quinta-feira, 28 de agosto de 2014

PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE COCAL DO SUL-SC: RELATO DE EXPERIÊNCIA


Maria Helena da Silva Meller

Presto assessoria à secretaria de educação de Cocal do Sul desde o ano de 2013, com questões de PPP, entre outros assuntos pedagógicos do cotidiano de uma secretaria.
Quando a secretária de educação Raquel Romagna solicitou a elaboração do Plano Municipal de Educação, pautamos a ação no pensar coletivo, conhecimento da realidade local e nas metas e estratégias do PNE.
De acordo com as leis em vigor, referentes ao assunto, os municípios tem até junho de 2015 para elaborar o seu PME, à luz do PNE, aprovado em 2014.
Esse procedimento político não surge neste cenário a partir, somente, das leis. Ele decorre da Constituição de 1988, como resultado de cinquenta anos, depois da primeira experiência oficial. Esta C.F. retomou a ideia de um plano nacional de longo prazo, o Art. 214 contempla esta obrigatoriedade.
 “A lei estabelecerá que o Plano Nacional de Educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do poder público a conduzam à:
I – erradicação do analfabetismo;
II – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino;
IV – formação para o trabalho;
V – promoção humanística, científica e tecnológica do país.”
Corroborando neste sentido, a LDB explicita então: “Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir da publicação desta Lei”.
O trabalho em Cocal do Sul, com relação ao PME, principiou com uma reunião de trabalho com a equipe da secretaria de educação, a secretária Raquel e três coordenadoras pedagógicas, Luciane dos Santos, Janaina Zacaron para elaboração da proposta metodológica. Sendo Paula Cechinel a coordenadora dos trabalhos referentes aos encaminhamentos do PME.
O discurso sobre a gestão democrática aparece na maioria dos textos que mencionam a educação escolar, principalmente citando a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases atual. Contudo, mesmo sendo um princípio constitucional, apresentando como pressupostos a participação efetiva dos cidadãos, o respeito mútuo à diversidade de ideias, a responsabilidade dos envolvidos, isso motiva, por vezes, a dificuldade da ação, pois estamos, ainda, muito focados no discurso. É fundamental que o plano de educação seja elaborado com a representação de toda a sociedade, pois quanto mais representativa for a participação no desenvolvimento dos trabalhos, espera-se mais compreensão e comprometimento com a sua exequibilidade, ou seja, um acompanhamento rigoroso em sua implantação, execução, acompanhamento e avaliação
Convictos nessas premissas, partiu-se então para a apresentação da metodologia para representantes da sociedade civil organizada, ali estavam diretoras das escolas municipais, estaduais, particular, faculdade, APAE, legislativo, vereadores, sindicato, entre outras.
Como parte dos trabalhos com a comunidade, a palestra do professor João Gama da UNDIME, expôs os motivos, o histórico, reforço na necessidade e importância deste momento. Aqui estão docentes de todas as instituições. Fazendo a seleção de pessoas que poderiam formas as subcomissões para trabalhar com os temas propostos.
O trabalho de cada subcomissão é ler as 20 metas do Plano Nacional de Educação, estudar os aspectos social, histórico, geográfico, demográfico, econômico e, principalmente, os dados de escolarização da população. Fazer o diagnóstico de cada nível e modalidade de escolarização, onde está cada cidadão pela fixa etária e onde deveriam estar. Para tanto, propor metas e estratégias para os próximos 10 anos, pois este é o propósito do plano, em nível municipal, a população pensando a educação.
Concomitante ao processo, a equipe técnica e coordenadora dos trabalhos e eu nos reuníamos para avaliar e planejar os procedimentos. Em 28-08 houve a mobilização das subcomissões, direcionando os trabalhos em específico. Propondo um coordenador para cada subcomissão, esses formando a comissão. Por ato oficial do executivo, nomeou-se cada titular e seu suplente.
Cada subcomissão elaborou seu calendário de encontros, recebendo uma ficha orientadora dos procedimentos seguintes, dos estudos, dos trabalhos com os dados estatísticos, das discussões em suas instituições de origem;
As orientação da escrita de acordo com a ABNT (citações, diretas, indiretas, fontes, gráficos, - buscas on line, IBGE, OCDE, IDEB municipal, etc) também aconteceram.
A ênfase durante o processo, até então, é que haja a compreensão da importância do trabalho coletivo, da necessidade de respeitar a realidade.
Penso ser oportuno esse trabalho, inclusive em respeito aos colegas que atuavam nas décadas de mil novecentos e oitenta e noventa, onde enfrentavam questões políticas bastante adversas. Repressão de toda ordem. Cabe a nós em um cenário mais propício, aproveitar a ocasião e elaborar o plano dos desejos, que venha, de fato, ao encontro das necessidades.
Os dados relatados até aqui nos certificam para os encaminhamentos posteriores. Reunião da secretaria, CME e coordenadores das comissões, mensalmente para acompanhar e validar todo o processo, preparação do documento preliminar pela equipe técnica e comissão, enviando o mesmo para estudo nas instituições participantes. Reelaboração do documento, agora oficial, bem como elaboração do projeto de lei para direcionamento à Câmara de vereadores pelo prefeito municipal para aprovação final.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
_____. Lei n. 9394/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
_____. Caderno de Orientações. Ministério da Educação / Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (MEC/SASE), 2014.
_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Documento norteador para elaboração de Plano Municipal de Educação – PME / elaboração Clodoaldo José de Almeida Souza. – Brasília: Secretaria de Educação Básica, 2005.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO DE COCAL DO SUL: UMA PRODUÇÃO COLETIVA


