quinta-feira, 20 de abril de 2023

A Personalidade em sua síntese: Saúde Ou Norma?

 The Personality in its synthesis: Health or Norm?

Maria Helena 

                               “Só a experiência própria é capaz de tornar sábio o ser humano”. (Freud)

 Com o curso de Psicanálise venho aprofundando algumas constatações que, até então, eram algumas percepções as quais considero superficiais.

O fio condutor, didaticamente elaborado do fazer psicanalítico, transcende em ver o ser que sofre, para além de uma justaposição de mente, corpo e cultura.

Partindo das pesquisas de Freud ou Lacan, ainda, dos demais autores de que tratam do referido tema, verificado a voz daquele que sofre, ser conduzido pelos sintomas, até chegar em uma verdade, não é possível existir um ser humano sem nenhuma frustração.

Mesmo existindo diferentes personalidades, existem diferentes desejos em cada uma. E como a vida é movimento, há transformações, portanto, impossível não haver oscilação na tentativa de se integrar, adaptar ao novo. E quanto mais novo, mais a psique deve gerar energia a fim de buscar um equilíbrio, portanto mais sinapses, mais adrenalina e outros hormônios, mais emoções e sentimentos em um só foco. Tudo isso forjando uma personalidade.

As denominações de personalidades têm sua história com o próprio desenvolvimentos da medicina, psicologia e psicanálise, em um contexto cultural. Para falar de um transtorno, deve-se conhecer o padrão, referência usada como saudável, aqui no caso, a personalidade.

Para Dalgalarrondo (2008) o tema personalidade é complexo, portanto, também fonte de muitos erros.

 O presente artigo é parte complementar do curso Personalidade e Psicopatologias (IBPC) e objetiva analisar a procura pela “normalização” de um paciente em busca da psicanálise.

É uma reflexão pautada na visão quantiqualitativa, trazendo pesquisadores que fizeram deste tema sua busca constante.

1.1    Tipos e Transtornos de personalidades:

 Dalgalarrondo (2008) indica que a primeira tipologia foi da medicina hipocrática e é essencialmente ambientalista, ou seja, focada nos elementos: água, ventos, solo, umidade do ar, entre outros, interagindo com o corpo humano. Sendo os humores com os respectivos órgãos: o sangue é o coração; a bílis é o fígado; o fleuma é o cérebro e a atrabilis é o baço.

Jung, por sua vez, faz uma organização dos aspectos de personalidade: a extroversão, a libido flui em direção aos objetos externos; e a introversão a libido recua ao mundo interior.

Para Freud a constituição da personalidade passa pelo desenvolvimento das fases da libido, como se estrutura o desejo inconsciente. Assim temos: neurose, psicose e perversão.

Para a psicanálise as fixações infantis da libido e a tendência à regressão determinam os diferentes tipos de neurose e o perfil de personalidade do adulto. (DALGALARRONDO, 2008)

As neurociências demonstram como as emoções se desenvolveram para aumentar a sobrevivência e garantir a existência da espécie. (Zimermann, 2008).

O DSM-5 (2013) divide os 10 tipos de transtornos de personalidade em 3 grupos com base em características semelhantes. O grupo A é caracterizado por parecer estranho ou excêntrico. São os seguintes transtornos: Paranoide: desconfiança e suspeita; Esquizoide: desinteresse em outras pessoas; Esquizotípico: ideias e comportamentos excêntricos. Grupo B: Antissocial: irresponsabilidade social, desrespeito por outros, falsidade e manipulação dos outros para ganho pessoal; Borderline: vazio interior, relacionamentos instáveis e desregulação emocional; Histriônico: busca de atenção e emocionalidade excessiva; Narcisístico: autograndiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Grupo C:  Esquivo: evitar contato interpessoal por causa de sensibilidade à rejeição; Dependente: submissão e necessidade de ser cuidado; Obsessivo-compulsivo: perfeccionismo, rigidez, e obstinação.

       1.2    O ser humano de cada um

“Conheceis a verdade e ela vos libertará” (João 8, 32). “Conhece-te a ti mesmo”. (Sócrates 470 a.C.). Assim, quer por uma visão espiritualizada ou filosófica, é bastante não diria antiga, diria fortalecida a importância em buscar em si, as próprias estruturas, os próprios princípios, aquilo que é a alma do sujeito, o seu próprio ser.

Muitos afetos inconscientes vazam em forma de sofrimentos físicos. Sem um diagnóstico que seja comprovado por exames de imagem ou laboratoriais.

 O somatizador tem dificuldades de fantasiar, de sorte que o ego não consegue processar, elaborar e representar as pulsões, do que resulta que ele superlibidinizar o corpo de forma concreta. (Zimerman, 2008).

Um ser é mais que a junção do físico, emocional, intelectual e espiritual. Síntese é um substantivo feminino, parte do método dialético, tese, antítese e síntese. Processo ou operação que consiste em reunir elementos diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los em um todo coerente.

Para McWilliams (2014) “é a percepção de padrões oscilantes que enriquece as noções analíticas de caráter e as torna mais genuinamente clínicas do que uma lista de atributos estáticos. ” (p.60)

Diante ao exposto, a psicanálise, enquanto método e didática faz suas classificações, no entanto é para analisar um Ser.

O analista deve ajudá-los a que os expressem para os outros, logo, para o analista na situação analítica, porquanto isto desempenha um importante papel na – fundamental – função de regulação da atividade emociona. (Zimerman, 2008)

Aquele que busca a psicanálise necessitando minimizar o seu sofrimento, em princípio, enfrentará as suas resistências, no sentido de reconhecê-las. Perceberá o que é parte de sua personalidade, terá uma melhor compreensão de seus desejos ocultos, os quais não podem ser concretizados, muitas vezes, devido ao seu severo superego. Portanto, o grande conflito id-superego.

Mais que um profundo reconhecimento daquilo que é externo, o seu entorno social, cultura, a aceitação dos demais sobre a sua conduta, cabe àquele que sofre não se perceber normal, e sim saudável. Sentir-se em paz, sem angustias, medos, sintomas psicossomáticos de toda ordem.

Conclusão:

São diferentes seres, com diferentes genéticas, temperamentos, vida afetiva se foram amados, negligenciados, alimentos para o físico e para alma. Tudo isso implicará em sua personalidade.

 Aquilo que poderia ser considerado um transtorno, pode fazer parte do seu Eu, considerado pelo analisando como saudável. Em contrapartida, aquilo que ele traz como a queixa inicial pode esconder algo que está muito longe para que acesse ao afeto, sozinho.

Referências bibliográficas:

Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

DSM-5Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

McWilliams, Nancy. Diagnóstico Psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Zimermann, David E. Manual de Técnica Psicanalítica. Artmed, 2008.

 

 

 

 

 

 

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