Luana
Tramontin[1]
Maria
Helena Meller[2]
Resumo
O tema deste artigo trata das percepções no
campo do currículo e busca saber quais os benefícios de se ter um currículo
eficaz no campo escolar e como ele vem sendo costurado ao longo do processo de
ensino e o papel do professorado frente aos paradigmas do currículo. A arte de
educar e pesquisar demonstram formas diferentes de serem manejadas frente às
escolas. Por isso a importância em se fazer currículo nas instituições
escolares. O currículo é a trajetória, é o caminho que se constitui para cada
grupo, em cada realidade escolar. O currículo precisa visar incumbências da
realidade de cada instituição. O que caracteriza atitudes curriculares é a
ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação num exercício de pensar, num
construir. A pesquisa foi cometida com base no estudo bibliográfico buscando
analisar as inovações incrementais do processo da construção do currículo na
escola, apresentando-se o conceito de currículo enquanto arte ligada ao
desenvolvimento e a percepção que educadores obtêm sobre o favorecimento no
desenvolvimento educacional.
Palavras-chave: Currículo.
Instrumento. Conhecimento. Formação.
1 INTRODUÇÃO
Ao buscar entender as
transformações que o currículo proporciona para escola e seus colaboradores,
encontra-se a relação com o cotidiano da realidade escolar de cada povo. Ao
longo da história, o homem vem representando a sociedade ou para a sociedade
através de um currículo formas de se planejar.
Neste sentido, oportuniza-se
trabalhar diferentes segmentos curriculares, se o professorado conscientizar-se
que pesquisar e entender o currículo, não só como disciplinas isoladas e sim
como um meio transdisciplinar, para então trazê-lo como caminho a ser
percorrido. Organizar o currículo é atribuir sentido para uma nova prática, ou
seja, é possibilitar uma operação entre a intenção e a ação.
Moreira (2003, p. 19) afirma
que “o currículo é um instrumento significativo para desenvolver os processos de
conservação, transformação e renovação dos conhecimentos”.
Tendo em vista, as
possibilidades que o currículo propicia para a prática escolar, o presente
artigo é tecido, visando evidenciar a importância de se conhecer e fazer
currículo na instituição escolar.
Utilizou-se a pesquisa
bibliográfica como metodologia, onde os autores abordam e ampliam a discussão
da temática. “a pesquisa parte [...] de uma dúvida ou problema e, com uso do
método científico, busca uma resposta ou solução” (CERVO; BERVIAN, 2002, p.63).
A pesquisa
bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas
publicadas em documentos [...] busca conhecer e analisar as contribuições
culturais existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. [...]
constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa científica (CERVO;
BERVIAN, 2002, p. 65-66).
Buscou-se então através de
documentos teóricos fazer a evidenciação da atuação do currículo na escola e,
relacionar teoria e pratica neste contexto escolar.
2 CURRÍCULO:
DEFINIÇÕES
Segundo Andrade (2007) a
palavra curriculum possui origem
latina e significa curso, rota ou caminho a ser percorrido. Há várias
definições de currículo, pois ele deve constituir-se a partir da realidade
escolar de cada grupo. Currículo necessita visar incumbências da realidade de
cada instituição.
Pensando currículo na perspectiva de conduzir os
trabalhos educacionais, pressupõe-se que ele representa a síntese de
conhecimentos e valores, pois “o currículo nos níveis de educação obrigatório
pretende refletir o esquema socializador formativo e cultural que a instituição
escolar tem” (SACRISTAN, 2000 p. 43).
Escola e educadores por meio á pesquisas
bibliográficas observam o currículo como uma caminhada construída
historicamente, o currículo estruturado e pensado para transcender atividades a
serem realizadas pelos educadores e educandos, passa a ser uma caminhada
pautada em pilares consistentes atrelados a uma educação qualificada.
O currículo não é um conceito,
mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que
tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É,
antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas (GRUNDY, 1987 apud SACRISTAN, 2000).
O currículo não pode ser fragmentado apenas a um
documento didático, seu aspecto é bem maior e abrange uma gama de caracteres do
âmbito educacional e social simultaneamente, essa relação significa uma
organização das experiências humanas em prol da prática educativa, porém seu
conceito abrange diversos seguimentos da educação.