                                Maria Helena da Silva Meller


Em 2013 iniciei meus trabalhos como assessora pedagógica à equipe da secretaria de educação de Cocal do Sul – SC. Nosso planejamento estratégico deu início a uma série de atividades e atitudes. 
A formação para gestores, mensalmente, foi uma das ações principais, pois esse deve compreender e ter uma postura de autoridade, logo necessita de conhecimentos e reflexão constante sobre a sua prática. O diretor de uma U.E. é o primeiro coordenador pedagógico.
 Entre as várias atividades de uma secretaria de educação, a revitalização dos projetos-pedagógicos é uma delas. Para tanto, eu e a equipe composta pela secretária Raquel Romagna, Luciane dos Santos, Paula Cechinel e Janaina Zacaron nos reunimos para estudar uma proposta, a partir da realidade de cada escola, bem como das leis e normas em vigor.
Por ter participado efetivamente da elaboração e avaliação de PPPs, em situações anteriores, sugeri a proposta metodológica de Danilo Gandin.

"O planejamento, como tarefa natural ao ser humano, é o processo de divisar o futuro e agir no presente para construí-lo. Assim, planejar é organizar um conjunto de ideias que representem esse futuro desejado e transformara realidade para que esse conjunto nela se realize no todo ou em parte”. (GANDIN, Danilo, LUÍS Armando; p.37, 1999).


