segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

META: EDUCAÇÃO ACOLHEDORA

Goal: welcoming education                                                                  

Maria Helena

             Nunca foi tão evidente tratar a educação como inclusiva, porém no cenário em que vivemos, parece redundante o referido termo. Tratar a educação em sentido amplo, família, sociedade geral e o ensino específico da escola, a inclusão redunda quando tratamos de todos os seres humanos, pois os mesmos devem ser acolhidos em todas as suas especificidades.

            Aqui desejo evidenciar a acolhida aos meus colegas docentes, porque a razão da escola existir é para o ensino dos estudantes, contudo aqueles que estão na linha de frente são os gestores e docentes. Assim, neste ato do ensino híbrido, todo o cuidado possível respeitando os protocolos criados pelos órgãos competentes, estão em tese, sendo cumpridos.

          Uma pergunta: quem conhece uma escola de verdade, viva? como um corpo humano, com todos os seus elementos interdependentes, convivendo, onde há definições puramente didáticas, pois não existe uma rigidez como uma barra de ferro, principalmente quando se buscou e busca uma autonomia por meio da dialogicidade, da reflexão do autoconhecimento. Assim, pressupor que todas as instituições estão conseguindo cumprir com os protocolos definidos pelas secretarias de saúde, segurança, educação, etc...é pura ingenuidade. No entanto, nós professores sabemos que o cenário sempre foi este, todos que instituem sua prática balizados na verdadeira ética, reconhecem a diferença da escola real, da escola idealizada e da escola difundida por parte da mídia. Portanto, o docente sofre duplamente: por ter que atuar em um cenário em que impera o medo e, ainda, por saber que a maior parte da sociedade não reconhece o trabalho do professor como essencial, importante para a mesma.

           Reconheço, por toda minha formação e por 35 anos de docência e gestão, que o interior da escola diverge muito das estatísticas, ou melhor de todo material que tenta generalizar uma escola.

           O momento atual necessita de acolhimento, de escuta acolhedora. Isso está muito bem planejado para os estudantes, o cuidado com as crianças pequenas e, principalmente, com os adolescente, sendo esta uma atitude louvável, diante do quadro que temos percebido onde nossos estudantes, filhos, estão bastante desmotivados, presos, sem muitos sonhos. Porém, neste espaço busco mais um diálogo com meus pares, aqueles que estão em seu cotidiano, planejando, corrigindo, elaborando, cuidando, ensinando, observando, analisando, dialogando...muitas vezes sem uma ilha segura, um ponto de equilíbrio. Diante do: " e agora? como faço?" ter alguém para simplesmente ouvir sem julgamentos, para que a função do professor tenha uma conotação menos solitária. Que o professor sinta que suas decisões estão sendo "aprovadas". Sim, neste momento, é disso que falo. 

         Durante este período tenho recebido mensagens de colegas me perguntando o que fazer e como fazer, se o que está praticando está correto, o que penso. Eu respondo que a sua ação é o que sabe fazer no momento, se está agindo com sua ética, coração, está correto.

          Temos muitas instituições onde não há uma equipe pedagógica, no sentido de coordenação/orientação. E quando há, em um cenário, como estamos vivenciando, são muitas decisões focadas por dia, assim nem sempre são reservados tempos, (sim, pois tempo é construção humana, o relógio foi criado pelo homem) para poder partilhar com os professores que as angústias são de todos os profissionais, todos estão em uma situação necessitados de um acolhimento, de um "-estamos diante de hipóteses".

        Colegas devemos lembrar que somos profissionais por formação, com nossos certificados, prestamos nosso serviço à sociedade. Contudo, devemos lembrar que ensinamos mais pelo exemplo do que por nossos discursos pedagógicos. Não estou tratando de egoísmo, portanto cuidar do outro é um ato de amor, assim como o cuidar de si. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

MARKETING EDUCACIONAL EM UMA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DE EDUCAÇÃO: LIMITES E PERSPECTIVAS

EDUCATIONAL MARKETING IN A DEMOCRATIC CONCEPT OF EDUCATION: LIMITS AND PERSPECTIVES                                                              

 Maria Helena 


Resumo:
O presente artigo decorre da solicitação do professor Ricardo Espínola na disciplina de Marketing Educacional desenvolvido no curso de Especialização em Orientação, Supervisão e Gestão Escolar na Instituição Esucri – Criciúma/ SC. O tema está relacionado a analise do contexto escolar em que se vislumbra a colaboração do marketing não como promoção de vendas de produto. No entanto, como conhecimento da realidade educativa em evidência para elaboração de estratégias adequadas à eficácia da instituição, em seu papel social.
Palavras chave: Marketing. Escola. Democracia.


1 INTRODUÇÃO

A educação brasileira em sentido amplo desenvolve-se de acordo com sua construção histórica e cultural. No que se refere à educação escolar sua sistemática conforme a conhecemos atualmente é bastante recente, haja vista, em nível de legislação ser citada em 1934 com a área da saúde. No que concerne ao termo marketing utilizamos o conceito de Philip Kotler que afirma marketing ser o processo social e administrativo através da criação e troca de produtos e valor com outras pessoas.


