PAULO FREIRE: stories and stories. There goes 20 years
Maria Helena da Silva Meller
Em maio de 1997, sem que a
mídia desse muita ênfase, partia o grande educador Paulo Freire.
Seu nome na academia é
motivo de severas discussões, talvez por dificuldade em encaixá-lo em uma
teoria ou conceito. Sua marca, a alfabetização de adultos em quarenta e cinco
dias, por meio do método silábico é o grande nó da questão, talvez.
Convém trazer à tona o
contexto histórico e político. 1958 qual o número de pessoas adultas no Brasil
não conseguiam ler e escrever seu nome? Como se encaminhava a pais que em 1964,
tomou um rumo conhecido como golpe de estado, os anos da ditadura. O que
antecedeu? Como estava a vida dos brasileiros?
Paulo Freire volta ao Brasil
em 1985, com a anistia, após ficar exilado 20 anos. Assim de 1958 a 1997, são quase
quarenta anos dedicados à educação. E não é possível simplificar ao processo de
alfabetização, ou somente a sua última obra Pedagogia da Autonomia ou como antítese,
Pedagogia do Oprimido.
Tenho clareza que o educador
Freire não apresentou resposta e nem apresenta para todas as mazelas da
educação brasileira. Contudo, pode oferecer base para muita reflexão.
Primeiramente, o sentido da
autonomia para um sujeito que depende do outro para decifrar códigos em uma
sociedade letrada. Consegue responder com autoridade quem trabalhou com
educação de adultos e acompanhou o cidadão questionar preços, aprendeu “pegar”
o ônibus sem precisar ficar refém, perguntando, para onde vai tal ônibus, ou
não pagar mais um indivíduo para acompanhá-lo aos lugares. Também consegue
responder sobre autonomia, quem fez essa trajeto, tropeçando, insistindo,
desistindo, resistindo, mas percebendo que seus direitos são tão importantes
como os dos demais cidadãos.
Ainda, que o fato de não
saber ler não pertence a ele, não nasceu com ele. É sim uma questão das condições
materiais da sociedade.
Importa conhecer Paulo
Freire na academia sim, pois muitas outras universidades de outros países o
estudam. Não há tanta cópia sobre o que vai bem nos outros países? Que tal
estudar Paulo Freire? Sendo conhecido como patrono da educação brasileira, por
vezes criticado por pessoas que não o estudaram.
Seu legado na alfabetização
de adultos, sob o meu ponto de vista, seria sua razão de vida. No entanto, sua
percepção do que é ética, que transcende um conjunto de combinados, de normas
dentro de uma profissão, é o conceito que o Brasil deve conhecer e nossos adolescentes
e jovens nas academias.
Penso que se um docente
conhecesse a pedagogia que gera a autonomia, conseguiria estabelecer um diálogo
com seus “superiores”. E se os gestores, aqueles que pensam a educação no pais
compreendessem o que, de fato, é proporcionar uma educação que gere autonomia,
haveria muitas alterações não somente nos dispositivos legais, nos escritos,
pois são tantos os documentos...
Certa vez ao escrever para
um docente, escritor famoso, conversamos sobre Freire e ele me afirmou: - “não
é possível fazer bolinho de Paulo Freire.” Sim entendo, não é resposta para
tudo, pois sua profissão era professor, não enciclopédia, nem site da internet. Ou ainda, em outra
situação em um Fórum Internacional de Educação, onde a docente falou para mim,
diante de uma interrogação sobre Freire: - “se falar sobre esse autor, em meu
grupo de pesquisa, serei execrada”. Porém, em seu último slide uma frase de Freire.
Em minha ingênua reflexão é
como se fosse um estorvo. Estudamos Aristóteles, sua reconfiguração das ideias platônicas,
pesquisamos o próprio Platão, Descartes, Marx, entre tantos outros que tiveram
suas ideias analisadas, não para serem simplesmente refutadas, contudo para a
apropriação do que foi naquele período um conhecimento necessário, no momento
daquela tese.
Será que é muito recente
desejar estudar Paulo Freire? Ou temos que ler os autores que o estudaram nos países
pelos quais passou, ensinou e aprendeu? Em seus “livros falados”, mas sem ler
os originais, e sim “ler” quem faz as críticas...
2017 - vinte anos de
histórias sobre esse educador que não temos como negar fez e faz a diferença
para quem o estuda, para quem entende que foram quarenta anos, no Brasil e fora
dele analisando a educação. Ou seja, imerso no sistema e com o distanciamento
necessário para uma apreensão ampla do contexto.
Em quase 100% dos projetos
pedagógicos nas U.E.s apresenta-se formar
o cidadão crítico e propositivo. No dizer de Freire, a consciência crítica
está disposta às revisões”. Como fazer revisão? Re-ver, ver de outro jeito, de
outro ângulo. Como a escola irá ver os conteúdos, o contexto, as situações sob
pontos de vista diferenciados? Se a mesma tem um extenso currículo a ser
cumprido. A reflexão sobre a prática, a práxis
tão discursada na academia? Toda reflexão deve ter uma baliza teórica, quando
estudar?, se o tempo permitido na docência ao professor, atualmente, é para um curso
a distância, solitário. Esse processo necessita de grupo, necessita do outro.
1958 – 1997 - Direi quarenta
anos de Paulo Freire. Qual seu grande legado? Qual o seu conhecimento sobre
esse educador, leitor?
2017 - 20 anos que poderíamos estar estudando para
depois poder exercer a crítica.
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