Em 07 de maio de 2014, aconteceu a primeira reunião com as diretores das U.E.s da Rede para apresentar a proposta metodológica. Essa consiste em elaboração do Marco Referencial (MR) que, por sua vez, se divide em marco situacional ou real, marco filosófico ou ideal e marco operatório ou pedagógico. A escrita desse marco parte de uma série de perguntas dirigidas aos pais, estudantes, funcionários, docentes e equipe diretiva.
 Um ponto fundamental da elaboração do projeto é a participação efetiva de todos os envolvidos no processo educativo. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205 afirma: educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. E no art. 206, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei.
Balizados nas leis, cada Unidade Escolar fez um levantamento com seus pares discutindo, conversando sobre o mundo atual, suas dificuldades e possibilidade e qual seria o papel da escola, neste contexto, a fim de minimizar tais problemas.
A LDB/N 9394/96, sobre a participação afirma, art. 12, os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. Art. 14, os sistemas de ensino definirão as normas (...) conforme os seguintes princípios: participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
No dia 04 de junho, o grupo de diretoras trouxe suas discussões, sua pequena caminhada, pois não poderia deixar para traz os registros, as experiências, o processo que cada escola vivenciou. Partindo desse relato, passou-se a escrita do Marco Referencial, o grupo se reunia, pesquisava, discutia, escrevia fiel às respostas dos envolvidos no processo
Criou-se uma comissão (Elaine, Jana - diretoras e Luciane, coordenadora) para a sistematização do processo, bem como do documento da Rede.
No dia 16-07 chegou-se ao texto final do MR. No entanto, precisava da validação da comunidade escolar, no caso voltou para as escolas, para as observações, sendo aprovado o Marco Referencial do PPP da Rede.
A metodologia, com relação aos encaminhamentos do PPP da U.E. e o PPP da Rede, partem do mesmo MR. Começam a ganhar as suas especificidades a partir do Diagnóstico. Que decorre dos conceitos, retirados os temas do MR para que fossem conceituados, ou seja, compreendido por todos que fazem parte do processo ensino aprendizagem da Rede. Onde se questiona sobre a prática, a aproximação e a distância que estamos do ideal.
Assim, o diagnóstico é a segunda etapa do processo. Apresenta-se como “um profundo confronto entre a prática vivida pela instituição e os ideais que ela está se propondo em seu Referencial. É um juízo sobre a realidade à luz das ideias que foram abordadas no referencial.” (GANDIN, 2001)
A programação é a última etapa do processo de elaboração do plano, é prática para aproximar a realidade existente da realidade desejada. É a definição do que vamos fazer para satisfazer as necessidades apresentadas. Intervir na realidade a fim de transformá-la.
Para Paulo Freire (1996) a autonomia de uma instituição transcende os decretos, ela é construída no coletivo, no estudo, na compreensão, no respeito à realidade e cultura de cada grupo. E a escola tem um papel fundamental por meio de uma educação que propicie tal autonomia.
Neste momento estamos na elaboração dos conceitos, pensa-se que o processo, com a participação efetiva, ou por representação, levará mais três meses. Pois, de acordo com a metodologia assumida pelo grupo, o tempo muito extenso leva ao descrédito e descompromisso dos envolvidos e um tempo muito curto, não há possibilidade de compreensão, de assumir os propósitos e comprometer-se com o processo. Vira uma tarefa a ser cumprida.
Assim, é passivo aferir que os encaminhamentos vem sendo construído de forma coletiva, de discussões, buscando manter a fidelidade à democracia, o respeito aos direitos e deveres de cada sujeito e instituição.
A história não se constrói com fatos isolados e não é linear, sendo um processo vivenciado por todos os seus atores/autores. Assim, narrar a história se incorre em perdas, nem sempre há uma fidelidade em cada fato, cada emoção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. D.O.U.
 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís A, Temas para um Projeto Político-Pedagógico. Petrópolis, 2001, 4a edição.

GANDIN, Danilo. A Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis, Vozes, 2001, 10a edição.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ELABORAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR DE TURVO - SC: TEORIA E PRÁTICA