2 UM POUCO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

                Toda pesquisa necessita de um aporte teórico para que seja considerada científica. Portanto, os procedimentos metodológicos, de acordo com Otani, 2004, uma pesquisa científica é um grande passo, quer para um sujeito, quer para a sociedade, pois se utilizam de seus resultados em sua prática social, portanto exige rigorosidade em sua trajetória. Segundo Gil (2002 apud OTANI 2004, p. 33) a pesquisa busca respostas aos questionamentos elencados, destarte exige racionalidade e sistemática, ou seja, neste caso, por meio das leituras efetuadas compreender em que mediada o marketing é uma ferramenta em favor a educação em meio a um cenário capitalista cuja estratégia é a visão neoliberal e a globalização ou um instrumento necessário para a concretização dos indicativos a uma educação democrática.
             A partir de dados obtidos no preâmbulo da Constituição Federal Brasileira, onde busca assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça fundada na harmonia social com a solução pacífica das controvérsias, nos Princípios Fundamentais, entre eles o da cidadania, a dignidade da pessoa humana a de construir uma sociedade livre, justa e solidária é possível fazer algumas reflexões sobre a educação escolar. Visto esta acontecer em um cenário, no dizer de Freire, onde há oprimidos e opressores.
          No dizer de Tardif (2002) é como se fossem dois trabalhos distintos dentro da educação escolar, os produtores do saber e os que executam. Não obstante, estas questões são reais e necessitam ser transformadas em problematização. Em que medida a escola dentro dos parâmetros propostos pela legislação vigente atende a camada popular? Isto precisa ser ressignificado pela reflexão na prática e sobre a prática docente (WEFFORT, 1997).
            Neste sentido,  a Proposta Curricular/SC (2005) a qual se posiciona teoricamente na concepção sócio histórica, aprovisionando um arcabouço capaz de sustentar uma metodologia “em que o estudante possa apropriar-se dos conceitos científicos significativos que lhe possibilitem lidar bem com sua realidade sócio-histórica e acessar as riquezas materiais e espirituais socialmente produzidas” (PC/SC, 2005, p.12). Neste sentido trazemos a questão da gestão, pois a escola é dirigida por profissionais. O termo gestão passou a fazer parte do cenário educativo, assim como em qualquer organização. Contudo, a escola não é uma empresa, tem um papel social bastante definido e regimentado por legislação pertinente, tem a função de difundir o conhecimento.
             A escola nascida somente para uma determinada elite, com a sua popularização, chega a todas as camadas sociais. Isto significa que, atualmente, os estudantes tem acesso às varias instituições, dos vários níveis. Percebe-se aqui um avanço com relação ao direito à educação escolar.


3 MARKETING E EDUCAÇÃO

           É de conhecimento dos educadores que estamos imersos em um contexto de competição, em todos os aspectos. Com a popularização da escola e do mundo da prestação de serviços, sabemos que a atualização é bastante inconstante. Que a sociedade atual necessita de profissionais capacitados para atuar de forma competitiva no mercado contemporâneo. Neste cenário, caracterizado pela expansão do sistema de formação quer acadêmica, quer por demais instituições o aumento da concorrência entre os estabelecimentos se fortalece a cada dia, torna-se capital o emprego de ferramentas que contribuam para a sustentação e estabilização dessas organizações no mercado.
             De acordo com Espíndola (2011) é quase impossível comprar a fidelidade de um cliente, contudo conquistá-la é plausível. Ainda de acordo com o referido autor, embora as escolas apresentem um papel social diferenciado em sua prestação de serviços, elas trabalham com produtos, pois se espera da escola o ensino e com clientes, contudo existe uma relação vendedor comprador com um diferencial.
            Quando Espíndola (2011) cita (KOTLER1998), enfatizando que satisfazer o cliente significa trabalhar com mercados na tentativa de realizar as trocas em potencial com o objetivo de satisfazer as necessidades e desejos humanos é importante salientar a seriedade deste aspecto no que se refere à educação, principalmente às crianças e adolescentes do século XXI. Pois é uma geração com características e necessidades bastante distintas do século XX. A instituição que se eximir desta percepção estará, de fato, fadada ao fracasso.
           Conhecer as demandas atuais e futuras é tarefa da escola atual. As possibilidades a curto, médio e longo prazo para que não se perca nestas contradições em que está imersa a escola. As instituições de ensino estão inseridas em um contexto constituído por múltiplos fatores, mesmo com planejamento, ainda, são imprevisíveis, e por que não dizer provisórios em muitas circunstâncias improvisados. Caracterizando como oportunidade em fazer da escola uma instituição que necessita conhecer a sua missão, suas metas e objetivos, fornecendo pistas à nova geração de um mundo contraditório, no entanto “contaminado” por seres humanos.


4 CONCLUSÃO

             No que tange a pesquisa, ora feita, é possível inferir que, mesmo em um sistema capitalista com uma visão democrática de educação, quando se concebe o marketing como um estudo da realidade buscando pontos frágeis e fortes na ânsia de aprimorar os trabalhos torna-se possível haver uma compatibilidade.
           É importante salientar, contudo, se a compreensão do marketing acontecer como promoção de produtos com o fim de, somente, o lucro se tem aqui um paradoxo no que se refere à educação democrática, haja vista o pais possuir nuances bastante distintas de suas classes sociais. Neste caso, a gestão escolar há que possuir uma formação ampla, não somente pedagógica no sentido estrito, não obstante em sentido vasto, apreendendo a educação e o marketing como elementos de uma mesma face social. Fazendo uma leitura antropológica de sua instituição e de seus atores a fim de oferecer uma educação que, de fato, forme para a cidadania.

REFERENCIAS
CLARO, Alberto Entrevista com o professor Dr.Alberto Claro sobre MARKETING EDUCACIONAO, por Marcello Chamusca, do Portal RP-BAHIA. Disponível em: Acesso em: 17 de maio. 2011.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
ESPINDOLA, Luiz Ricardo. Fundamento de Marketing. Criciúma, SC, ESUCRI, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
OTANI, Nilo. Metodologia do trabalho científico. Criciúma, SC, ESUCRI, 2010.
SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. Florianópolis: IOESC, 2005.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

PERMACRISE: NECESSIDADE EM ENFATIZAR A CRISE?

                                    Maria Helena

                  Se para muitos a crise é uma oportunidade, onde se pode fazer emergir a criatividade, a iniciativa, a inovação, parece que, para determinado grupo, enfatizar a crise como um permanente estado de sofrimento é novidade. Como se somente a última década trouxesse tantas situações que levam o sujeito ao mais alto nível de "luta ou fuga".
              O ser humano vem escrevendo a sua história em meio às situações diversas, pois não existiria movimento nenhum na natureza, se não fossem os atritos. Nem a luz haveria. Por que  existe a luz? Estaria a humanidade em busca de um estágio neutro? Inerte? 
              Que satisfação tem esta parcela da humanidade que sente prazer e, acumula seus pseudotesouros apavorando os jovens e a população que sofre com transtorno do pânico, estresse, depressão, ansiedade, etc? 
            Permacrise, foi somente por meio de crises, atritos que houve o que se denomina desenvolvimento humano. Guerras, são novidade? Epidemias, pandemias? Catástrofes naturais ou provocadas pelo ser Inteligente Homem, são novidades? Crises permanentes.
            O que há de novo, diante de minha frágil reflexão: não havia a banalização com muitos eventos, havia a naturalização. Com a banalização, determinado grupo precisa transformar isso em consumo midiático, para que não passe desapercebido, não despercebido, mas de prevenir, desprevenido, pois, no caso, haverá o perder a "oportunidade" do ganho...que paradoxo... 
            Há de novidade, a velocidade da informação, não do aprendizado, conhecimento...são informações rasas. Isso, para negligenciar, mesmo, para não aprofundar...Pensem...e se o povo passar a refletir diariamente que sempre houve toda a forma de crises, que viver feliz permanentemente é ilusão, é o canto da sereia...se as pessoas analisarem a própria vida e perceberem que o grande teatro montado só funciona, pois, os atores não se percebem como autores da própria vida?
            Permanente estado de crise, atritos, movimento, oportunidade...é e não é o mesmo mundo, basta escolher um prisma para decidir e viver, entendendo que é o movimento natural, com a intervenção humana, direcionada para o que se deseja.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSO SOCIAL E PEDAGÓGICO

