Maria Helena
Atualmente, no Brasil, a
educação infantil faz parte da educação básica, sendo obrigatória a partir dos
quatro anos de idade. No entanto, essa situação é recente.
Historicamente, tratando do
assunto educação infantil, sabe-se que a mesma surge em forma assistencialista
para uma camada da população, e para as mais abastadas essa instituição tratava
da educação das crianças. Percebe-se nesta prática uma dicotomia. Educa-se um
grupo e cuida-se de outro, para que seus pais possam produzir, ou seja, a manutenção
de um país capitalista.
Vários textos acadêmicos
tratam da educação infantil em seu histórico, onde as crianças eram tratadas
como adultos em miniaturas. Outros tratam das teorias de aprendizagem,
mostrando que crianças aprendem e como devem ser ensinadas.
Desejo fazer uma reflexão
sobre quem é a criança, a percepção que se tem da mesma dentro da escola, em uma
visão massificada.
É interessante perceber na
semana da criança, toda a mídia dirige o seu holofote para os pequenos de toda
etnia, de todo tamanho, baixinhas, gordinhas, ricas, pobres, todas são
crianças.
Visitando escolas de
atendimento à educação infantil, por mais que a legislação em vigor exija
formação dos docentes, os mesmos, ainda, estão descortinando a metodologia para
desenvolver um trabalho pedagógico que respeite a criança no que ela é, um ser
em desenvolvimento geral.
Neste momento de sua vida, a criança enquanto SER que É, está desenvolvendo a comunicação, linguagem compreensiva e
expressiva, o crescimento físico, a coordenação motora ampla fina, os
conceitos. Descobrindo a si mesma, o outro e o mundo. Portanto, o trabalho
desenvolvido com esse grupo deve ser muito relevante, aprimorado e cuidadoso.
Não deve ser um processo escolarizado,
preparação para algo. Pois a criança É o que É naquele momento.
Se a sociedade, em sua
organização complexa, necessita de, no futuro, ter adultos saudáveis:
emocional, física e cognitivamente deve promover na atualidade para as crianças
um espaço onde essas se sintam seguras e sejam desafiadas constantemente de
forma tranquila. Desafios físicos, cognitivos, um local com disciplina, normas
com nível de compreensão de cada faixa etária. Cada sujeito deve ser percebido
em sua individualidade, suas características pessoais.
A educação escolar, na
educação infantil, não deve simplesmente alojar crianças em um espaço em que as
mesmas não se machuquem e deixar muitos brinquedos à disposição, alimentando-as
nas horas certas. Esse cuidado também se tem com os animais em qualquer pet shop.
Cuidar de um Ser significa
estar presente, perceber esse ser em suas necessidades em suas múltiplas faces.
Observá-la, não como quem vigia e sim como quem acompanha.
Toda a legislação brasileira
em vigor, com relação à criança, justificaria uma política voltada para uma
educação comprometida com esse Ser em desenvolvimento. Partindo da formação
docente, boas condições de trabalho, bem como bons salários e orientações.
Ainda, prédios com mobílias e utensílios adaptados ao tamanho desses
estudantes.
Educar e cuidar na concepção
atual deixa para trás a dicotomia de classes sociais, a padronização, a
homogeneização, a massificação, em que todas as crianças devem falar, caminhar
ao mesmo tempo cronológico, desconsiderando as características individuais de
ordem: física, motora, emocionais, a segurança, os desafios.
Qual a expectativa dos pais
com relação à criança? E a expectativa dos docentes? São positivas, de
possibilidades? Esses docentes tem uma percepção da criança como criança, ou na
escola essa passa a ser apenas um objeto de trabalho? Onde o docente deve
planejar suas aulas, descrever a rotina, o que acontecerá naquele dia de
trabalho. Por que muitos docentes de creches públicas mantem seus filhos em
“escolinhas” particulares? Ou, essas, como mães são bastante atentas com as
colegas que são professoras de seus filhos, no entanto com os rebentos da
classe popular, basta que ponham os pequenos no parque e fiquem observando de
que forma brincam. As alternativas são poucas para essa classe social.
Educar e cuidar em uma
concepção mais humana não acontece por decreto. Incide quando cada adulto
envolvido com a educação, ou seja, toda a sociedade perceber a criança como um
ser que aprende, um ser que se comunica, que é sensível às mensagens verbais e
extravertais, aos acontecimentos.
Educar deixa marcas, quais
marcas estamos deixando em nossas crianças da educação infantil? De otimismo,
de avanços, de amor, de cuidados. Pois o que ela aprender, ela aplicará.
Estamos preparados para
receber como retorno tudo o que foi ensinado às nossas crianças? Saberão cuidar
da sociedade? Que sociedade queremos?
Vamos permitir que nossos
pequenos brinquem, corram, cantem, errem, sejam desafiados.. Fazendo as
intervenções necessárias com cuidado. Consentir
que perguntem e argumentem, cuidando para que desenvolvam com segurança, autonomia
e amor a si, aos outros e à natureza. Para que, de fato, tenhamos uma sociedade
prescrita em quase todas as propostas
pedagógicas: uma sociedade justa e humana.
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