Maria Helena da Silva Meller


A assessoria pedagógica à secretaria de educação do município de Turvo-SC, principiou no final do ano de 2013. Elaborou-se o planejamento estratégico para 2014. Dentre as ações, formação para gestores e para a equipe da secretaria de educação, composta pelo secretário Jair, coordenadoras pedagógicas: Dione, Maria José, Elenita, Márcio, Valdete, Rose e a psicologia Marizete.
 Iniciou-se os trabalhos, dividindo-se em um encontro mensal, matutino com toda a equipe da secretaria mais as diretoras das escolas, tendo aí o GE- Grupo de Estudos e vespertino, somente com a equipe, denominado GT – Grupo de Trabalho.
Em fevereiro de 2014, trabalhamos com o GT, somente planejando o ano. Em março, o primeiro encontro do GE, foi feito o levantamento das necessidades de estudo e partimos da realidade percebida por cada grupo, em cada espaço. O curso acontece uma vez por mês, com duração de 4 horas, e as “tarefas” on line. São enviados textos para subsidiar as reflexões. Primeiro tema, o papel do gestor na instituição escolar, decorrente desse, a importância do planejamento estratégico para a organização da escola em seus aspectos comunitário, pedagógico e administrativo.
Um texto fundamental estudado foi educando o olhar da observação de Madalena Freire (1996), que auxiliou na reflexão do perfil de um gestor que possua autoridade, seja democrático, saiba administrar os conflitos sem levar para o nível pessoal. Conseguir enfrentar cada adversidade sem receio, reconhecer as limitações, estudar as suas atribuições, as normas e leis pertinentes à educação escolar.
Em cada encontro se prevê, na pauta, alguns minutos para que a secretaria possa se manifestar-se, assim como para que cada diretora partilhe com as colegas o que vem acontecendo em sua escola, sobre eventos, projetos, etc. isso faz com as diretoras considerem, sustentes suas falas, suas ideias e socializem as ações positivas que vem ocorrendo nas U.E,s, pois as demandas negativas, o povo e a imprensa, por vezes, levam para as ruas.
Ao mesmo tempo com o GT, tratávamos dos princípios da Rede, das linhas filosóficas e teóricas, dos documentos existentes no sistema: Rede e CME. Criou-se a missão, a partir das discussões sobre o cotidiano, cultura, projeções: “Promover uma educação inclusiva, respeitando a singularidade de cada Ser, proporcionando o desenvolvimento integral do sujeito para que exerça sua plena cidadania.”
            O trabalho com o GT implica nos estudo do GE que, por sua vez, suscitam nas matérias a serem aprofundadas, a exemplo da necessidade de planos na escola, não somente para os docentes, contudo também para as diretoras, que administram a instituição. Questões, como conduzir reuniões, manter registros em dia, respeitar normas e leis vigentes, não somente pela questão ética e organização, também pelas questões jurídicas.
Com relação ao funcionamento do cotidiano da secretaria de educação, também foram feitas algumas alterações, indicou-se coordenadoras para o GE geral e para o GT, ainda coordenação para as reuniões internas e para as reuniões com a assessora, no caso, eu. Assim, verifica-se encaminhamentos mais efetivos. Desde os convites, lembretes, pautas, condução das atividades planejadas.
À medida que o GE refletia a prática à luz de teorias, o GT iniciava um novo estudo, reorganizar a proposta curricular da Rede, atendendo às DCNs e o princípio democrático da participação de todos os docentes.
Passamos a nos encontrar quinzenalmente para que o GT conseguisse se aprofundar, teoricamente, nos seguintes tópicos: Linha filosófica - Teorias de aprendizagem; Conceito de currículo – concepção; Gestão democrática; Planejamento; Avaliação; Metodologia; Perfil docente; Inclusão - diversidade, educação especial; Conteúdos; docência; Educação Infantil; Áreas de conhecimento; Alfabetização.
Discutir sobre proposta curricular, em princípio pensa-se nos conteúdos desenvolvidos nas salas de aula. No entanto, partindo das pesquisas em Moreira, Candau, Sacristan e Santomé, o grupo percebe que é necessário ampliar os estudos, para tanto os temas descritos foram selecionados para matéria do GT, antes mesmo de iniciar os trabalhos com as diretoras e professores. Existe uma compreensão de que uma aula, em uma concepção interacionista, existem vários elementos que não somente alunos, professor e conteúdo. Há que se pensar em quem são os estudantes, o que desejam, como aprendem, qual sua cultura, conhecimentos prévios, entre outros.
 Assim,  paralelo ao GE, o GT estuda currículo e elabora a metodologia para o desenvolvimento com todos. Em 12 de julho, abriu-se para o Grande Grupo a  necessidade de reestrutura da proposta curricular, para tanto a formação sobre currículo, e apresenta-se a proposta metodológica para a condução dos trabalhos.
          Para cada tema a ser estudado ficou uma coordenador/a e uma diretora, após os estudos, produzindo um texto sobre seu trabalho.
Na prática, neste momento foi encaminhado um questionário para todos os docentes para conhecimento de seus conceitos sobre currículo e dos suas aspirações sobre a sua participação na elaboração em uma proposta, bem como como deve ser e conter neste documento, após o processo de estudos.
O trabalho com os dois grupos tem sido muito gratificante, porque se percebe o interesse e comprometimento de cada professora em sua atribuição atual, diretora ou coordenadora. Suas curiosidades, ouvir suas superações.
Para a Formação de fevereiro 2015, com os docentes se prevê desenvolver os temas em forma de minicurso. Elaborou-se um Cronograma para as etapas seguintes: palestras com especialistas para as áreas de conhecimentos, bem como, encontro entre os docentes que atuam nas mesmas séries, e docentes com os mesmos componentes curriculares.
A segurança de cada profissional, diretoras e coordenadoras, é indicador de que estamos em uma caminhada pautada na ciência, na realidade e na confiança. Porquanto, o projeto segue conforme os princípios de colaboração, participação e compreensão dos envolvidos.
Sou muito grata à equipe por partilharem comigo um momento tão importante desta trajetória.