                                                     Maria Helena 


A Constituição Federal Brasileira de 1988 é denominada cidadã, devido ao seu contexto histórico, político e cultural da década de 1980. Decorrentes dessa, as leis que a complementam possuem essa premissa, pelo menos em nível teórico.
Fazendo uma reflexão do ato de educar de forma sistemática, por meio das instituições designadas à tal função, as escolas, perpassa-se pelos direitos dos cidadãos brasileiros e até os estrangeiros, conforme os dispositivos legais que os amparam.
Com relação à EJA – Educação de Jovens e Adultos, assim trata a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do art. 4º. No artigo 24, inciso c, quando trata da avaliação, assevera:  independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino.
Aqui temos duas questões fundamentais, primeiro, que o ente federado que se constitui como Sistema, possui autonomia para elaborar suas leis e dispositivos normativos, por meio do Conselho Municipal de Educação. Segundo, que a qualquer tempo o sujeito pode frequentar a escola, sendo respeitada sua experiência materializada em conhecimentos que venham ao encontro dos currículos escolares da Respectiva Rede, a qual pretende estudar.
Outro documento que vem corroborar nesta questão é o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente: Capítulo IV - Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes, entre outros,  igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. E no Art. 54, como dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria e progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio.
Portanto os entes federados, estados e municípios que oferecem a EJA, além do cumprimento da Lei, demonstram o compromisso com os seus munícipes, vislumbrando o futuro de seu município por meio da formação que o mesmo oferece.
Continua a LDB: Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
Assim, em termos de lei no nível federal o jovem e o adultos que não estudaram na idade própria, por questões múltipla: vulnerabilidade econômica, culturais, emocionais entre outras, podem ter acesso e direito à escolarização fora da idade considerada regular.

Metodologia e Avaliação na EJA

O grupo que compõe os estudantes da EJA, devido à legislação possui uma variedade, segundo pesquisa de cunho exploratório da autora, estudantes de 16 a 86 anos, portanto temos ai três gerações, com princípios, conhecimentos, linguagem, crenças e valores muito distintas entre si.
Neste contexto ainda contamos com os estudantes que retornam à escola por motivos diversificados: necessidade devido ao trabalho, insistência da família (filhos, netos), vergonha em sentir-se menos que os demais. Cumprimento do Conselho tutelar, pois o direito educação básica vai até os 17 anos. Assim, nem todos os estudantes que frequentam a EJA a percebem como uma oportunidade de ascensão social, e sim como um “castigo”.
Para os estudantes que compreendem a EJA como oportunidade de recomeço, de sentir-se cidadão, de não estar mais como um refém de terceiros, pois agora sabe ler”, é uma condição inenarrável o dia de sua formatura.
Diante do exposto, percebe-se a necessidade de uma metodologia adequada, porque não podemos atrelar o desconhecimento dos conteúdos escolares como se o adulto fosse uma criança. Devemos lembrar que o mesmo viveu a sua história e possui uma extensa bagagem cultural. O que necessita é sistematizar seus conhecimentos, reconhecer que os seus saberes são fundamentais para o processo que agora adentrou. Neste quesito o professor é figura fundamental, como a percepção da auto estima do estudante.
Segundo Madalena Freire (1996) a observação é um dos instrumentos fundamentais para conseguir planejar a avaliação. Mas o que observar, quais pontos? Isso deve ser planejado. Pois a avaliação está intimamente ligada ao planejamento. Não há como avaliar se não houver um planejamento elaborado a partir de um sério diagnostico. Lembrando que o diagnóstico é a distância entre o que o estudante domina e os conteúdos que deveria conhecer em determinada área do conhecimento.
Neste quesito a formação docente é imprescindível. Tardif (2004) ao tratar dos saberes docentes afirma, que muito daquilo que o professor sabe, vem desde sua infância, o contato com a escola, seus professores, afirma ainda que o tempo dedicado à graduação, licenciatura nem sempre é suficiente para conseguir proporcionar ao docente uma conhecimento sólido e qualificado para o presente, pois o professor ainda traz em sua bagagem resquícios de seus professores autoritários.
Aqui trazemos a colaboração de Paulo Freire (1996), onde há que se diferenciar a autoridade, alguém que conhece, domina, sabe o porquê de estar conduzindo o processo de determinada forma, pois está focado com rigorosidade científica. Diferente do professor autoritário, que desenvolve seu trabalho a partir de seu único olhar, sua rigidez o impede de questionar, de refletir sobre a sua prática.
 Donald Schön (2000) trata do profissional reflexivo aquele que consegue reverter a própria caminhada, acompanhar o raciocínio do estudante, saber como se chegou a determinado resultado. Onde o erro é considerado hipótese.
Dificilmente, como docentes, paramos para perguntar “o que sabe quem erra?” título do livro de Teresa Esteban (2002). Nem sempre os conhecimentos socialmente aceitáveis são os conhecimentos de quem erra na escola. Contudo, seus conhecimentos a respeito de suas experiências no seu cotidiano poderiam e muito contribuir para sua própria aprendizagem e para o professor redefinir sua metodologia.

