quinta-feira, 11 de junho de 2015

Aprendizagem (escolar): Por quê? Para quê?

Maria Helena da Silva Meller


A maioria dos cursos de licenciaturas, em instituições de ensino superior, oferecem disciplinas onde se ensina como acontece a aprendizagem do ser humano, a partir de teorias variadas, da psicologia, da pedagogia, tendências: comportamentalismo, ambientalismo, inatismo, interacionismo, entre outras.
Os cursos de especialização, pós graduação, focados na educação trazem novamente tais teorias, demonstrando o como acontece a aprendizagem. Adentrando no curso de psicologia, aprofunda-se, também, no porquê acontecem os problemas de aprendizagens, dificuldades, causas e possibilidades. Ainda, estuda-se muito sobre indisciplina escolar, várias são as monografias com tais temas.
Esse texto pretende focar no ensino médio das escolas públicas, devido últimas observações, entrevistas com alunos e docentes, ministrar cursos para esse grupo de profissionais que trabalham com tais estudantes.
 Muitas investigações de formandos em licenciatura trazem as “falas” de um percentual de docentes, o suficiente para ser considerado científico. Trazem observações em sala de aula. Alguns questionários para estudantes. Ou seja, comprovadamente científico, comparando as respostas com o que tratam os teóricos, na maioria das vezes, de países com um contexto sócio, econômico e político bastante diverso do Brasil.
Muitas respostas dos docentes não condizem com sua prática, (o que pensa, pois uma das práticas docentes é o pensar,) concorda com o que estudou na universidade. Isso fica evidenciado em várias pesquisas acompanhadas.
A questão do comparar os aportes teóricos, as teorias com a prática, há que se observar outros elementos. Pergunta-se muito como se inicia a aprendizagem ou por que não aprende. Dificilmente pergunta-se por que e para que se aprende. Ao invés de motivos do indisciplina, mudar para causas das salas disciplinadas.
Nesse grupo de estudantes das escolas públicas o que chama a “regra” são as salas onde os docentes sentem muita dificuldade em ministrar suas aulas e a exceção são as salas disciplinadas com estudantes apostos para aprender.
Entendo o papel social da escola, o compromisso com a ciência, entendo o compromisso do docente no século XXI, conheço legislação, o direito do “ser em desenvolvimento”, ECA, LDB, Constituição Federal, nós docentes conhecemos. E os estudantes desejam ter esse direito à aprendizagem, garantido? Para isso aí estão os Conselhos Tutelares, Ministério Público e os pais, responsáveis para dizer a eles seus direitos, devem usufruir, mesmo que não desejem, pois um “dia irão entender”.
E incentivam os docentes: aulas dinâmicas, mudança de metodologia, ser autoridade e não autoritário, fazer contrato pedagógico, combinações, entre tantas questões aprendidas em cursos de formação.
Alguém já perguntou o sonho desses meninos e meninas? Daqui cinco, sete anos...? em uma pesquisa de cunho exploratório, de 50 estudantes entrevistados, a maioria trabalhando, grande parte nunca pensou no assunto. Juntando a isso, docentes que, na tentativa de ajudar, dizem aos estudantes da dificuldade de chegarem à universidade, principalmente pela falta de vontade desses, em estudar.
A escola pública apresenta várias precariedades, falta de docentes, recursos inapropriados e mais a falta de compromisso dos alunos, isso é notório, é sério e real. Contudo, convém trazer à discussão a bagagem cultural de tais estudantes. Perceber os indicadores: expectativa da família, da sociedade, dos docentes e dos próprios alunos.
Quais seus sonhos? O que representa a escola em suas vidas? Para que aprender? Por que tais conteúdos?
Ultrapasso a discussão onde deve se explicar a utilização de cada conteúdo. Trato da escolarização como um todo. Em que medida a escola faz parte dos seus desejos, se esses nem sabem quais seus sonhos. Isso faz muita diferença.
Autores da psicologia tratam da questão do desejo para aprender. Não me refiro que a cada aula, o docente tenha que “estimular” o estudante para determinado conteúdo.
Quais motivos o estudante percebe nos aprendizados de física, química, etc,? é como se a escola caminhasse paralelo à sua vida. Sabemos que linhas paralelas não se encontram.
A questão é mais complexa que simplesmente rever diretrizes curriculares. Quem frequenta “cursinho” pré-vestibular é somente quem tem um ótimo poder econômico, ou outros indicadores, também, estão presentes? Desejo do estudante, expectativa da família, da sociedade, entre outros. Não é somente a metodologia diferenciada que faz o estudante “aprender”, não são as questões engraçadas, o lúdico para a memorização, é um conjunto que envolve a cultura, o entorno, os valores, a linguagem...
Cem anos atrás, a escolarização era para todos? quem tinha acesso à ela? Era obrigatória? No caso, quem estava na escola? aqueles com dificuldade?  precisavam trabalhar? que não gostavam da escola? aqueles cujas famílias não acreditavam em seu papel social?
Com a massificação da escola, direito outorgado constitucionalmente, TODOS, ou quase todos estão ocupando os bancos escolares, são estudantes de todo jeito, de várias culturas, com vocabulários diversos, valores que vão contra muitos princípios pedagógicos.
Em princípio, parecem grupos antagônicos, a cultura escolar versus o aluno concreto, no entanto percebemos ser mais fácil reproduzir a sociedade do que buscar as verdadeiras causas e enfrentar as consequências. É mais simples a alienação, onde a maioria participa do pacto, do que apurar evidencias ocorridas com os estudantes, docentes, legislação... tentar desvendar os bastidores da educação pública brasileira. Buscar em seu interior a realidade de que a escola, conforme a temos, está deficiente para poder trabalhar com esse grupo. Esse contexto lembra muito a “fábula dos porcos assados”. – contrata-se vários especialistas para manter o fogo na floresta para assar os porcos, quando, na verdade, seria simplesmente tirá-los da floresta para assar em uma churrasqueira. Mas como justificar tantos planos, projetos, pesquisas, dinheiro...?