Referências Bibliográficas:

 BRASIL, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. D.O.U.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares Nacionais para educação básica / Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2010.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MOREIRA, Antônio F.. A crise da teoria curricular crítica. In: COSTA, Marisa Vorraber (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

SACRISTAN Gimeno. Currículo, uma reflexão sobre a prática. Artmed. 2000


WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro, reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico. 1996.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CURRÍCULO: PERCEPÇÕES PARA A PRÁTICA DOCENTE




Luana Tramontin[1]
Maria Helena Meller[2]


Resumo

 O tema deste artigo trata das percepções no campo do currículo e busca saber quais os benefícios de se ter um currículo eficaz no campo escolar e como ele vem sendo costurado ao longo do processo de ensino e o papel do professorado frente aos paradigmas do currículo. A arte de educar e pesquisar demonstram formas diferentes de serem manejadas frente às escolas. Por isso a importância em se fazer currículo nas instituições escolares. O currículo é a trajetória, é o caminho que se constitui para cada grupo, em cada realidade escolar. O currículo precisa visar incumbências da realidade de cada instituição. O que caracteriza atitudes curriculares é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação num exercício de pensar, num construir. A pesquisa foi cometida com base no estudo bibliográfico buscando analisar as inovações incrementais do processo da construção do currículo na escola, apresentando-se o conceito de currículo enquanto arte ligada ao desenvolvimento e a percepção que educadores obtêm sobre o favorecimento no desenvolvimento educacional.


Palavras-chave: Currículo. Instrumento. Conhecimento. Formação.


1 INTRODUÇÃO


Ao buscar entender as transformações que o currículo proporciona para escola e seus colaboradores, encontra-se a relação com o cotidiano da realidade escolar de cada povo. Ao longo da história, o homem vem representando a sociedade ou para a sociedade através de um currículo formas de se planejar.
Neste sentido, oportuniza-se trabalhar diferentes segmentos curriculares, se o professorado conscientizar-se que pesquisar e entender o currículo, não só como disciplinas isoladas e sim como um meio transdisciplinar, para então trazê-lo como caminho a ser percorrido. Organizar o currículo é atribuir sentido para uma nova prática, ou seja, é possibilitar uma operação entre a intenção e a ação.

Moreira (2003, p. 19) afirma que “o currículo é um instrumento significativo para desenvolver os processos de conservação, transformação e renovação dos conhecimentos”.

Tendo em vista, as possibilidades que o currículo propicia para a prática escolar, o presente artigo é tecido, visando evidenciar a importância de se conhecer e fazer currículo na instituição escolar.

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica como metodologia, onde os autores abordam e ampliam a discussão da temática. “a pesquisa parte [...] de uma dúvida ou problema e, com uso do método científico, busca uma resposta ou solução” (CERVO; BERVIAN, 2002, p.63).

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos [...] busca conhecer e analisar as contribuições culturais existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. [...] constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa científica (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 65-66).

Buscou-se então através de documentos teóricos fazer a evidenciação da atuação do currículo na escola e, relacionar teoria e pratica neste contexto escolar.


2 CURRÍCULO: DEFINIÇÕES


Segundo Andrade (2007) a palavra curriculum possui origem latina e significa curso, rota ou caminho a ser percorrido. Há várias definições de currículo, pois ele deve constituir-se a partir da realidade escolar de cada grupo. Currículo necessita visar incumbências da realidade de cada instituição.

Pensando currículo na perspectiva de conduzir os trabalhos educacionais, pressupõe-se que ele representa a síntese de conhecimentos e valores, pois “o currículo nos níveis de educação obrigatório pretende refletir o esquema socializador formativo e cultural que a instituição escolar tem” (SACRISTAN, 2000 p. 43).