Formação Continuada Docente

Timbé do Sul, município localizado no sul de Santa Catarina, proporcionou para os docentes da EJA, formação continuada em duas noites. Com o objetivo de Propiciar espaço de reflexão sobre a teoria e a prática desenvolvida na Educação de Jovens e Adultos, oferecida pela Rede Municipal.
Embora seja um espaço curto de tempo, no entanto o grupo conseguiu refletir, aprofundar, questionar, verificar, resistir, insistir enfim, ampliar suas compreensões sobre a EJA, por meio da perguntas norteadoras:
  Quem é o/a adolescente ou jovem ou adulto que frequenta a EJA?
  Frequentou escola anteriormente? Se frequentou? Por que deixou?
  O que motivou o retorno?
  Quais os Objetivos dele/a (estudante)? Desejos? Sonhos?
  Quais as diferenças, as características de pessoas de16 a 86 Anos?
  Como esse/a jovem ou adulto aprende?
  O que Interessa na escola?
  Qual Importância dos Conteúdos e Disciplinas para o seu cotidiano?

E sobre a prática docente:
  A partir do que você elabora seu planejamento anual?
  O que é um diagnóstico?
  Qual o roteiro de um plano de ensino?
  O trabalho é elaborado em conjunto e/ou individual?
  De que forma um  planejamento deve se articular à base teórica, PPP e demais documentos pertinentes às leis e normas da Instituição.
  Qual a importância (fase, linguagens) do componente curricular, que você leciona, na vida/formação do sujeito na sociedade?
  Como as áreas, os competentes se articulam entre si?
  Qual é / são os objetivo(s) gerai(s) deste/dos componente(s)/ linguagem(s)?
  E objetivo por série / ano/ fase/módulo?
  Diante disso, que conteúdos/ conceitos imprescindíveis favorecem tais objetivos, por ano? Citar.
  Qual a Metodologia mais indicada para trabalhar com esta faixa etária? Fundamente (partindo das características e necessidades da faixa etária).
  Qual a proposta de Avaliação mais coerente? Explique.  Indique os critérios, recursos e instrumentos necessários?
  Para os estudantes amparados pela Lei – Deficientes – como deve ser o PDI – Programa de Desenvolvimento Individual?


Primeiras constatações:

Nas verificações finais do encontro com os docentes, esses indicam que o grupo que frequenta a EJA é diferente da escola regular, portanto a formação continuada também precisa ser diferenciada. Ainda, que é necessário aprofundar-se sobre metodologia e avaliação, também a legislação, haja vista estarem na EJA adolescentes amparados pelo ECA e deficientes, para os quais deve haver uma prática condizente.
O espaço de formação oportunizou a troca do relato das experiências, de como cada docente conduz sua aula, quais os desafios, quais os conteúdos ou metodologia são mais atrativos para cada faixa etária. O planejamento em conjunto, bem como sua socialização ficou evidenciado, para o reconhecimento de um todo e não de fragmentos.
E quais as provocações o minicurso ofereceu, quais são os próximos passos? Que autores devem ser estudados? Que articulações são possíveis a partir das necessidades dos estudantes?
Em uma visão autoritária a pergunta significa não aprendizagem, no entanto, em uma metodologia pautada na dialética, perguntar significa sempre aprendizagem, compreensão e interpretação do contexto.


Agradecimentos:
Docentes e Direção da EJA de Timbé do Sul/SC
Secretaria de Educação Municipal


Referências

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases 9394/96. D.O.U.
BRASIL, Estatuto da Criiança e adolecente 1998
ESTEBAN. Maria Teresa. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. 4. ed.- Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
FREIRA, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz & Terra, 1996.
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
WEFFORT, Madalena freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos. São Paulo: Espaço Pedagógico ,1996

BNCC na prática. Cadê a interlocução: docente - Base?

                                                                      Maria Helena r


A BNCC está adentrando as escolas por vídeos diversos e a mensagem é direta ao professor, porém, esse profissional pertence a uma Rede. 2020 é data para que todas as Unidades escolares estejam desenvolvendo seu trabalho pedagógico de acordo com a Base. No entanto, o que se percebe é que os professores estão procurando na base quais conteúdos devem ser incluídos em seu planejamento. A pergunta é o que mudou, o que muda?
Uma base na área da engenharia civil para a construção de uma casa é o diagnóstico, é o conhecimento do terreno. Como fazer a edificação, como os pilares sustentarão a casa? Etc..
A BNCC, na mesma proposição, faz a opção por conceitos, concepções de currículo, teoria de aprendizagem, que sustenta a metodologia, de avaliação, planejamento, que serão o subsídio para a prática pedagógica de qualquer componente curricular. Para tanto, estudar o componente curricular atual da base é a penas um passo, e diria que não é o primeiro.
Diante do exposto, a necessidade de alteração do Projeto Pedagógico (PPP) para atualizar-se às orientações da BNCC. Compreendendo que o Projeto posiciona-se politicamente diante de todos os componentes que estão no entorno do estudante. O PPP deve ser analisado por toda a comunidade escolar. Compreender o que é currículo formativo, qual a relação deste com o percurso que o estudante segue em sua jornada dos 4 anos aos 17 (obrigatoriedade)? Que o planejamento precisa ser elaborado coletivamente, para que haja sequência, não fragmentação e muito menos conteúdos sobrepostos. Qual a competência que cada componentes se propõe a desenvolver no estudante? E para tal quais as habilidades?
Lembrando que não basta substituir objetivos gerais e específicos por competências e habilidades, respectivamente. São questões distintas e tenho a impressão que a maioria dos docentes em sala de aula e somente recebe algumas orientações fragmentadas sobre a BNCC terá dificuldade em elaborar seu planejamento de ensino e de aula, nesta perspectiva, assim como avaliar.
Desde as DCNs (2010) somente alguns tiveram a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento. Foi uma elaboração coletiva da BNCC? Se levarmos em consideração que esteve on line, várias palestras sem sequência, materiais fragmentados chegando às mãos do professor para que ele em sua hora atividade pudesse contribuir.... houve sim...milhões de contribuições. Porém, basta conversar com um professor ou até coordenador pedagógico, ou mais longe secretários de educação e solicitar uma contextualização histórica da BNCC, relação com CF, LDB, CONAE, PNE, PME, tenho minhas dúvidas do número de profissionais que consigam. Vou diminuir o campo de contextualização, somente DCNs, BNCC e planejamento.
Se o País deseja que a educação caminhe e que os dados quantitativos, estatísticos, exemplo IDEB, entre outros, favoreçam o Brasil, convém refazer o caminho de forma real. Que a formação continuada seja qualitativa e não quantitativa. Que os atores participem desde o seu olhar do chão da sala de aula e não somente das pesquisas acadêmicas, das webconferências ou webnários que auxiliam muito, mas nem sempre há uma interlocução.
É um momento ímpar, porém necessita da compreensão daqueles que irão colocar em prática, tendo a Base epistemológica e metodológica e não somente substituir os termos de acordo com o documento. Cada sistema educacional deve compreender o porquê, o para quê e o como está se transformando a educação escolar. Fala-se muito na formação do cidadão do século XXI, lembrando que o docente é também parte deste cenário.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Vivendo em grupo