Desenvolver currículo nas escolas precisa antes de
tudo de uma ressignificação de que não é só a escola que detém conhecimento,
fatores externos também geram cultura e conhecimento. Esse distanciamento se deve
à própria seleção de conteúdos
dentro do currículo e a ritualização
dos procedimentos escolares, esclerosados na atualidade (SACRISTAN,
2000).
Segundo o referido autor o currículo é o trajeto ao
contexto educacional, mas para compreender seu significado devem-se conhecer as
estruturas internas que
estão ligadas ao enquadramento político, à divisão de decisão, ao planejamento,
a tradução de materiais, ao manejo por parte do professorando das tarefas de
aprendizagem e a avaliação dos resultados.
2.1 COMPILAÇÃO:
A CAMINHADA DA CONSTRUÇÃO DAS TEORIAS CURRICULARES
Nos anos mil novecentos e
noventa segundo Moreira (2000) vinculam-se
perspectivas para o currículo no Brasil. Estudos apontam que o currículo talvez
não mais exista como campo articulado e coerente de pesquisas e praticas. O
currículo está minimamente ou quase nada programado para o chão escolar, teoria
e prática não condizem com a realidade das instituições escolares.
Estudos realizados por
Moreira (2000) através de pesquisas com um apanhado de autores visam às massas
literárias, porem elas pouco se aproximam dos professores e da escola. Buscam
teorias, mas deixam de lado a fertilidade dessa produção na resolução de
problemas de ordem pratica.
Precisamos pensar currículo
para que de fato sejam favoráveis aos educandos. Segundo Moreira (2000),
sabe-se que o conhecimento se constrói em rede. É esta ideia que precisa
subsidiar os currículos da formação de professores, tendo-se em mente a prática
é construída com conhecimentos apontados por seu próprio desenvolvimento.
A complexidade da questão
curricular transcende a teoria e a prática de currículo. Como argumenta Feldman
citado por Moreira (1996), a questão do
currículo pode ser debatida teoricamente, mas o problema do currículo somente
pode ser resolvido praticamente. O sistema nos impõe um currículo fechado a
disciplinas, sem autonomia de mudança. Essas ideologias não “podem” ser
rompidas, porém educadores devem achar caminhos para driblar o sistema imposto
buscando autenticidade no currículo para se fazer na sua instituição escolar.
Não podemos nos fechar ao
embate de que o currículo é restrito a listas de disciplinas e conteúdos,
passa-se a uma visão de currículo que abrange praticamente todo e qualquer
fenômeno educacional, ou seja, o currículo torna-se tudo ou quase tudo (FELDMAN, 1996).
O currículo aberto precisa
ser pensado de forma que vise construção de conhecimento e conscientização e
que promulgue a importância da escola ser estruturada curricularmente. O
currículo deve fazer ponte com a realidade social de cada instituição de
ensino, transcrevendo assim, um currículo versátil e que atinja as necessidades
escolares.
O mesmo autor comenta que
escola e currículo não podem ser analisados sem referência aos contextos mais
amplos que os envolvem; bem como de crença na importância da escola no processo
de construção de uma sociedade mais democrática e mais justa e sem compreender
tais dinâmicas e esferas se inter-relacionam no currículo e na escola. “O
conceito de currículo adota significados diversos porque, além de ser
suscetível a enfoques paradigmáticos diferentes, é utilizado para processos ou
fases distintas do desenvolvimento curricular” (SACRISTÁN, 2000, p. 103).
Pesquisadores promulgam a
ideia de que a teoria basta para se fazer currículo na escola. Tais estudos
podem ajudar professores a desenvolver à capacidade de analisar criticamente os
interesses ideológicos e políticos, buscando vivenciar as teorias na realidade
escolar. Assim, o sistema escolar estará construindo currículo no qual teoria e
pratica se confrontem e gere resultados positivos, focado em uma perspectiva
multicultural, “qualquer tentativa de organizar uma teoria coerente deve dar
conta de tudo o que ocorre nesse sistema curricular, vendo como a forma de seu
funcionamento num dado contexto afeta e dá significado ao próprio currículo”
(SACRISTÁN, 2000, p. 103).