Escola e educadores por meio á pesquisas bibliográficas observam o currículo como uma caminhada construída historicamente, o currículo estruturado e pensado para transcender atividades a serem realizadas pelos educadores e educandos, passa a ser uma caminhada pautada em pilares consistentes atrelados a uma educação qualificada.

O currículo não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas (GRUNDY, 1987 apud SACRISTAN, 2000).

O currículo não pode ser fragmentado apenas a um documento didático, seu aspecto é bem maior e abrange uma gama de caracteres do âmbito educacional e social simultaneamente, essa relação significa uma organização das experiências humanas em prol da prática educativa, porém seu conceito abrange diversos seguimentos da educação.

Desenvolver currículo nas escolas precisa antes de tudo de uma ressignificação de que não é só a escola que detém conhecimento, fatores externos também geram cultura e conhecimento. Esse distanciamento se deve à própria seleção de conteúdos dentro do currículo e a ritualização dos procedimentos escolares, esclerosados na atualidade (SACRISTAN, 2000).

Segundo o referido autor o currículo é o trajeto ao contexto educacional, mas para compreender seu significado devem-se conhecer as estruturas internas que estão ligadas ao enquadramento político, à divisão de decisão, ao planejamento, a tradução de materiais, ao manejo por parte do professorando das tarefas de aprendizagem e a avaliação dos resultados.


2.1 COMPILAÇÃO: A CAMINHADA DA CONSTRUÇÃO DAS TEORIAS CURRICULARES
Nos anos mil novecentos e noventa segundo Moreira (2000) vinculam-se perspectivas para o currículo no Brasil. Estudos apontam que o currículo talvez não mais exista como campo articulado e coerente de pesquisas e praticas. O currículo está minimamente ou quase nada programado para o chão escolar, teoria e prática não condizem com a realidade das instituições escolares.

Estudos realizados por Moreira (2000) através de pesquisas com um apanhado de autores visam às massas literárias, porem elas pouco se aproximam dos professores e da escola. Buscam teorias, mas deixam de lado a fertilidade dessa produção na resolução de problemas de ordem pratica.

Precisamos pensar currículo para que de fato sejam favoráveis aos educandos. Segundo Moreira (2000), sabe-se que o conhecimento se constrói em rede. É esta ideia que precisa subsidiar os currículos da formação de professores, tendo-se em mente a prática é construída com conhecimentos apontados por seu próprio desenvolvimento.

A complexidade da questão curricular transcende a teoria e a prática de currículo. Como argumenta Feldman citado por Moreira (1996), a questão do currículo pode ser debatida teoricamente, mas o problema do currículo somente pode ser resolvido praticamente. O sistema nos impõe um currículo fechado a disciplinas, sem autonomia de mudança. Essas ideologias não “podem” ser rompidas, porém educadores devem achar caminhos para driblar o sistema imposto buscando autenticidade no currículo para se fazer na sua instituição escolar.

Não podemos nos fechar ao embate de que o currículo é restrito a listas de disciplinas e conteúdos, passa-se a uma visão de currículo que abrange praticamente todo e qualquer fenômeno educacional, ou seja, o currículo torna-se tudo ou quase tudo (FELDMAN, 1996).

O currículo aberto precisa ser pensado de forma que vise construção de conhecimento e conscientização e que promulgue a importância da escola ser estruturada curricularmente. O currículo deve fazer ponte com a realidade social de cada instituição de ensino, transcrevendo assim, um currículo versátil e que atinja as necessidades escolares.

O mesmo autor comenta que escola e currículo não podem ser analisados sem referência aos contextos mais amplos que os envolvem; bem como de crença na importância da escola no processo de construção de uma sociedade mais democrática e mais justa e sem compreender tais dinâmicas e esferas se inter-relacionam no currículo e na escola. “O conceito de currículo adota significados diversos porque, além de ser suscetível a enfoques paradigmáticos diferentes, é utilizado para processos ou fases distintas do desenvolvimento curricular” (SACRISTÁN, 2000, p. 103).