                                                                             Maria Helena 

 Não basta um amontoado de pessoas para designar que temos um grupo. Um grupo é mais que isso.
 É necessário objetivos comuns, e conhecidos por todos.
Imprescindível haver uma história de convivência, espaço para cativar as pessoas, conhecê-las, de fato.
A empatia em um grupo é condição necessária. Cada um deve saber se deslocar de si e colocar-se no lugar do outro e desse lugar olhar o mundo.
Vida em grupo demanda respeito às combinações e a cada sujeito. E perceber cada um em sua essência.
 É necessário respeitar o coletivo sem massificação, pois o coletivo é um conjunto de indivíduos-individuais-individuação, portanto reconhecer que a diferença soma e não divide. Cada qual oferecendo suas melhores qualidades, habilidades e competências. Assim, o grupo é fortalecido. E tratando no grupo, como um inteiro, as suas fragilidades, que não pertencem a um sujeito e, sim, ao grupo.
Pertencer a um grupo é Ser grupo. A ética é elemento constante, assim como a cumplicidade. É trabalho de cooperação, colaboração. Não shá competição entre pares, porque os objetivos são os mesmos.
Humildade  é fundamental para acatar diferentes ideias, identificação com o grupo, seus sujeitos, suas posições, seus encaminhamentos e seus estranhamentos.
Um grupo não se forma, ele nasce e requer cuidado, precisa ser alimentado diariamente com diálogo, honestidade, abnegação, companheirismo e dedicação. Viver em grupo torna o sujeito mais seguro, desenvolve sua autonomia e responsabilidade.
Grupo briga porque confia, grupo chora porque tem emoção, grupo espera porque reconhece seus limites. Grupo busca porque tem incertezas e certezas.
Enfim, viver o grupo é a esperança, o reconhecimento de que se necessita do OUTRO para se perceber como gente. Reconhecer que todo avanço tecnológico não substitui a essência humana.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Falando nisso, professores

                                                                    Maria Helena

O/A Professor/a em sala de aula, em muitas situações, quando quer ser ouvido costuma, pedir “Silêncio”, ou seja, ninguém precisa escutá-lo, pois silenciar não significa atenção. Enquanto deveriam pedir para os alunos ouvirem. Estarem atentos.

Nas salas de educação infantil as regras ficam expostas para que as crianças criem os hábitos. Um item que está no quadro e eu sempre questionei é: “esperar a vez de falar”, ou seja, a criança pode brincar, silenciar, mas não ouvir. Quanto deveriam pedir para acolher respeitosamente a fala do outro, porque aquilo que Ele traz é importante. Assim, deveria estar escrito: Ouvir quando o outro fala e somente depois, falar”

Manter uma aula com estratégia dialogada, demanda entender o que é diálogo, não basta somente o estudante responder ao professor, é preciso que o professor assegure o direito daquele que está falando para a classe.

Ser mediador em um diálogo é estar atento a todos.

Enquanto docente nunca permiti que um estudante falasse sem que os outros o acolhessem. Eu pedia – “Espere, aprende que deves ser respeitado enquanto falas.” Quando todos olhassem para ele, ai sim –“prossiga”.

É fácil? Nem um pouco. Dá trabalho? Muito. E como ficam os conteúdos? Quais? Da matéria? Aprendem quando precisarem.

Entendo que vivemos um momento que precisamos do conteúdo dos sujeitos. Isso me acompanha há 30 anos.

Confundimos metodologia com recursos, técnicas...simplificamos, reduzimos...a metodologia vai além, pois deve ser coerente à linha filosófica e à pedagógica. E todos os projetos pedagógicos por mim estudados, pretendem promover a formação ciente de direitos e deveres, no entanto, a metodologia, não passa de um conjunto de estratégias. Dito isso, para o cidadão exercer a sua cidadania, precisa dialogar e, para tal, dever compreender o que é um diálogo, e como mantê-lo. Saber o que a atenção, o que é estar presente no ato de se comunicar.


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Observar, perceber e ser presença

                                                                 Maria Helena

 

Observar algo é um aprendizado, porque demanda um limpar a mente de quaisquer resquícios sobre o objeto/sujeito a sua frente. Não estamos acostumados a ter essa posição, pois estamos sempre cheios de ideias prontas sobre aquilo/aquele que nem conhecemos.

Diante de algo que desejamos, de fato, nos apropriar precisamos ter muito cuidado. Isso vale muito para formas de relacionamento profissional ou pessoal. É um exercício diário.

Enquanto professora, foi um aprendizado contínuo, tentar observar cada ser em um grupo, até aprender técnicas de como utilizar esta valiosa ferramenta. Nossa dificuldade, também, se pauta pela nossa compreensão de planejamento. Temos uma teoria de que ele é flexível, no entanto, ao desenvolvê-lo, nossa visão rígida não nos permite a humildade de estar aberto, ao que realmente acontece.

Temos uma tendência a perder a espontaneidade diante do que É, o real. Buscamos em nossa mala de "experiência" algo pronto para aquele momento, e perdemos uma oportunidade em aprender. Não estou afirmando que não devamos estar preparados, ter a formação necessária. Na verdade, eu lamento muito por aqueles que não percebem a necessidade de ser um permanente estudante, autonomia intelectual.  

