Maria Helena
“A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as
dificuldades da existência em todas as formas que o sofrimento humano pode
assumir [...].” (MÓDULO 09, 2020, P. 05) E isto não pode ser apenas uma frase
bonita, que chamou a minha atenção. É profundamente uma percepção do que vem a
ser os momentos que a psicoterapia pode favorecer de mais humano para uma
pessoa que está com um sofrimento causado por suas emoções.
“A boa terapia se desenrola num enquadre clínico com um
vínculo que favorece este processo. Aí está um dos segredos desta arte: criar
um ambiente que permita a revelação dos mundos internos e favoreça o
desenvolvimento do processo singular de cada um. ” (MÓDULO 09, 2020, P. 10).
Percebe-se que não é qualquer profissional ou ambiente que conseguirá fazer com
que um paciente, cliente, analisando, enfim uma pessoa se sinta tão à vontade,
ao ponto de expressar sua mais profunda dor.
De acordo com o Módulo 09, a base de uma boa terapia
está na relação terapêutica, quando se desenrola em uma harmonização cujo
vínculo favorece o processo. Sendo um elemento fundamental, portanto, o
ambiente pois deve possibilitar que o mundo interno do analisando consiga
emergir, ainda beneficiando o desenvolvimento da dinâmica da singularidade
individual. Nesse clima, é possível ao ser mais oculto e amedrontado se
mostrar, ser ouvido, transformar-se.
Nesta acepção, Weffort (1995) afirma que só é possível olhar
o outro e sua história se temos em nós uma abertura de aprendiz que estuda a
própria história. Assim, a ação de olhar é um ato de estudar a si próprio, a
realidade, à luz da teoria que inspira.
No sentido da atenção, a contribuição vem da filósofa Simone
Weil que afirma ser esta a mais alta forma de generosidade. O método para compreender os
fenômenos, portanto, seria olhá-los até que irrompa a luz, sem qualquer forma
de interpretação e nem um apego. (BOSI, 2003).
Weffort (1995) assevera que nossa educação não permitiu
olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos e este olhar cristalizado nos
estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira, entre outras
características onde supõe-se ver o que não é real, mas o que se deseja ver.
Em uma entrevista, ou sessão de terapia é necessário
estar aberto ao que o outro traz de mais sagrado, a sua história. Assim, para Weffort
(1995) a concentração do olhar inclui escuta de silêncios, inclusive os ruídos
na comunicação, que podem ser inclusive do psicoterapeuta.
Pelos estudos, um momento fundamental da psicanálise é
a entrevista, entendida como o estudo da alma do analisando, e, se difere muito
do preenchimento da ficha de anamnese.
Assim, o espaço psicanalítico é o ambiente de ouvir, no
entanto, vale pensar se sabemos de fato, escutar o outro na sua história.
No dizer de Weffort (1995) o ver e o escutar fazem parte
do processo da construção do olhar. E frequentemente não ouvimos o que o outro nos
diz e sim se escuta aquilo que se gostaria de ouvir, e se imagina aquilo que o
outro estaria tentando comunicar, porque não se parte de sua fala, porém de uma
fala interior. É muito sério isso de produzir um monólogo. Pois o di-álogo, são
dois.
Outro item importante para este ambiente acolhedor da
entrevista é o olhar, que para a supracitada autora, atualmente se possui um olhar
estereotipado, parado, querendo ver só o que nos agrada, o que sabemos, assim reproduzindo
um olhar de monólogo, um olhar e uma escuta dessintonizada, alienada da
realidade do outro.
Ver e Ouvir demanda implicação, entrega ao outro. Estar
aberto para vê-Io e/ou ouví-Io como é, no que diz, portanto, exige um sair de
si para ver o outro e a realidade, segundo os pontos de vista e hipóteses do
outro e não da sua.
Diante ao exposto, demanda ao psicanalista um estudo minucioso
de si mesmo, se possui tais características, porque não é um exercício fácil.
Principalmente depois de adulto, quando este especialista não conseguiu em seu
processo de psicanálise, como analisado, ter percebido suas fragilidades de
conviver em grupo, por arrogância ou autoritarismo, ou algum sentimento que o
impeça de uma convivência harmoniosa.
O espaço em que se ocupa em uma sessão de psicanálise,
não é apenas o físico, tempo, há emoções, sentimentos, então para buscar,
conversar, tocar no outro, na sua ferida que faz parte da comunicação, por meio
das associações que o analisando faz, assim importa que o psicoterapeuta
reconheça o seu agir durante este rico espaço.
Referências
bibliográficas:
BOSI, Ecléia. A atenção em Simone
Weil - Artigos originais Psicol. USP –SciELO.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-65642003000100002 . Acesso 15/out./2021
WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São
Paulo: Espaço Pedagógico. (1995)
MÓDULO 09. Clínica
psicanalítica. Psicanálise clínica. (2020)
Nenhum comentário:
Postar um comentário