domingo, 31 de agosto de 2025

Em nome da atenção flutuante: análise de práticas

  Maria Helena

                   Um analista deve escutar pautado em três objetivos: (1) traduzir as produções do paciente para seus antecedentes inconscientes. (2) Os elementos inconscientes devem ser sintetizados em introvisões inteligíveis. E (3) as introvisões obtidas devem poder ser comunicáveis ao paciente.  O analista deve escutar com atenção flutuante e cabe a ele lembrar dos dados importantes, se o analista presta atenção e se o paciente não está despertando as reações transferenciais do próprio analista.  A atenção não-seletiva, não-direcionada, irá governar as próprias tendências especiais e irá permitir ao analista acompanhar a conduta do paciente. (Psicanálise Clínica, 2020)

Ainda de acordo com o devido material, a atenção flutuante é uma técnica e coaduna com o método psicanalítico, na medida em que se espera uma disponibilidade psíquica do analista na qual a escuta acompanhe as associações do analisando.  Recorre-se aos sonhos, atos involuntários e não planejados, atos sintomáticos, equívocos em suas realizações na vida cotidiana. 

 A atenção flutuante é a ação de recusa de meios de apoiar o analista no registro de um conteúdo específico, caracterizado justamente por não se memorizar nenhum material em detrimento de outro. Ainda, através da técnica da atenção flutuante o psicanalista se distancia de uma tentativa de compreensão do discurso do paciente pela via puramente intelectual. (Psicanálise Clínica, 2020)

Para Bartolomeu (2019), a atenção flutuante exige do analista sustentar a posição de não saber de antemão o sentido da fala do paciente. É um esforço de não levar compreensões pré-construídas para as sessões e tomá-las como um filtro através do qual irá escutar a fala do paciente. O resultado disso é que o analista se torna mais disponível para o reconhecimento das manifestações do inconsciente. O método psicanalítico e atenção flutuante conjugam um aporte metodológico e técnico de base para o trabalho do psicanalista, porque são os causadores iniciais, e necessários, para que uma experiência analítica possa acontecer. Portanto, não basta um diploma de conclusão.

Até compreendo que Freud não utilizava registro escrito, em suas sessões de psicanálise, porém  deve-se trabalhar da forma mais honesta, aberta com o analisando, assim anotar ou não irá depender da metodologia empregada pelo analista. Entendendo método para além da técnica.

Sendo a entrevista um dos momentos fundamentais do processo terapêutico, existe a necessidade do registro escrito, durante as sessões, a atenção flutuante deve ser compreendida de tal forma que não se caia nas representações sociais do analista. Ainda, como confiar na memória? Pois irá memorizar aquilo lhe é importante, e não arrisca cair em suas próprias resistências, projeções? 

 O analisando deve confiar, perceber que há valorização em sua história. É uma relação comercial, prestação de serviço, porém até nestas existem cursos para a acolhida, para o cotidiano. Não são amigos, todavia, o par analítico convive a partir de um objeto. Não havendo passividade e nem linearidade nesta relação. Creio em uma atenção de presença, sem julgamentos.

Claro está que o analista não deve de antemão julgar, pressupor, diagnosticar, sem obter todos os elementos necessários. A própria análise por si, possui um elemento fundamental e filosófico, pautado na dialética, ou seja, movimento. Embora o material recalcado seja e esteja ali, a maneira como se acessa a ele, não é possível um planejamento rígido, à priori, por parte do analista. Portanto, a atenção flutuante serve para o analista ter, em sua consciência, essa percepção o tempo todo.

O analista faz devolutivas ao analisando em forma de questionamentos, partindo das comunicações verbais, corporais, silêncios. Para tanto, a atenção a todos estes sinais, pistas valem para serem investigados, até onde está uma resistência, um sintoma, uma possível causa daquele sofrimento humano.

Também sobre a atenção flutuante, é possível se pensar na neutralidade, como a balança da justiça, porém quando se trata de acompanhar um ser em sua busca íntima, consciente-inconsciente, a definição de neutralidade, deve ocorrer como um átomo neutro, estudado em química e não como a neutralidade política, altamente controversa. Pode ocorrer sobre um conceito de autocontrole, de estar dominando, dirigindo a sessão, de acordo com os passos do paciente/analisando, consciente das próprias resistências e projeções, por parte do analista.

Referências Bibliográficas:

BARTOLOMEU, Gabriel. O método psicanalítico e a atenção flutuante. (2019). Disponível em: https://www.aprendimentosclinicos.com/single-post/2019/06/17/ometodopsicanaliticoeaatencaoflutuanteAcesso: 04/nov./2021.