A pesquisa teórica e empírica
realizada por educadores e a comunidade escolar junto com uma reestruturação de
currículo, pensando na sua evolução nesta caminhada, transformará o currículo
em fonte de educação de qualidade.
3 CURRICULO E A FORMAÇÃO DE
EDUCADORES: ESTABELECENDO RELAÇÕES
O currículo é um processo de produção direcionado á
prática docente, envolvendo a formação cotidiana do individuo. Verificam-se então
os entreves do currículo, pois o cientifico nem sempre atingi o dia a dia.
O professor é o principal agente de significância
ao currículo. Autores como Sacristan (2000), Moreira (2000), transmitem em suas
obras a importância da formação do professor, destacando que o professor não é
apenas um executor do currículo como ferramenta e sim um construtor deste
subsídio, que baseia a educação. Porém é de extrema importância a formação do
professor.
A formação do professor não
costuma ser das mais adequada quanto ao nível e a qualidade para que estes
possam abordar com autonomia o plano de sua própria prática. Com certeza porque
tecnicamente não esteja bem estruturada e desenvolvida, mas talvez também parta
do pressuposto que tal competência possa ser substituída por outros meios
(SACRISTAN, 2000).
A escola no todo precisa de uma formação/visão para
ampliar a práxis pedagógica, para que ela se torne significativa e perpasse
para além de um currículo pautado em disciplinas e sim um currículo aberto que
percorra os caminhos do saber. Para isso, uma das possibilidades é “educar pela
pesquisa” (DEMO, 2002, p.1).
O currículo [...] está
estreitamente ligado com o conteúdo da profissionalização dos docentes. O que
se entende por bom professor e as funções que se pede que desenvolva dependem
da variação nos conteúdos, finalidades e mecanismos de desenvolvimento
curricular. No currículo se entrecruzam componentes e determinações muito
diversas: pedagógicas, politicas, práticas administrativas, produtivas de
diversos materiais, de controle sobre o sistema escolar, de inovação pedagógica,
etc. Por tudo o que foi dito, o currículo, com tudo o que implica quanto aos
seus conteúdos e formas de desenvolvê-los, é um ponto central de referencia na
melhora da qualidade do ensino, na mudança das condições da pratica, no
aperfeiçoamento dos professores, na renovação da instituição escolar em geral e
nos projetos de inovação dos centros escolares (SACRISTAN, 2000, p. 32).
Em síntese, há um avanço na
produção de conhecimento teórico, porém educadores precisam minuciar a teoria
para desenvolver uma pratica pautada em um currículo dinâmico, aberto.
Sacristan (1998) rejeita o ponto de vista de que a pratica seja diretamente
derivada da aplicação ou da adoção de conhecimentos teóricos.
Para
Sacristan (1998, p. 34) a razão não pode tanto:
[...]. Não é o efeito
da aplicação de teorias cientificas concretas: ou, ao menos, não é apenas nem
fundamentalmente o resultado dessa aplicação. Na pratica projetam-se elementos
teóricos, mas não se pode compreendê-la somente recorrendo a tais elementos.
O referido autor traz
indagações de que o professorado precisa compreender e repensar a articulação
teoria-pratica no campo do currículo, para então facilitar o desenvolvimento da
capacidade prática. “O papel do educador no processo curricular é, assim,
fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos
currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula” (MOREIRA, 2000,
p.19).
Freire (1996) também traz
indagações de que para se fazer currículo é absolutamente necessário o rigor
metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como
pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma
crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem
também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os
conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio
social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino"
(FREIRE, 1996, p. 14).
O referido autor frisa que o
professor é um eterno pesquisador, que aprende a aprender, buscar, ir além do
que as escolas propõem, se reeduca enquanto educa. “Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho
intervindo, educo e me educo” (FREIRE, 1996, p.14).
Enfim, o professor
pesquisador detêm o poder de se embasar teoricamente sobre currículo, e
transformar em sua pratica um currículo que traga incumbências para a realidade
de sua escola, obtendo então um currículo vivo, dinâmico, transdisciplinar, o
caminho de se fazer pesquisa.
