiro lugar deverá definir quais aspectos serão a base para a avaliação. Para poder indicar os instrumentos de coleta de dados, “esses devem ser sensíveis e adequados aos objetos que se tem para avaliar e estes são definidos no currículo e nos planos de ensino.” (LUCKESI)
Quantas são as linguagens? As áreas de conhecimento? Os conteúdos são meios para desenvolver os objetivos. Com crianças de até três anos de idade, quais conteúdos? Sabe-se do trabalho pedagógico pelo lúdico, ou seja, brincadeiras, as denominadas atividades. Todavia, o “para que” de cada atividade para crianças de até dois anos de idade, fica claro?
Aprender a falar, escutar, se expressar, compreender, engatinhar, caminhar, pular, correr, comer. Fazer a higiene, partilhar brinquedos. Ter a autonomia, prevista na maioria dos projetos pedagógicos. São os objetivos principais, no entanto, como avaliar, se cada criança está se aproximando de cada uma dessa ações?
O plano diário do docente, o que prevê? Acolhida, rotina, alimentação, higiene, brincadeiras em sala e no parque. Contudo, ratificando, o “para que” de cada atividade? O docente está observando o que?
É direito dos pais ou responsáveis acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. Assim, o documento que os pais recebem sobre a avaliação, descritivos, portfólio, por código-legenda, semestral, bimestral, enfim...deve ser o mesmo que a instituição arquiva, como documento? Ou a linguagem para os pais não deve ser técnica?
O que se registra é o fim de um objetivo, como no ensino fundamental, que é por nota. Se a educação infantil tivesse compromisso com a reprovação e aprovação, não seria uma avaliação mais objetiva? Ou se, por sua vez, o ensino fundamental, de fato, cumprisse com o que é previsto na maioria das propostas pedagógicas, formação integral do sujeito, a avaliação também não cairia nessa dificuldade de elencar os objetivos?
Primeira questão é definir quais os aspectos serão avaliados, se a instituição define a avaliação por linguagem, área de conhecimentos ou eixo temático.
Conhecer as características e necessidades de cada faixa etária para poder propor as atividades. Elaborar plano de ensino e plano por aula, com definição de indicadores a serem observados, fazer a descrição do que cada criança desenvolveu.  Verificar o porquê de determinadas crianças não executarem as atividades. Focar com mais atenção, continuar propondo atividades com o mesmo objetivo para comprovar se a criança está se desenvolvendo ou não, em que áreas, em quais aspectos.
Neste sentido, Kulkamp (2013) afirma “Estimular com jogos de lateralidade, direção, jogos cooperativos, com tempo-espaço, para que possa apropriar-se dos movimentos e reconhecer seu corpo em um espaço e tempo interagindo com seu meio social.”
Propor curso de formação docente, iniciando pelas possibilidades das crianças pela faixa etária. Posteriormente, metodologia, atividades adequadas, planejamento e, por último avaliação. Pois esta está imbricada em todo o processo.
Concluindo, a avaliação na educação infantil é consequência da avaliação da educação infantil, pois analisar todo o processo educativo deste nível de educação, verificando possibilidades e limitações implica, também, perceber a dificuldade que o docente enfrenta como consequência de um contexto maior. Suas necessidades pedagógicas estão além de, simplesmente, avaliar uma criança.


Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB, 2010.

BRASIL, Lei De Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.

KULKAMP, Simone. Psicomotricidade na educação infantil: priorizando a necessidade. Artigo. Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. 2013

 

LUCKESI, Cipriano. Avaliação da Aprendizagem - Componente do Ato Pedagógico. São Paulo. Cortez. 2011.