MÓDULO 09. Práticas e procedimentos em clínica psicanalíticaCurso de psicanálise clínica. (2020)

MÓDULO 11. Processos de resistência e transferênciaCurso de Psicanálise Clínica. (2020)


A necessidade e importância do silêncio pensante

  Maria Helena

         De acordo com o Módulo 10 (2020) do curso de Psicanálise Clínica, o silêncio é a forma de resistência mais nítida e frequente que encontramos na prática psicanalítica. Assim, também como trata da importância da linguagem na identificação do outro.

       Neste viés, este texto se debruça, no sentido de confirmar que a linguagem possui em si o próprio silêncio, pois é a comunicação por signos, sinais.

      Estranhamente a expressão “escuta de silêncios” para mim é linda e, ao mesmo tempo, difícil, porque não fomos nem educados para ouvir o que o outro diz, normalmente esperamos a vez de falar. Assim, ouvir os ruídos externos só percebemos se, de alguma forma, eles nos afetam, quer por ser um som e volume que atrapalhe em nossos afazeres, quer um som que nos proporcione um bem-estar. 

       O texto de que trata do tema ainda indica: o silêncio é, assim, uma forma de intervenção do analista, que pode ser tanto passiva, quanto ativa, é uma ferramenta. Portanto, cabe ao analista observar-se, saber se consegue ouvir, perceber os tipos de silêncio para poder intervir. (MÓDULO 10, 2020)

        Mello (2021) adverte que o diálogo não acontece somente com palavras, pois se presume saber que o silêncio constitui a comunicação, porque é uma maneira de expressão. Silêncio é linguagem e intercala a conversação. No diálogo estão imbricados períodos de repouso e, também, momento de reflexão. A linguagem reduz, limita, pois não abrange certos sentidos, por vezes entendendo o silêncio como uma não linguagem. Assim, o silêncio não é um calar-se, e é sim um jeito de fala. O silêncio representa um limite das palavras, um espaço vago e, neste lugar, a imaginação dos sujeitos que estão se comunicando, podem criar possibilidades múltiplas.

         Na era das redes sociais, a comunicação é real, através de aparelhos, e são tantos os aplicativos, eu sei que existem, porém não utilizo, pois comunicam imagens, onde provavelmente o sujeito da selfie é assujeitado do sistema, portanto nem consegue refletir sobre sua vida e seu entorno.

     No citado cenário, quando conseguimos observar sem julgamentos e temos um olhar focado é possível perceber acontecimentos que, em princípio, parece banal, não natural. Pois para mim, natural é o que segue a natureza e aquilo que nossos olhos e ouvidos passam a se acostumar, se torna banal. Assim, ao ouvir o número de óbitos em acidentes de carro, determinada doença, inclusive a pandemia do COVID, as estatísticas tomam um lugar estratégico de anular as vítimas. Porque não ouvimos a realidade, mas um percentual aceito, pois foi previsto pela “ciência”. Uma observação focada tiraria a pessoa do lugar de assujeitado e um sujeito iria reagir, questionar, sentir a dor do outro. Por isso, o ouvir e o silenciar, na hora certa são provas que a pessoa está presente.

Coelho (2000) em seu Blog, apresenta: “Até o insensato passará por sábio, se ficar quieto, e, se contiver a língua, parecerá que tem discernimento. ” Provérbios 17:28. “Quem tem conhecimento é comedido no falar, e quem tem entendimento é de espírito sereno. ” Provérbios 17:27. Aqui observa-se que a espiritualidade tem um compromisso com o silêncio e estimula, inclusive a praticá-lo.

Pinheiro (2015) afirma que associado de forma banal à ausência da fala, o silêncio é, contudo, presença plena de significações: uma força complexa, que questiona a própria linguagem em seu uso social. Portanto, de fato, não conseguimos nem entender a comunicação por meio de silêncio, sendo uma ferramenta necessária para quem trabalha no aprimoramento de equipes, ou na função de um psicanalista.

Um fator importante e, por vezes, não nos damos conta é o poder do silêncio levar a pessoa a ter mais cautela, ser mais prudente em determinadas situações. Em contrapartida, pode ser usado para provocar, negar, censurar. E quando não se tem o que dizer, o silêncio diz tudo, desde que o interlocutor compreenda. É preferível ao não saber o que dizer, calar-se, do que falar em demasia, tentando comunicar algo que nem foi organizado internamente, em termos de pensamento.

No cotidiano, para desenvolvermos melhor a comunicação, é necessário não somente aprender um vocabulário mais rico, técnicas de fala, olhar o interlocutor nos olhos, é preciso reconhecer quando o silêncio deve fazer parte da comunicação. Silêncio não é escutar o outro, não é ficar quieto, obviamente isso é necessário para acolher o que o “outro” nos traz de informação, sem que eu contamine com os meus pensamentos, avaliações e críticas.

