quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Análise de “Práticas e Procedimentos em Clínica Psicanalítica”

 

                                                               Maria Helena

“A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir [...].” (MÓDULO 09, 2020, P. 05) E isto não pode ser apenas uma frase bonita, que chamou a minha atenção. É profundamente uma percepção do que vem a ser os momentos que a psicoterapia pode favorecer de mais humano para uma pessoa que está com um sofrimento causado por suas emoções.

“A boa terapia se desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favorece este processo. Aí está um dos segredos desta arte: criar um ambiente que permita a revelação dos mundos internos e favoreça o desenvolvimento do processo singular de cada um. ” (MÓDULO 09, 2020, P. 10). Percebe-se que não é qualquer profissional ou ambiente que conseguirá fazer com que um paciente, cliente, analisando, enfim uma pessoa se sinta tão à vontade, ao ponto de expressar sua mais profunda dor.

De acordo com o Módulo 09, a base de uma boa terapia está na relação terapêutica, quando se desenrola em uma harmonização cujo vínculo favorece o processo. Sendo um elemento fundamental, portanto, o ambiente pois deve possibilitar que o mundo interno do analisando consiga emergir, ainda beneficiando o desenvolvimento da dinâmica da singularidade individual. Nesse clima, é possível ao ser mais oculto e amedrontado se mostrar, ser ouvido, transformar-se.

Nesta acepção, Weffort (1995) afirma que só é possível olhar o outro e sua história se temos em nós uma abertura de aprendiz que estuda a própria história. Assim, a ação de olhar é um ato de estudar a si próprio, a realidade, à luz da teoria que inspira.

No sentido da atenção, a contribuição vem da filósofa Simone Weil que afirma ser esta a mais alta forma de generosidade. O método para compreender os fenômenos, portanto, seria olhá-los até que irrompa a luz, sem qualquer forma de interpretação e nem um apego. (BOSI, 2003).

Weffort (1995) assevera que nossa educação não permitiu olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos e este olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira, entre outras características onde supõe-se ver o que não é real, mas o que se deseja ver.

Em uma entrevista, ou sessão de terapia é necessário estar aberto ao que o outro traz de mais sagrado, a sua história. Assim, para Weffort (1995) a concentração do olhar inclui escuta de silêncios, inclusive os ruídos na comunicação, que podem ser inclusive do psicoterapeuta.

Pelos estudos, um momento fundamental da psicanálise é a entrevista, entendida como o estudo da alma do analisando, e, se difere muito do preenchimento da ficha de anamnese.

Assim, o espaço psicanalítico é o ambiente de ouvir, no entanto, vale pensar se sabemos de fato, escutar o outro na sua história.

No dizer de Weffort (1995) o ver e o escutar fazem parte do processo da construção do olhar. E frequentemente não ouvimos o que o outro nos diz e sim se escuta aquilo que se gostaria de ouvir, e se imagina aquilo que o outro estaria tentando comunicar, porque não se parte de sua fala, porém de uma fala interior. É muito sério isso de produzir um monólogo. Pois o di-álogo, são dois.

Outro item importante para este ambiente acolhedor da entrevista é o olhar, que para a supracitada autora, atualmente se possui um olhar estereotipado, parado, querendo ver só o que nos agrada, o que sabemos, assim reproduzindo um olhar de monólogo, um olhar e uma escuta dessintonizada, alienada da realidade do outro.

Ver e Ouvir demanda implicação, entrega ao outro. Estar aberto para vê-Io e/ou ouví-Io como é, no que diz, portanto, exige um sair de si para ver o outro e a realidade, segundo os pontos de vista e hipóteses do outro e não da sua.

Diante ao exposto, demanda ao psicanalista um estudo minucioso de si mesmo, se possui tais características, porque não é um exercício fácil. Principalmente depois de adulto, quando este especialista não conseguiu em seu processo de psicanálise, como analisado, ter percebido suas fragilidades de conviver em grupo, por arrogância ou autoritarismo, ou algum sentimento que o impeça de uma convivência harmoniosa.

O espaço em que se ocupa em uma sessão de psicanálise, não é apenas o físico, tempo, há emoções, sentimentos, então para buscar, conversar, tocar no outro, na sua ferida que faz parte da comunicação, por meio das associações que o analisando faz, assim importa que o psicoterapeuta reconheça o seu agir durante este rico espaço.

 

Referências bibliográficas:

BOSI, Ecléia. A atenção em Simone Weil  - Artigos originais  Psicol. USP – 2003. SciELO. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-65642003000100002 . Acesso 15/out./2021

WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico. (1995)

MÓDULO 09. Clínica psicanalítica. Psicanálise clínica. (2020)

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