Uma das constatações que fiz, foi a de ter que me conhecer, para além do conhecimento científico, me conhecer enquanto ser, identificar quais valores guiam a minha vida, qual o sentido dou para as minhas atitudes e tarefas diárias. Entendo que em muitas profissões, a correria não permite isso. Fiz minha escolha enquanto era professora, de ter esse tempo para pensar, analisar, revisar o que faz sentido para mim e, consequentemente, para os que me cercam.

Assim, para saber observar, ouvir e compreender eu deveria me livrar de preconceitos, de “anestesias” para ver o outro naquilo que ele se apresenta ou representa ser.

Esse exercício constante demanda tempo, demanda transformar a perspectiva sobre a vida própria e dos seus semelhantes. É preciso um ouvir atento, uma atenção inteira. Hábito que, geralmente, não possuímos, pois estamos sempre buscando algo para a “distração”. Assim, nem atenção com o outros e nem consigo mesmo.

Essa urgência pelo viver suscita uma pergunta, o que pode estar por trás disso. É urgente viver sim, contudo de tal maneira que se consiga conviver com a própria companhia, estar presente na própria ação. Parece paradoxo, mas não é. Muitas vezes não percebemos o que comemos, dirigimos longos períodos sem “ver” o que passa. Há uma ausência de si. No entanto, precisamos aprender a estar presente na ação, questionando o sentido da mesma.

Almejamos ter uma vida mais plena, mais leve, mais harmoniosa, portanto, precisamos a cada momento, bater  à própria porta e perguntar: “estás em casa?”.

 Realmente, estar em sintonia com o momento, sem julgar. Sentir o outro em seu tempo, observá-lo e ser honesto, não pode ser uma negociação, um puro treinamento. Existem muitas formas de cursos que auxiliam, mas algumas vezes é como se tentasse pintar o troco e folhas de uma árvore, é artificial, não há consistência. Pois não mexe na terra, nas raízes. É preciso uma imersão e reconhecer o verdadeiro desejo do viver, do ser que transcende muito àquele que criou personagens adequados a cada situação.

Precisamos reconhecer o nosso fundamento, aquilo que nos move, que nos faz desejar agradecer pelo evento de estarmos aqui.

 

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Escolhas

                                                    Maria Helena

           Cecília Meireles, poeta brasileira, foi muito simples e direta em uma poesia para crianças Ou isto Ou aquilo (1964). Onde a criança sempre tem que optar entre duas situações.

                  No universo infantil, a criança não quer perder a oportunidade, ela deseja os dois, estudar e brincar, ficar com o doce e o dinheiro, faz birra e a cada dia faz as escolhas, por momento...

Trazendo para o universo adulto é tão complexo. Porque as escolhas são muito bem estudadas, por vezes, mais pela representação do que pela sua essência, mais pela avaliação dos demais do que pelo próprio desejo.

Por vezes vivemos de uma forma a qual devemos nos enquadrar, para tanto estudamos um personagem, ou uma forma para não sermos julgados e acabamos perdendo a nossa essência e não sabemos quem somos, ou o que somos.

Se...concordamos, não fazemos reflexão, se não concordamos, somos “do contra”, se iniciamos uma conversa, somos inoportunos, se não falamos “não nos misturamos”, e assim vai...

Reconhecer uma necessidade imediata, uma simples escolha não pode tornar-se um fardo, a cada dia somos colocados em frente a muitas situações e precisamos fazer as escolhas, ou alguém as fará por nós.

Quando temos os princípios de vida pautados no que há de mais nobre em nossa vida, o amor, a compaixão, a esperança, dificilmente erramos, porque nossas escolhas Ou isto Ou aquilo estarão coerentes à nossa essência. Considerando e reconhecendo no que é em essência, sendo essa, diferente de prepotência.

Toda opção vai além do desejo de somente agradar aos outros, às avaliações externas. Não se pode parecer livre para escolher, é necessário ser autêntico em seu jeito livre de buscar as alternativas essenciais da vida.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

Doença é o avesso da saúde?

 

                                Maria Helena

Assim como uma tela permite a expressão de um artista, o corpo permite a expressão, somatizando o que não consegue representar de outra forma, pela comunicação da fala, por exemplo.

 Não basta mudar a metodologia na saúde, avançar em técnicas, há que se entender o que é uma doença, o que é a saúde. Tanto a doença quanto a saúde acontecem em um corpo físico, psíquico, emocional, intelectual, espiritual...em um Ser.

O humano busca uma lógica. Contudo, teria capacidade de raciocinar logicamente sobre tudo? Ou como na mitologia acaba criando explicações plausíveis (nem tanto) para determinados grupos?

O belo, por exemplo, tão elucidativa na arte, não se explica, faz-se a fruição. Podemos optar pela arte de viver, assim buscando linhas filosóficas que relevem tal escolha, portanto necessita de uma visão de ciência toda própria para justificar os percalços do cotidiano, como a doença.

Entendo que, atualmente, se trata de saúde emocional, familiar, social, profissional...no entanto, por que falamos de muitas “doenças” em um corpo e não falamos muitas “saúdes”? Se um corpo pode ter doenças, então o contrário dessas não é a saúde, pois essa se fala no singular. Ou não existe doença no plural? É mais compreensível, pois é UM corpo que sofre com alguma desarmonia, mesmo que o desconforto se espalhe de várias formas, em diferentes órgãos. É UMA consciência, UM ânimo.

Não é somente uma questão de alternar métodos de cuidar da saúde por determinados órgãos, quando esses na verdade lidam com doenças. Homeopático ou alopático, natural ou industrializado, oriental ou ocidental. É mais que isso, não é meramente criar recursos tecnológicos capazes dos mais apurados diagnósticos, trata-se de ouvir o Ser cuja saúde está desarmonizada.  Ouvir os seus sintomas, a sua história, mas isso demanda uma equipe multidisciplinar, que irá juntar os vários olhares e ter uma justaposição, somatória, ainda assim, a alma anseia em se expressar, em comunicar que não está bem.

sábado, 23 de julho de 2022

Talvez essa "tal" felicidade

                                                     Maria Helena 

Talvez a pandemia tenha evidenciado mais o conceito do termo felicidade. 

O conceito de felicidade é amplo. O antônimo de feliz é infeliz, que significa: suas vontades desejos, objetivos não foram realizados; medíocre; desgraçado; pessoa que suscita pena. 

Aquele que persegue a "tal" felicidade, percebe que seu antônimo é infeliz? 