Escuta de silêncios, silenciar comunicando, ouvir a respiração do outro. Estar com a alma junto com o corpo, usar os sentidos, com o significado de conhecer o mundo, o interno e o externo. E se estamos com dificuldade em reconhecer os elementos do mundo externos, pois nos perdemos em conceitos, quando se trata da realidade, imaginem o acesso ao mundo interno, o inconsciente. Fico imaginando se o consciente sabe que deveria conhecer o inconsciente ou se assim está cômodo.

 

Referências Bibliográficas:

COELHO, Guilherme. 3 lições sobre o silêncio. (2020) disponível em: https://medium.com/@genevescoelho/3-li%C3%A7%C3%B5es-sobre-o-sil%C3%AAncio-4c7029b473e0. Acesso: 28/out./2021.

MÓDULO 10. Curso de psicanálise clínica. (2020).

PINHEIRO, Marina L.  M. Sobre silêncios e sua comunicação. Outras Palavras. (2015). Disponível em: https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/sobre-silencios-e-sua-comunicacao/ acesso: 28/out./2021.

MELLO, Renato de. O silêncio faz sentido. (UFMG). Disponível em: http://www.filologia.org.br/ileel/artigos/artigo_146.pdf. Acesso em: 31/out./2021

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

NOVO ANO LETIVO, NOVOS DESAFIOS: E AS PRÁTICAS ?

        Maria Helena

       Olá colegas da área da educação. É com muito respeito que trago uma reflexão para o início do ano letivo. 

      Há um diferencial para muitas escolas pertencentes às Redes municipais de ensino, devido "troca" de gestão...quando não deveria haver ruptura, visto que o Plano é do município, portanto, esse deve ser a baliza, o continente a oferecer o suporte necessário à caminhada letiva do sistema.

      Entendo que falarei partindo da minha janela, de onde eu me encontro em minha trajetória. Reconhecendo que cada um/a receberá a partir de sua história. Porque vamos nos tecendo à medida em que estudamos a teoria, a colocamos em prática e refletimos. Temos um contexto que oferece os elementos com os quais interagimos, portanto, a caminhada individual reconhece o seu coletivo.

     Diante ao exposto, para a travessia do ano letivo, de uma forma mais leve, devemos planejá-lo. Não estou tratando do planejamento de aula e, sim, de uma observação maior. De uma conversa consigo mesmo/a, sobre o que representa o ato de ensinar na atualidade; que profissão é esta, a docência; em que medida estou, de fato, presente em minha vida; ou estou ligando o "automático".  

    Todo início de ano estamos cheios de expectativas, formação continuada, reuniões, preparar decoração da escola, das salas, revisão do regimento, apresentação dos novos docentes, aquisições, mudanças, etc... No entanto, por vezes, o "automático" ligou mesmo durante o início, como a criança quando acorda do sonho e não acredita que não é real.

     Em Minhas falas (palestras)  costumo dizer: venho falar do que eu vivi, do que experimentei, daquilo que fiz com o que me foi oferecido. Os textos, neste Blog, são filtrados por minha realidade, tentando ampliá-la. Trabalhei da educação infantil ao superior, periferia, centro, particular, filantrópica, com toda forma de vínculo empregatício. Ciente das transformações locais ao global. Assim, cada enredo que nos é oferecido podemos analisá-los, antes de tomarmos uma posição de gratidão e alegria, de frustração ou tristeza e a percepção somente das limitações que a realidade nos oferece.

   Vamos verificar com verdade, se o que pensamos sobre o nosso local de trabalho, não é o que pensamos da própria vida, do mundo, das pessoas. Vamos ouvir as nossas verdades mais secretas...em nenhum momento estou falando em aceitação de tudo que está posto. Caso contrário eu não estaria sendo autêntica. Me refiro a perceber qual a cultura instalada em minha escola, quem alimenta esta cultura? Qual a história da escola? Qual o meu papel, neste momento, neste espaço?

    Por vezes, estamos repetindo um discurso que nem nós sabemos o que, de fato, estamos falando sobre ser docente/gestor. Algumas situações, repetimos nossa prática como se não houvessem outras alternativas, principalmente no relacionamento interpessoal entre colegas, gestão, estudantes e outros. Outras vezes, não percebemos que o outro é um Ser, como Eu, se beliscar dói, tanto quanto...

  Um planejamento bem elaborado pelo Ser consigo é tão necessário quanto a revisão do Planejamento Geral da Instituição.

    Cabe um alerta aos novos gestores, lembrar que a gestão demanda novas competências e habilidades, portanto, não basta acionar o Programa de Formação, necessário sim, sempre investigar a própria prática e, a partir dali, seguir estudando todos os aspectos relacionados à sua nova função, pois não é um cargo.

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