Maria Helena
Partindo de estudos do Módulo III do curso de Psicanálise Clínica e contrapontos de outros autores, a
descrição dos fenômenos ganham vida própria, balizados em conhecimentos
científicos.
Em tempos de pandemia até os preconceituosos de renderam e estão
procurando “tratar” de suas “neuras”, pseudônimo utilizado para designar algo
de que, ainda, não possui nenhum diagnóstico. Contudo, sabe que está se
distanciando do que se conhece como saudável.
A personalidade de um adulto vai se constituindo, a partir de sua
interação com um objeto presente ou não, ou seja, algo cultural, histórico.
Portanto, desta relação intersubjetiva onde vários elementos são
contextualizados o sujeito, percebendo o seu entorno, o “outro”, percebe-se
como um em SI, o EU que não é mais uma extensão da mãe/pais/cuidador/a.
Para
Freud, todo sujeito passa pelo desenvolvimento psicossocial e esse possui
fases: oral, fase anal, fase fálica, período de latência, fase genital. Em cada
fase, a libido obtém mais satisfação em uma zona erógena diferente e o conceito
de sexualidade, para o autor, vai além de sua definição relativa ao sexo. As
fases não são estanques e nem lineares variando entre sujeitos, pois dependem
das experiências subjetivas de cada sujeito. Cada fase pode deixar marcas
permanentes, denominadas de pontos de fixação, onde o curso “normal” pode ser
alterado porque certos conflitos podem se instalar. Desse modo, são gerados
“pontos” nodais “que vão se fixar em determinado estágio e que serão retomados
quando um período de crise (representação emocional) aparecer ao longo da vida
da pessoa” (MÓDULO III, 2020, p. 10).
A Psicanálise
é um método investigativo, método terapêutico ou clínico é, ainda,
uma forma nova de abordar o ser humano, a cultura e a sociedade. Diante disso,
explorar esses campos, do humano vivendo em sociedade, fomenta a cultura e dela
se alimenta, significa que quando um sujeito vai para o divã, ele vai acompanhado
de muitos elementos.
Domingues et al
(2014) trazem importantes reflexões acerca do contexto em que vivemos, são
rotinas organizadas pela sociedade, preenchendo todos os horários dos sujeitos,
sendo a hiperatividade uma forte característica da atualidade. Essa agitação
advinda pelo excesso de informações e ações não permitem que o sujeito possa
apreciar seus próprios sentimentos, experimentar cada diferente emoção de um
jeito saudável e, sim, da forma criada e formatada pela sociedade. Deve passar
pelos sentimentos de forma padrão, sendo
meio que obrigado a responder de forma elegante, alegre, desconsiderando suas
reais emoções. Isso fica evidenciado nos próprios velórios se comparados há
anos atrás. O luto sofrido, atualmente, o enlutado é encaminhado aos consultórios
psiquiátricos e psicológicos, como se não devesse passar pela dor da perda.
A pandemia está sendo um fator preponderante para aumentar o número
de estados depressivos. O vírus, talvez
esteja liberando a angústia, tristeza, frustração que muitos vinham sentido de
forma isolada e passou e ser percebida de maneira generalizada, de massa.
Talvez haja uma patologização das emoções, uma banalização de quadros que, em
princípio deveriam ser observados como adaptação a um novo paradigma, um
estresse natural e saudável, para uma percepção de um mundo doente, devendo esse
ser medicalizado, não havendo amigos ou familiares com escuta acolhedora,
existem sim os ansiolíticos, entre outros psicotrópicos.
Para
trazer dados mais fidedignos seria necessária uma pesquisa quantitativa, por
ser mais convincente neste mundo globalizado. No entanto, quando na atualidade
designada pela ‘academia’ contemporânea, são tantas as teorias.
Guareschi
et al (2021) trazem reflexões sobre a
própria forma de pesquisa na área da psicologia, pois ter como indicadores: crenças,
valores, motivações, nunca foi e nem como tem que ser, mensurada. Se a palavra
de ordem da vez é pós-verdade, como entender a comunicação como um indicador,
sendo as máquinas que fazem as leituras da maioria do material postado na internet. Os sentimentos percebidos por
meio de uma conversa, onde dois sujeitos interagem, exclamam, riem, possibilita
uma leitura além do que aparenta, pois está carregado de emoção. Assim, fora de
um consultório, em que há um trabalho legitimado na escuta e observação, o
cotidiano dispõe de whatsApp, facebook, entre tantos outros para
curtir, compartilhar e por aí vai, literalmente, se expandindo, como efeito
cascata aquilo que, alguém ingenuamente ou não, postou. A espera de um like gera ansiedade, talvez quem curtiu faça desta ação uma rotina
em partilhar, curtir todas as postagens de seus “amigos”.
Os
referendados autores seguem suas reflexões no sentido de que a psicologia,
atualmente, conta com uma potente ferramenta em questão de pesquisas
quantitativas, o enorme número de informações a que se tem acesso para poder
triangular dados de todas as formas. Porém, difícil se aproximar de um perfil
fidedigno do sujeito que está disponível para o mundo, literalmente.
Ao desenvolver os argumentos no sentido de diálogo entre os autores aqui
explanados é possível verificar que, na atualidade, não é presumível ter uma
verdade absoluta sem que seja contextualizada. A realidade não representa a
todos, pois nem sempre o que aparenta é aquilo com o qual o sujeito se
identifica.
Para uma apresentação didática de
fatos, teorias existem fases, períodos, contudo nunca podem ser estudados
generalizando-os de forma estanque, ou com um ponto final.
Votando à visão psicanalítica de Freud, as diferentes formas de
organização psíquica não são, em princípio, patológicas, essas possuem suas características,
devendo ser estudadas cuidadosamente para não enquadrar o analisando em uma
“patologia” e fragmentá-lo de si e da sociedade.
Diante ao exposto, a própria patologia cunhada nos manuais médicos, ao
serem estudadas e comparadas ao paciente, para enquadrar neste ou naquele
diagnóstico, deve estar muito claro para que não sejam simplesmente prescritos
uma série de medicamentos, sem ao menos ouvir, sem estereótipos o que o
paciente sente, sofre e percebe de si mesmo. A variação, as fronteiras de cada
patologia devem ser ampliadas. O profissional deve estar sempre atento às
pistas do seu paciente, deve também levar em consideração o contexto em que o
sujeito vive, sua cultura em todas as suas nuances, fazer a leitura do não
verbal, para poder errar menos em seu diagnóstico e prognóstico.
Referências
bibliográficas:
MÓDULO III
- curso de formação em psicanálise -
psicanaliseclinica.com (2020)
DOMINGUES,
Elzilaine; CAMARGO, Mendes T.; BARA, Viana O. Melancolia e depressão: um estudo psicanalítico.
(2014) Disponível em: <SciELO - Brasil -
Melancolia e depressão: um estudo psicanalítico melancolia e depressão: um
estudo psicanalítico>.
Acesso em: 15 de jul. 2021.
GUARESCHI,
Pedrinho A.; AMON. Denise; GUERRA, André. E. Abrapso. Psicologia, comunicação e pós-verdade. Porto Alegre, 2019.
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