Pesquisadores promulgam a ideia de que a teoria basta para se fazer currículo na escola. Tais estudos podem ajudar professores a desenvolver à capacidade de analisar criticamente os interesses ideológicos e políticos, buscando vivenciar as teorias na realidade escolar. Assim, o sistema escolar estará construindo currículo no qual teoria e pratica se confrontem e gere resultados positivos, focado em uma perspectiva multicultural, “qualquer tentativa de organizar uma teoria coerente deve dar conta de tudo o que ocorre nesse sistema curricular, vendo como a forma de seu funcionamento num dado contexto afeta e dá significado ao próprio currículo” (SACRISTÁN, 2000, p. 103).

A pesquisa teórica e empírica realizada por educadores e a comunidade escolar junto com uma reestruturação de currículo, pensando na sua evolução nesta caminhada, transformará o currículo em fonte de educação de qualidade.


3 CURRICULO E A FORMAÇÃO DE EDUCADORES: ESTABELECENDO RELAÇÕES


O currículo é um processo de produção direcionado á prática docente, envolvendo a formação cotidiana do individuo. Verificam-se então os entreves do currículo, pois o cientifico nem sempre atingi o dia a dia.

O professor é o principal agente de significância ao currículo. Autores como Sacristan (2000), Moreira (2000), transmitem em suas obras a importância da formação do professor, destacando que o professor não é apenas um executor do currículo como ferramenta e sim um construtor deste subsídio, que baseia a educação. Porém é de extrema importância a formação do professor.

A formação do professor não costuma ser das mais adequada quanto ao nível e a qualidade para que estes possam abordar com autonomia o plano de sua própria prática. Com certeza porque tecnicamente não esteja bem estruturada e desenvolvida, mas talvez também parta do pressuposto que tal competência possa ser substituída por outros meios (SACRISTAN, 2000).

A escola no todo precisa de uma formação/visão para ampliar a práxis pedagógica, para que ela se torne significativa e perpasse para além de um currículo pautado em disciplinas e sim um currículo aberto que percorra os caminhos do saber. Para isso, uma das possibilidades é “educar pela pesquisa” (DEMO, 2002, p.1).

O currículo [...] está estreitamente ligado com o conteúdo da profissionalização dos docentes. O que se entende por bom professor e as funções que se pede que desenvolva dependem da variação nos conteúdos, finalidades e mecanismos de desenvolvimento curricular. No currículo se entrecruzam componentes e determinações muito diversas: pedagógicas, politicas, práticas administrativas, produtivas de diversos materiais, de controle sobre o sistema escolar, de inovação pedagógica, etc. Por tudo o que foi dito, o currículo, com tudo o que implica quanto aos seus conteúdos e formas de desenvolvê-los, é um ponto central de referencia na melhora da qualidade do ensino, na mudança das condições da pratica, no aperfeiçoamento dos professores, na renovação da instituição escolar em geral e nos projetos de inovação dos centros escolares (SACRISTAN, 2000, p. 32).

Em síntese, há um avanço na produção de conhecimento teórico, porém educadores precisam minuciar a teoria para desenvolver uma pratica pautada em um currículo dinâmico, aberto. Sacristan (1998) rejeita o ponto de vista de que a pratica seja diretamente derivada da aplicação ou da adoção de conhecimentos teóricos.
Para Sacristan (1998, p. 34) a razão não pode tanto:

[...]. Não é o efeito da aplicação de teorias cientificas concretas: ou, ao menos, não é apenas nem fundamentalmente o resultado dessa aplicação. Na pratica projetam-se elementos teóricos, mas não se pode compreendê-la somente recorrendo a tais elementos.

O referido autor traz indagações de que o professorado precisa compreender e repensar a articulação teoria-pratica no campo do currículo, para então facilitar o desenvolvimento da capacidade prática. “O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula” (MOREIRA, 2000, p.19).

Freire (1996) também traz indagações de que para se fazer currículo é absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (FREIRE, 1996, p. 14).

O referido autor frisa que o professor é um eterno pesquisador, que aprende a aprender, buscar, ir além do que as escolas propõem, se reeduca enquanto educa. “Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo, educo e me educo” (FREIRE, 1996, p.14).