Penso que a maioria das pessoas busca considerar suas qualidades, seus momentos especiais, suas possibilidades. A impressão que passa é que poucas pessoas se sentem bem no lugar de ser digno de pena. Aquele despossuído de qualquer graça, ou o desgraçado. 

Talvez seja necessário fazer uma reunião com o "Eu mesmo" para uma análise daquilo que se entenda por felicidade, o que é, quanto tempo dura, como conseguir, entre outras. 

Quando se sentir alegre contabilize. Ao sentir-se satisfeito, contabilize. Diante de uma situação de contentamento, por menor que seja, contabilize. Ao sentir tristeza, Cuidado! não confunda os sentimentos: existe raiva, culpa, medo, constrangimento, entre outros. Tome contato com o que está sentindo. Muitos desses estão mascarando outros sentimentos os quais não conseguimos representar por palavras. Observe o que causou e  perceba o que precisa para atravessar tal situação: Paciência? Calma? Empenho? Perdão? Coragem? Fé?

  Divida as alegrias, contentamentos e satisfação com aqueles que partilham o mesmo espaço, mas evite partilhar seus sentimentos mais puros positivos ou negativos com o primeiro que aparece, pois aquilo que te é muito importante, o "Outro" pode desqualificar.

Talvez seja importante rever o que é ser infeliz, para poder resssignificar o que é estar feliz, perceber que a dinâmica da vida, por ser um movimento intenso, ocasione tantas situações incertas, decepcionantes, tristes. Contudo, o oposto acontece na mesma proporção. Porém, nossa memória se fixa no que causou mais pânico ou similar.

Não significa que ao final da reunião, auditoria com o "Eu mesmo", a matemática esteja errada. Precisa simplesmente rever.

Quem sabe esqueceu de colocar na reunião todas as pequenas vitórias, todas as lágrimas de alegria, todos os sorrisos de contentamento. Quem sabe esteja esperando que, de fato, a vida seja um outdoor de propaganda da família feliz. E não parou para pensar na dinâmica da vida, as suas transformações. Quem sabe...

Talvez aqueles que estejam querendo se conhecer entendam que tudo o que é dinâmico, se transforma, cresce. Aqueles que estão viajando para dentro de si passem a observar a natureza em seus ciclos e talvez, quem sabe.. percebam tanta "coincidência", e que somos a natureza, portanto seguimos as mesmas regras.

Talvez as pessoas estejam compreendendo um pouco que, de fato, são as pequenas alegrias que contam. E a soma de todo pouquinho do que é bom e positivo possa se chamar vida plena. Talvez...



sábado, 16 de julho de 2022

El amor propio no es egoismo

                                                                                        

  Este canal está destinado a la formación continua, no sólo profesional, porque dentro de él hay un ser y, en teoría, un ser humano. No una humanidad basada en la visión de alguien que tiene inteligencia, por lo que se diferencian de otros animales. Es, más bien, una percepción de la humanidad, que cada día busca construirse en el amor por sí misma. Nuestra sociedad contemporánea aún reproduce el contexto vivido en la modernidad. En nombre del arte y de la belleza, incluso de la espiritualidad, o de la religión, priman muchos modelos y, adaptándose a los estándares, no tan discretamente pulverizados en la sociedad, es un pacto tácito entre ciudadanos. Lo entiendo como un pacto entre mediocridades.

 Somos seres sociales, necesitamos de los demás por varias razones. Pero para ello es necesario reconocerse en el escenario que se vive. También, reconocer en los potenciales, en las posibilidades que te ofrece la vida y date cuenta si estás dando lo mejor de ti. Esto no es egoísmo, partiendo de la suposición de que para amar a otro debo haber desarrollado un amor por mí mismo. Y eso significa cuidar de mi vida, respetar mis pertenencias. Saber que somos un referente, como ser humano, en nuestro espacio social. Comprender la necesidad de integridad.

Comencé diciendo que este es un canal de formación, ahora reforzando esta comprensión de la auto-observación más allá de los números de nuestros documentos y títulos académicos.

Entiendo que este mundo frenético de la información es bastante difícil, genera un ambiente que a veces nos resbala, olvidando nuestros valores más sagrados, nuestra esencia.

Hoy no conviene buscar justificaciones en las áreas de la filosofía, la psicología, la antropología... es simple... es preguntar qué de bueno, bello, real tengo para ofrecer para mí y para los que me encuentro en cualquier entorno o situación. .

El egoísmo es cuando imagino ser digno de un aprecio mayor que los demás, cuando no tengo la dimensión de lo que represento para mí y para los demás, ignorando las fallas, las incongruencias que todo ser humano tiene, porque está en la búsqueda del completo. El egoísmo duele, duele, duele. El amor propio cuida, sana, comprende sus propias defensas.

La llamada empatía, ponerse en el lugar del otro, mirar el mundo desde ese lugar y luego intentar comprender al otro. Parece contradictorio, pero a veces nos ponemos en el lugar de los demás y no nos ponemos en nuestro lugar real, sin fantasías. Para que yo cuide al otro, debo saber cuidarme.

Es un ejercicio diario, todos los días, todos los días, semana.. alimenta este autocuidado. El aprendizaje de la naturaleza, la paciencia en el desarrollo, las reservas para los momentos de necesidad, la luz no sólo para brillar, sino para iluminar, el calor en la justa medida, las estaciones, la oscuridad para volverse sobre sí misma, la aurora para volver a empezar. . 

terça-feira, 8 de março de 2022

A psicopatologização das emoções no divã

                                                                            Maria Helena

                       

Partindo de estudos do Módulo III do curso de Psicanálise Clínica e contrapontos de outros autores, a descrição dos fenômenos ganham vida própria, balizados em conhecimentos científicos.

Em tempos de pandemia até os preconceituosos de renderam e estão procurando “tratar” de suas “neuras”, pseudônimo utilizado para designar algo de que, ainda, não possui nenhum diagnóstico. Contudo, sabe que está se distanciando do que se conhece como saudável.

A personalidade de um adulto vai se constituindo, a partir de sua interação com um objeto presente ou não, ou seja, algo cultural, histórico. Portanto, desta relação intersubjetiva onde vários elementos são contextualizados o sujeito, percebendo o seu entorno, o “outro”, percebe-se como um em SI, o EU que não é mais uma extensão da mãe/pais/cuidador/a.

