segunda-feira, 24 de abril de 2017

PAULO FREIRE: histórias e estórias. Lá se foram 20 anos

PAULO FREIRE: stories and stories. There goes 20 years
Maria Helena da Silva Meller

Em maio de 1997, sem que a mídia desse muita ênfase, partia o grande educador Paulo Freire.
Seu nome na academia é motivo de severas discussões, talvez por dificuldade em encaixá-lo em uma teoria ou conceito. Sua marca, a alfabetização de adultos em quarenta e cinco dias, por meio do método silábico é o grande nó da questão, talvez.
Convém trazer à tona o contexto histórico e político. 1958 qual o número de pessoas adultas no Brasil não conseguiam ler e escrever seu nome? Como se encaminhava a pais que em 1964, tomou um rumo conhecido como golpe de estado, os anos da ditadura. O que antecedeu? Como estava a vida dos brasileiros?
Paulo Freire volta ao Brasil em 1985, com a anistia, após ficar exilado 20 anos. Assim de 1958 a 1997, são quase quarenta anos dedicados à educação. E não é possível simplificar ao processo de alfabetização, ou somente a sua última obra Pedagogia da Autonomia ou como antítese, Pedagogia do Oprimido.
Tenho clareza que o educador Freire não apresentou resposta e nem apresenta para todas as mazelas da educação brasileira. Contudo, pode oferecer base para muita reflexão.
Primeiramente, o sentido da autonomia para um sujeito que depende do outro para decifrar códigos em uma sociedade letrada. Consegue responder com autoridade quem trabalhou com educação de adultos e acompanhou o cidadão questionar preços, aprendeu “pegar” o ônibus sem precisar ficar refém, perguntando, para onde vai tal ônibus, ou não pagar mais um indivíduo para acompanhá-lo aos lugares. Também consegue responder sobre autonomia, quem fez essa trajeto, tropeçando, insistindo, desistindo, resistindo, mas percebendo que seus direitos são tão importantes como os dos demais cidadãos.
Ainda, que o fato de não saber ler não pertence a ele, não nasceu com ele. É sim uma questão das condições materiais da sociedade.
Importa conhecer Paulo Freire na academia sim, pois muitas outras universidades de outros países o estudam. Não há tanta cópia sobre o que vai bem nos outros países? Que tal estudar Paulo Freire? Sendo conhecido como patrono da educação brasileira, por vezes criticado por pessoas que não o estudaram.
Seu legado na alfabetização de adultos, sob o meu ponto de vista, seria sua razão de vida. No entanto, sua percepção do que é ética, que transcende um conjunto de combinados, de normas dentro de uma profissão, é o conceito que o Brasil deve conhecer e nossos adolescentes e jovens nas academias.
Penso que se um docente conhecesse a pedagogia que gera a autonomia, conseguiria estabelecer um diálogo com seus “superiores”. E se os gestores, aqueles que pensam a educação no pais compreendessem o que, de fato, é proporcionar uma educação que gere autonomia, haveria muitas alterações não somente nos dispositivos legais, nos escritos, pois são tantos os documentos...
Certa vez ao escrever para um docente, escritor famoso, conversamos sobre Freire e ele me afirmou: - “não é possível fazer bolinho de Paulo Freire.” Sim entendo, não é resposta para tudo, pois sua profissão era professor, não enciclopédia, nem site da internet. Ou ainda, em outra situação em um Fórum Internacional de Educação, onde a docente falou para mim, diante de uma interrogação sobre Freire: - “se falar sobre esse autor, em meu grupo de pesquisa, serei execrada”. Porém, em seu último slide uma frase de Freire.
Em minha ingênua reflexão é como se fosse um estorvo. Estudamos Aristóteles, sua reconfiguração das ideias platônicas, pesquisamos o próprio Platão, Descartes, Marx, entre tantos outros que tiveram suas ideias analisadas, não para serem simplesmente refutadas, contudo para a apropriação do que foi naquele período um conhecimento necessário, no momento daquela tese.
Será que é muito recente desejar estudar Paulo Freire? Ou temos que ler os autores que o estudaram nos países pelos quais passou, ensinou e aprendeu? Em seus “livros falados”, mas sem ler os originais, e sim “ler” quem faz as críticas...
2017 - vinte anos de histórias sobre esse educador que não temos como negar fez e faz a diferença para quem o estuda, para quem entende que foram quarenta anos, no Brasil e fora dele analisando a educação. Ou seja, imerso no sistema e com o distanciamento necessário para uma apreensão ampla do contexto.
Em quase 100% dos projetos pedagógicos nas U.E.s apresenta-se formar o cidadão crítico e propositivo. No dizer de Freire, a consciência crítica está disposta às revisões”. Como fazer revisão? Re-ver, ver de outro jeito, de outro ângulo. Como a escola irá ver os conteúdos, o contexto, as situações sob pontos de vista diferenciados? Se a mesma tem um extenso currículo a ser cumprido. A reflexão sobre a prática, a práxis tão discursada na academia? Toda reflexão deve ter uma baliza teórica, quando estudar?, se o tempo permitido na docência ao professor, atualmente, é para um curso a distância, solitário. Esse processo necessita de grupo, necessita do outro.
1958 – 1997 - Direi quarenta anos de Paulo Freire. Qual seu grande legado? Qual o seu conhecimento sobre esse educador, leitor?

2017 -  20 anos que poderíamos estar estudando para depois poder exercer a crítica.

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