quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Psicopatologias emocionais da/na condição docente no Brasil

                                    Emotional psychopathologies of/in the teaching condition in Brazil   

                                                                  Maria Helena

Para Dalgalarrondo (2008, p. 24) “os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente e os sintomas, isto é, vivências subjetivas relatadas pelo paciente”. Portanto, tão importante a comunicação entre analista e analisando, como a entrevista preliminar.

O módulo dedicado às psicopatologias, indica conceitos, características de doenças emocionais que aparecem frequentemente em muitos profissionais.  Infelizmente as estatísticas apontam números que crescem a cada ano

Para Passos (2019) a ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas no mundo. E no Brasil dados mostram que 86% sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão.  Cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do estresse. Outros dados recentes mostram que 49% dos trabalhadores no Brasil já tiveram crises de ansiedade, enquanto 44% dizem ter sofrido com o esgotamento mental devido ao stress profissional.

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) entrevistaram no início de 2017. 762 profissionais de muitos estados, 71% ficaram afastados da sala de aula. O estresse (65,7%), seguido por depressão (53,7%), alergia a pó (47,2%), insônia (41,5%) e hipertensão arterial (41,3%). Pelo menos 531 casos de ansiedade. (ANASPS, 2017)

Outra pesquisa que traz quantidade equivalentes foi elaborada pela Nova Escola no ano de 2018, com cinco mil educadores. Identificando que 66% desses profissionais precisaram se afastar do trabalho. A ansiedade afeta 68% dos educadores; estresse e dores de cabeça (63%); insônia (39%); dores nos membros (38%) e alergias (38%). Além disso, 28% deles afirmaram que sofrem ou sofreram de depressão. 87% dos participantes acreditam que o seu problema é ocasionado ou intensificado pelo trabalho (TEIXEIRA, 2018)

Transitando no universo da educação há mais de 30 anos, é possível constar que muito dos dados utilizados nas referidas pesquisas, são de docentes os quais procuram ajuda profissional. Muitos, diante dos trâmites legais, de todo o cenário fragilizado da educação, acabam com automedicação, atestados médicos de poucos dias, insuficientes para fazer um tratamento eficiente para tais patologias.

Os sintomas normalmente atribuídos à depressão são: transtorno de humor, falta de esperança, desmotivação, insegurança, isolamento social e familiar, perda de interesse por atividades antes prazerosas, apatia, falta de apetite e de concentração, insônia, perda de memória. (MÓDULO 6, p. 36)

A ansiedade é associada a uma forma de angústia decorrente da antecipação de acontecimentos futuros, o que pode ser bom ou ruim. A ansiedade excessiva pode se transformar num distúrbio de ansiedade, ou seja, numa doença. No transtorno de ansiedade, as pessoas não têm tempo para o agora: elas sofrem por antecipação a uma situação. (MÓDULO 6, p. 63)

As atribuições de um educador são: planejamento, ministrar aulas, avaliar, participar de todos os eventos da escola. Fazendo uma análise dos dados com os conceitos das patologias com mais incidência nas pesquisas é possível imaginar uma pessoa que lida com adolescentes, crianças, com os colegas tendo todos os sintomas descritos. Indo além, muitas vezes sendo mal compreendido pela direção. Embora a ciência tenha avançado muito, as doenças denominadas emocionais ainda se confundem com preguiça, falta de iniciativa, entre outras avaliações.

A docência traz, em sua história, um percurso com uma grande fratura, assim como outras instituições da sociedade. A profissão do professor, como alguém respeitado pois ensinava, havia uma seleção para atuar na área, do início do século XX, para o final do mesmo século, a partir dos anos 1980, pela falta de compreensão das leis, entre outros elementos, fazendo com que a categoria ganhasse uma nova característica, profissionais mais engajados em políticas, devido ao momento em o Brasil passava. Cursos de graduação favorecendo a entrada, devido a migração para cursos com mais status, juntando a isso, estudantes na escola básica sendo obrigado a estudar sem o desejo. Famílias focadas em seu trabalho, deixando de acompanhar o desenvolvimento do filho na escola.  Mesmo nesse cenário, a relação de poder autoritária imperou, fazendo com que os docentes buscassem mais os direitos, esquecendo alguns deveres e se perderam diante da sociedade. Assim, a figura do professor se desgastou, o local destinado ao ensino passou a ter um papel social desconhecido para a categoria, o espaço do pensar, da ciência, tanto de formação docente quando das crianças e adolescentes passa a ser percebido como assistência social.

Diante ao exposto, o docente passa a ser pensado pelo outro, pelos doutores das diferentes áreas científicas ou até uma justaposição de saberes.  Meio paradoxo, pois seria um espaço de conhecimento, até favorecendo às relações interpessoais.  Talvez como se percebe nas midias sociais há uma estereótipo a ser compreendido, quem é o sujeito atrás das imagens, tentando ler o que está oculto, buscando atualizar-se sem saber direito em que.

Além de ao estar imerso em todas as relações que decorrem deste contexto, estar com um atestado psiquiátrico na mão é sinônimo de fraqueza, quando deveria ser de força, pois está buscando a cura para seu desconforto.

 Referências Bibliográficas:

 ANASPS. Cerca de 70% dos professores se afastam por problemas emocionais (2017). Disponível em: Cerca de 70% dos professores se afastam por problemas emocionais – Anasps. Acesso em:30/08/2021

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre. Artmed, 2008.

 MÓDULO 6. Curso de formação em psicanálise - psicanaliseclinica.com (2020)

PASSOS, Letícia. Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental. REVISTA VEJA. (2019) Disponível em: Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental | VEJA (abril.com.br). Acesso em:27/08/2021

TEIXEIRA, Larissa. Nova Escola. 2018. 66% dos professores já precisaram se afastar por problemas de saúde. Disponível em: 66% dos professores já precisaram se afastar por problemas de saúde (novaescola.org.br) Acesso em: 30/08/2021

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