Professora
Maria Helena da Silva Meller
A avaliação é uma das dificuldades
encontradas pelos docentes nos interiores das salas de aula. São muitas as
teorias, contudo na hora do registro o docente sente-se inseguro. Quando se
trata da educação infantil, muito mais.
Não é por falta de legislação, como
veremos. E muito menos por normatizações de cada sistema, por meio de seus
conselhos de educação.
Vejamos o Art. 29 da LDB. “A
educação infantil, (...) tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, (...).”
Uma questão bastante abrangente que
demanda estudo e planejamento, compreensão de cada termo designado - físico, psicológico,
intelectual e social. Percebendo que não acontecem isoladas, o emocional,
desenvolve-se no social, a psicomotricidade física depende do cognitivo. As
percepções do físico dependem da interação. Portanto, demanda estudo da
coordenação pedagógica para elaboração da proposta pedagógica.
No que se refere à avaliação na
educação infantil, a LDB afirma – “avaliação mediante acompanhamento e registro
do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o
acesso ao ensino fundamental.”
Na assertiva anterior,
registrar o desenvolvimento, significa conhecer as caraterísticas de cada
criança nos respectivos aspectos, comparando aos aspectos considerados
“normais” para uma criança na referida idade, ou seja, com seis meses, oito
meses, um ano, um ano e meio, e assim até os cinco anos.
De acordo com as DCNs - Diretrizes Curriculares Nacionais
- Educação infantil – definição de Criança – “Sujeito histórico e de direitos
que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva(...).”
A instituição de educação infantil segue um currículo,
portanto vamos a ele. De acordo com as DCNs. Currículo – “Conjunto de práticas que buscam articular as
experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do
patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a
promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.”
A
proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil, segundo as DCNs, deve
“ ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação,
renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes
linguagens (...).” Pois a criança “brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.” (DCNs,
2010)
Sugundo Kulkamp (2013) “Psicomotricidade é a evolução das relações
recíprocas, incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos, psicológicos
e sociais que intervém na integração, elaboração e realização do movimento
humano.”
Assim,
seria necessário rever este termo e conceito que foi marginalizado por certo
tempo, fora de moda.
A
referida autora, ainda, afirma “a importância do trabalho
com a lateralidade, o esquema corporal, habilidades manuais, coordenação motora
fina e ampla, orientação temporal, deslocamento, equilíbrio, flexibilidade do
corpo, tonicidade muscular.”
Do mesmo modo, fica
evidenciado a importância do planejamento focado na legislação, nas diretrizes
curriculares, nas teorias atuais. Eis a questão, a importância do diagnóstico,
dos indicadores para acompanhar a avaliação.
Convém refletir sobre o
plano de ensino para cada faixa etária da educação infantil e sua previsão de
como avaliar. Quais os objetivos? São elaborados baseados nos aspectos, em
linguagens, conteúdos, em atividades?
Para o professor Cipriano Luckesi,
(2012), referência em avaliação nas academias, cursos de licenciaturas, o
objeto da ação avaliativa é aquele que se encontra definido no objetivo da ação. Continuando
sua reflexão ressalta que a avaliação será uma prática de investigação da
qualidade dos resultados obtidos segundo a formulação curricular. “Se a
formulação está estruturada em aspectos cognitivos, psicomotores, nas áreas de
conhecimentos e linguagens, esses devem ser os aspectos a serem levando em
conta na elaboração de recurso técnicos de coleta de dados em seus instrumentos
de coleta de dados.”
Diante do exposto, o plano
de ensino de cada docente, pautado na proposta pedagógica, em primeiro lugar
deverá definir quais aspectos serão a base para a avaliação. Para poder indicar
os instrumentos de coleta de dados, “esses devem ser sensíveis e adequados aos
objetos que se tem para avaliar e estes são definidos no currículo e nos planos
de ensino.” (LUCKESI)
Quantas são as linguagens?
As áreas de conhecimento? Os conteúdos são meios para desenvolver os objetivos.
Com crianças de até três anos de idade, quais conteúdos? Sabe-se do trabalho pedagógico
pelo lúdico, ou seja, brincadeiras, as denominadas atividades. Todavia, o “para
que” de cada atividade para crianças de até dois anos de idade, fica claro?
Aprender a falar, escutar,
se expressar, compreender, engatinhar, caminhar, pular, correr, comer. Fazer a
higiene, partilhar brinquedos. Ter a autonomia, prevista na maioria dos
projetos pedagógicos. São os objetivos principais, no entanto, como avaliar, se
cada criança está se aproximando de cada uma dessa ações?
O plano diário do docente, o
que prevê? Acolhida, rotina, alimentação, higiene, brincadeiras em sala e no
parque. Contudo, ratificando, o “para que” de cada atividade? O docente está
observando o que?
É direito dos pais ou
responsáveis acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. Assim, o documento
que os pais recebem sobre a avaliação, descritivos, portfólio, por
código-legenda, semestral, bimestral, enfim...deve ser o mesmo que a
instituição arquiva, como documento? Ou a linguagem para os pais não deve ser
técnica?
O que se registra é o fim de
um objetivo, como no ensino fundamental, que é por nota. Se a educação infantil
tivesse compromisso com a reprovação e aprovação, não seria uma avaliação mais
objetiva? Ou se, por sua vez, o ensino fundamental, de fato, cumprisse com o
que é previsto na maioria das propostas pedagógicas, formação integral do
sujeito, a avaliação também não cairia nessa dificuldade de elencar os
objetivos?
Primeira questão é definir
quais os aspectos serão avaliados, se a instituição define a avaliação por
linguagem, área de conhecimentos ou eixo temático.
Conhecer as características
e necessidades de cada faixa etária para poder propor as atividades. Elaborar
plano de ensino e plano por aula, com definição de indicadores a serem
observados, fazer a descrição do que cada criança desenvolveu. Verificar o porquê de determinadas crianças
não executarem as atividades. Focar com mais atenção, continuar propondo
atividades com o mesmo objetivo para comprovar se a criança está se
desenvolvendo ou não, em que áreas, em quais aspectos.
Neste sentido, Kulkamp (2013)
afirma “Estimular com jogos de lateralidade, direção, jogos cooperativos, com
tempo-espaço, para que possa apropriar-se dos movimentos e reconhecer seu corpo
em um espaço e tempo interagindo com seu meio social.”
Propor curso de formação
docente, iniciando pelas possibilidades das crianças pela faixa etária.
Posteriormente, metodologia, atividades adequadas, planejamento e, por último
avaliação. Pois esta está imbricada em todo o processo.
Concluindo, a avaliação na educação infantil é
consequência da avaliação da educação
infantil, pois analisar todo o processo educativo deste nível de educação,
verificando possibilidades e limitações implica, também, perceber a dificuldade
que o docente enfrenta como consequência de um contexto maior. Suas
necessidades pedagógicas estão além de, simplesmente, avaliar uma criança.
Referências bibliográficas:
BRASIL.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares
nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília:
MEC, SEB, 2010.
BRASIL, Lei De
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.