Para Freud, todo sujeito passa pelo desenvolvimento psicossocial e esse possui fases: oral, fase anal, fase fálica, período de latência, fase genital. Em cada fase, a libido obtém mais satisfação em uma zona erógena diferente e o conceito de sexualidade, para o autor, vai além de sua definição relativa ao sexo. As fases não são estanques e nem lineares variando entre sujeitos, pois dependem das experiências subjetivas de cada sujeito. Cada fase pode deixar marcas permanentes, denominadas de pontos de fixação, onde o curso “normal” pode ser alterado porque certos conflitos podem se instalar. Desse modo, são gerados “pontos” nodais “que vão se fixar em determinado estágio e que serão retomados quando um período de crise (representação emocional) aparecer ao longo da vida da pessoa” (MÓDULO III, 2020, p. 10).

A Psicanálise é um método investigativo, método terapêutico ou clínico é, ainda, uma forma nova de abordar o ser humano, a cultura e a sociedade. Diante disso, explorar esses campos, do humano vivendo em sociedade, fomenta a cultura e dela se alimenta, significa que quando um sujeito vai para o divã, ele vai acompanhado de muitos elementos.

Domingues et al (2014) trazem importantes reflexões acerca do contexto em que vivemos, são rotinas organizadas pela sociedade, preenchendo todos os horários dos sujeitos, sendo a hiperatividade uma forte característica da atualidade. Essa agitação advinda pelo excesso de informações e ações não permitem que o sujeito possa apreciar seus próprios sentimentos, experimentar cada diferente emoção de um jeito saudável e, sim, da forma criada e formatada pela sociedade. Deve passar pelos sentimentos de forma padrão, sendo meio que obrigado a responder de forma elegante, alegre, desconsiderando suas reais emoções. Isso fica evidenciado nos próprios velórios se comparados há anos atrás. O luto sofrido, atualmente, o enlutado é encaminhado aos consultórios psiquiátricos e psicológicos, como se não devesse passar pela dor da perda.

A pandemia está sendo um fator preponderante para aumentar o número de   estados depressivos. O vírus, talvez esteja liberando a angústia, tristeza, frustração que muitos vinham sentido de forma isolada e passou e ser percebida de maneira generalizada, de massa. Talvez haja uma patologização das emoções, uma banalização de quadros que, em princípio deveriam ser observados como adaptação a um novo paradigma, um estresse natural e saudável, para uma percepção de um mundo doente, devendo esse ser medicalizado, não havendo amigos ou familiares com escuta acolhedora, existem sim os ansiolíticos, entre outros psicotrópicos.

Para trazer dados mais fidedignos seria necessária uma pesquisa quantitativa, por ser mais convincente neste mundo globalizado. No entanto, quando na atualidade designada pela ‘academia’ contemporânea, são tantas as teorias.

Guareschi et al (2021) trazem reflexões sobre a própria forma de pesquisa na área da psicologia, pois ter como indicadores: crenças, valores, motivações, nunca foi e nem como tem que ser, mensurada. Se a palavra de ordem da vez é pós-verdade, como entender a comunicação como um indicador, sendo as máquinas que fazem as leituras da maioria do material postado na internet. Os sentimentos percebidos por meio de uma conversa, onde dois sujeitos interagem, exclamam, riem, possibilita uma leitura além do que aparenta, pois está carregado de emoção. Assim, fora de um consultório, em que há um trabalho legitimado na escuta e observação, o cotidiano dispõe de whatsApp, facebook, entre tantos outros para curtir, compartilhar e por aí vai, literalmente, se expandindo, como efeito cascata aquilo que, alguém ingenuamente ou não, postou.  A espera de um like gera ansiedade, talvez quem curtiu faça desta ação uma rotina em partilhar, curtir todas as postagens de seus “amigos”.

Os referendados autores seguem suas reflexões no sentido de que a psicologia, atualmente, conta com uma potente ferramenta em questão de pesquisas quantitativas, o enorme número de informações a que se tem acesso para poder triangular dados de todas as formas. Porém, difícil se aproximar de um perfil fidedigno do sujeito que está disponível para o mundo, literalmente.

Ao desenvolver os argumentos no sentido de diálogo entre os autores aqui explanados é possível verificar que, na atualidade, não é presumível ter uma verdade absoluta sem que seja contextualizada. A realidade não representa a todos, pois nem sempre o que aparenta é aquilo com o qual o sujeito se identifica.

 Para uma apresentação didática de fatos, teorias existem fases, períodos, contudo nunca podem ser estudados generalizando-os de forma estanque, ou com um ponto final.

Votando à visão psicanalítica de Freud, as diferentes formas de organização psíquica não são, em princípio, patológicas, essas possuem suas características, devendo ser estudadas cuidadosamente para não enquadrar o analisando em uma “patologia” e fragmentá-lo de si e da sociedade.

Diante ao exposto, a própria patologia cunhada nos manuais médicos, ao serem estudadas e comparadas ao paciente, para enquadrar neste ou naquele diagnóstico, deve estar muito claro para que não sejam simplesmente prescritos uma série de medicamentos, sem ao menos ouvir, sem estereótipos o que o paciente sente, sofre e percebe de si mesmo. A variação, as fronteiras de cada patologia devem ser ampliadas. O profissional deve estar sempre atento às pistas do seu paciente, deve também levar em consideração o contexto em que o sujeito vive, sua cultura em todas as suas nuances, fazer a leitura do não verbal, para poder errar menos em seu diagnóstico e prognóstico.

 

Referências bibliográficas:

MÓDULO III - curso de formação em psicanálise - psicanaliseclinica.com (2020)

DOMINGUES, Elzilaine; CAMARGO, Mendes T.; BARA, Viana O. Melancolia e depressão: um estudo psicanalítico. (2014) Disponível em: <SciELO - Brasil - Melancolia e depressão: um estudo psicanalítico melancolia e depressão: um estudo psicanalítico>. Acesso em: 15 de jul. 2021.

GUARESCHI, Pedrinho A.; AMON. Denise; GUERRA, André. E. Abrapso. Psicologia, comunicação e pós-verdade. Porto Alegre, 2019.