4 CURRÍCULO E
LEGISLAÇÃO
As discussões a cerca do
currículo já veem sendo constituídas desde os anos mil novecentos e noventa, mas
ganha força com a implementação da LDB que ressalva alguns pontos para se fazer
e trabalhar o currículo na escola. Os artigos 26 e 27 da LDB depois de retomada
ao texto a conselheira Edla de Araújo Lira Soares pronuncia que:
[...] a base nacional
comum interage com a parte diversificada, no amago do processo de constituição
de conhecimentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidenciando a
importância da participação de todos os segmentos da escola no processo de
elaboração da proposta da instituição que deve nos termos da lei, utilizar a
parte diversificada para enriquecer e complementar a base nacional comum.
Moreira e Candau (2006)
compilam significados ao currículo e constatam que o currículo não é somente
grades isoladas, as experiências populares também ajudam a se fazer currículo
na escola. Art. 9º § 2º das diretrizes curriculares é constituído por “experiências
escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações
sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos
historicamente acumulados para construir as identidades dos estudantes”.
A partir deste embate
agrega-se a politica curricular com a politica cultural, pois o currículo é
fruto de um sistema de produção de saberes. As reflexões teóricas sobre
currículo preveem os princípios educacionais como referência. Os referidos
autores e o art. 11 no inciso V ainda ressaltam que são inúmeros fatores que
influência a vigência de currículo na escola tais como, ensinar, pesquisar,
valorizar a experiência extraescolar, fazer uma ponte entre os saberes
escolares e o entendimento social, um espaço de ressignificar e recriar a
cultura herdada.
A revisão teoria a cerca do
currículo se faz com riqueza em palavras e argumentos, até ditam meios de como
trabalhar currículo nas escolas, mas é, visível que se os professores não
tiverem a vontade de investigar, conhecer como em pratica fazer a teoria de
currículo, pouco vamos ver essa ferramenta sendo utilizada.
5 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A partir das leituras é
possível inferir que no currículo se sistematizam nossos esforços pedagógicos. Moreira
(2003 p. 19) e Candau (2003, p.19) escrevem que “o currículo é, em outras
palavras, o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos”.
O percurso histórico revelou
que a trajetória do currículo ao longo dos tempos, se deu em busca de
desenvolver métodos que possibilitem uma educação transdisciplinar, que
evidencie desde os conhecimentos empíricos do aluno ate aprimorá-los com os
conhecimentos escolares.
A prática do currículo na
escola pode trazer para o educando e toda comunidade escolar mais
possibilidades de descobrir, questionar e opinar as situações vivenciadas no
dia a dia. Além de se tornarem seres pensantes e pesquisadores, desmistificando
aquele currículo em vitro, sem rupturas e dando espaço para um currículo dinâmico.
Construir currículo nas
escolas obtém benefícios elencados no tecer do texto, mais quanto á construir o
pensar currículo em prol a benefícios se propaga o investimento que muitos
teóricos e educadores demonstram em querer uma escola viva, com mudanças,
sentimentos, criando e recriando.
Esta pesquisa teve o intuito
de compreender o currículo, suas funções e seu significado, há de se considerar
que as escolas, além do sucesso escolar, devem ser estruturadas e planejadas
para garantir o uso e a eficácia do currículo na escola.
Por fim, tece-se que é
necessária a formação e a pesquisa por parte dos educadores, para que possam
ouvir a voz dos alunos e da comunidade escolar e social, transcrevendo um
currículo como ferramenta educacional.
6 REFERÊNCIAS
CANDAU,
Vera Maria (Org.). Didática, currículo e
saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
CERVO,
Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia
Científica: para uso dos estudantes universitários. 5 ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2002.
COSTA,
Marisa Vorraber (Org.). O currículo nos
limiares do contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
FREIRE,
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necessários a prática educativa. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MOREIRA,
Antonio Flávio Barbosa. Currículo na
Contemporaneidade: Incertezas e Desafios.
Cortez, 2003.
MOREIRA,
Antonio Flávio Barbosa (Org.). Currículo:
questões atuais. Campinas:
Papirus, 1997.
MOREIRA,
Antonio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s):
construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação. 2003.
PERES,
Annabel Cristini Feijó et al. Trilhando os caminhos da
transdisciplinariedade: uma experiência de ser-sendo. 1 ed. São Paulo:
Laborciência, 2007.
SACRISTAN,
Gimeno J. O Currículo, uma reflexão
sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.