Enfim, o professor pesquisador detêm o poder de se embasar teoricamente sobre currículo, e transformar em sua pratica um currículo que traga incumbências para a realidade de sua escola, obtendo então um currículo vivo, dinâmico, transdisciplinar, o caminho de se fazer pesquisa.


4 CURRÍCULO E LEGISLAÇÃO


As discussões a cerca do currículo já veem sendo constituídas desde os anos mil novecentos e noventa, mas ganha força com a implementação da LDB que ressalva alguns pontos para se fazer e trabalhar o currículo na escola. Os artigos 26 e 27 da LDB depois de retomada ao texto a conselheira Edla de Araújo Lira Soares pronuncia que:

[...] a base nacional comum interage com a parte diversificada, no amago do processo de constituição de conhecimentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidenciando a importância da participação de todos os segmentos da escola no processo de elaboração da proposta da instituição que deve nos termos da lei, utilizar a parte diversificada para enriquecer e complementar a base nacional comum.

Moreira e Candau (2006) compilam significados ao currículo e constatam que o currículo não é somente grades isoladas, as experiências populares também ajudam a se fazer currículo na escola. Art. 9º § 2º das diretrizes curriculares é constituído por “experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumulados para construir as identidades dos estudantes”.

A partir deste embate agrega-se a politica curricular com a politica cultural, pois o currículo é fruto de um sistema de produção de saberes. As reflexões teóricas sobre currículo preveem os princípios educacionais como referência. Os referidos autores e o art. 11 no inciso V ainda ressaltam que são inúmeros fatores que influência a vigência de currículo na escola tais como, ensinar, pesquisar, valorizar a experiência extraescolar, fazer uma ponte entre os saberes escolares e o entendimento social, um espaço de ressignificar e recriar a cultura herdada.

A revisão teoria a cerca do currículo se faz com riqueza em palavras e argumentos, até ditam meios de como trabalhar currículo nas escolas, mas é, visível que se os professores não tiverem a vontade de investigar, conhecer como em pratica fazer a teoria de currículo, pouco vamos ver essa ferramenta sendo utilizada.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A partir das leituras é possível inferir que no currículo se sistematizam nossos esforços pedagógicos. Moreira (2003 p. 19) e Candau (2003, p.19) escrevem que “o currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos”.  
O percurso histórico revelou que a trajetória do currículo ao longo dos tempos, se deu em busca de desenvolver métodos que possibilitem uma educação transdisciplinar, que evidencie desde os conhecimentos empíricos do aluno ate aprimorá-los com os conhecimentos escolares.

A prática do currículo na escola pode trazer para o educando e toda comunidade escolar mais possibilidades de descobrir, questionar e opinar as situações vivenciadas no dia a dia. Além de se tornarem seres pensantes e pesquisadores, desmistificando aquele currículo em vitro, sem rupturas e dando espaço para um currículo dinâmico.

Construir currículo nas escolas obtém benefícios elencados no tecer do texto, mais quanto á construir o pensar currículo em prol a benefícios se propaga o investimento que muitos teóricos e educadores demonstram em querer uma escola viva, com mudanças, sentimentos, criando e recriando.

Esta pesquisa teve o intuito de compreender o currículo, suas funções e seu significado, há de se considerar que as escolas, além do sucesso escolar, devem ser estruturadas e planejadas para garantir o uso e a eficácia do currículo na escola.

Por fim, tece-se que é necessária a formação e a pesquisa por parte dos educadores, para que possam ouvir a voz dos alunos e da comunidade escolar e social, transcrevendo um currículo como ferramenta educacional.


6 REFERÊNCIAS


CANDAU, Vera Maria (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.


CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. 5 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.


COSTA, Marisa Vorraber (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Currículo na Contemporaneidade: Incertezas e Desafios. Cortez, 2003.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa (Org.). Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, 1997.


MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação.  2003.


PERES, Annabel Cristini Feijó et al. Trilhando os caminhos da transdisciplinariedade: uma experiência de ser-sendo. 1 ed. São Paulo: Laborciência, 2007.


SACRISTAN, Gimeno J. O Currículo, uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.




[1] Pós-Graduanda em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. E-mail: lutramontin@gmail.com
[2] Mestre em Educação. E-mail: mhsmeller@gmail.com