Maria Helena da Silva Meller
A maioria dos cursos de
licenciaturas, em instituições de ensino superior, oferecem disciplinas onde se
ensina como acontece a aprendizagem do ser humano, a partir de teorias
variadas, da psicologia, da pedagogia, tendências: comportamentalismo,
ambientalismo, inatismo, interacionismo, entre outras.
Os cursos de especialização,
pós graduação, focados na educação trazem novamente tais teorias, demonstrando
o como acontece a aprendizagem. Adentrando no curso de psicologia,
aprofunda-se, também, no porquê acontecem os problemas de aprendizagens,
dificuldades, causas e possibilidades. Ainda, estuda-se muito sobre
indisciplina escolar, várias são as monografias com tais temas.
Esse texto pretende focar no
ensino médio das escolas públicas, devido últimas observações, entrevistas com
alunos e docentes, ministrar cursos para esse grupo de profissionais que
trabalham com tais estudantes.
Muitas investigações de formandos em
licenciatura trazem as “falas” de um percentual de docentes, o suficiente para ser
considerado científico. Trazem observações em sala de aula. Alguns
questionários para estudantes. Ou seja, comprovadamente científico, comparando
as respostas com o que tratam os teóricos, na maioria das vezes, de países com
um contexto sócio, econômico e político bastante diverso do Brasil.
Muitas respostas dos
docentes não condizem com sua prática, (o que pensa, pois uma das práticas
docentes é o pensar,) concorda com o que estudou na universidade. Isso
fica evidenciado em várias pesquisas acompanhadas.
A questão do comparar os
aportes teóricos, as teorias com a prática, há que se observar outros
elementos. Pergunta-se muito como se inicia a aprendizagem ou por que não aprende.
Dificilmente pergunta-se por que e para que se aprende. Ao invés de motivos
do indisciplina, mudar para causas das salas disciplinadas.
Nesse grupo de estudantes
das escolas públicas o que chama a “regra” são as salas onde os docentes sentem
muita dificuldade em ministrar suas aulas e a exceção são as salas disciplinadas
com estudantes apostos para aprender.
Entendo o papel social da
escola, o compromisso com a ciência, entendo o compromisso do docente no século
XXI, conheço legislação, o direito do “ser em desenvolvimento”, ECA, LDB,
Constituição Federal, nós docentes conhecemos. E os estudantes desejam ter esse
direito à aprendizagem, garantido? Para isso aí estão os Conselhos Tutelares, Ministério
Público e os pais, responsáveis para dizer a eles seus direitos, devem
usufruir, mesmo que não desejem, pois um “dia irão entender”.
E incentivam os docentes: aulas
dinâmicas, mudança de metodologia, ser autoridade e não autoritário, fazer
contrato pedagógico, combinações, entre tantas questões aprendidas em cursos de
formação.
Alguém já perguntou o sonho
desses meninos e meninas? Daqui cinco, sete anos...? em uma pesquisa de cunho
exploratório, de 50 estudantes entrevistados, a maioria trabalhando, grande
parte nunca pensou no assunto. Juntando a isso, docentes que, na tentativa de
ajudar, dizem aos estudantes da dificuldade de chegarem à universidade,
principalmente pela falta de vontade desses, em estudar.
A escola pública apresenta
várias precariedades, falta de docentes, recursos inapropriados e mais a falta
de compromisso dos alunos, isso é notório, é sério e real. Contudo, convém
trazer à discussão a bagagem cultural de tais estudantes. Perceber os
indicadores: expectativa da família, da sociedade, dos docentes e dos próprios
alunos.
Quais seus sonhos? O que
representa a escola em suas vidas? Para que aprender? Por que tais conteúdos?
Ultrapasso a discussão onde
deve se explicar a utilização de cada conteúdo. Trato da escolarização como um
todo. Em que medida a escola faz parte dos seus desejos, se esses nem sabem
quais seus sonhos. Isso faz muita diferença.
Autores da psicologia tratam
da questão do desejo para aprender.
Não me refiro que a cada aula, o docente tenha que “estimular” o estudante para
determinado conteúdo.
Quais motivos o estudante
percebe nos aprendizados de física, química, etc,? é como se a escola
caminhasse paralelo à sua vida. Sabemos que linhas paralelas não se encontram.
A questão é mais complexa
que simplesmente rever diretrizes curriculares. Quem frequenta “cursinho” pré-vestibular
é somente quem tem um ótimo poder econômico, ou outros indicadores, também,
estão presentes? Desejo do estudante, expectativa da família, da sociedade,
entre outros. Não é somente a metodologia diferenciada que faz o estudante “aprender”,
não são as questões engraçadas, o lúdico para a memorização, é um conjunto que
envolve a cultura, o entorno, os valores, a linguagem...
Cem anos atrás, a
escolarização era para todos? quem tinha acesso à ela? Era obrigatória? No
caso, quem estava na escola? aqueles com dificuldade? precisavam trabalhar? que não gostavam da
escola? aqueles cujas famílias não acreditavam em seu papel social?
Com a massificação da
escola, direito outorgado constitucionalmente, TODOS, ou quase todos estão
ocupando os bancos escolares, são estudantes de todo jeito, de várias culturas,
com vocabulários diversos, valores que vão contra muitos princípios
pedagógicos.
Em princípio, parecem grupos
antagônicos, a cultura escolar versus
o aluno concreto, no entanto percebemos ser mais fácil reproduzir a sociedade do
que buscar as verdadeiras causas e enfrentar as consequências. É mais simples a
alienação, onde a maioria participa do pacto, do que apurar evidencias ocorridas
com os estudantes, docentes, legislação... tentar desvendar os bastidores da
educação pública brasileira. Buscar em seu interior a realidade de que a
escola, conforme a temos, está deficiente para poder trabalhar com esse grupo. Esse
contexto lembra muito a “fábula dos porcos assados”. – contrata-se vários especialistas
para manter o fogo na floresta para assar os porcos, quando, na verdade, seria simplesmente
tirá-los da floresta para assar em uma churrasqueira. Mas como justificar
tantos planos, projetos, pesquisas, dinheiro...?